Antes: Arthur Versus Tiago: Homofobia internalizada

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O meu relacionamento com o Tiago alcançou um mês e pouco de vida e só uma certeza pairou entre nós: Precisávamos fazer sexo!

Já tínhamos saído juntos, ficamos de pegação, vivemos bons momentos, maus momentos, brigas, reconciliações, carícias e críticas. Muitas DR também. Só uma coisa não foi vivida: O tal do sexo.

Como eu já devo ter falado em algum momento (ou não),  pra mim em um relacionamento, três coisas contavam: Sexo eraé a terceira. Não era a mais importante, mas era importante. Afinal, sexo é o ápice, é o teste final se toda a química faz sentido. Claro que se fosse ruim, não iríamos desistir. Mas se por cinco vezes seguidas fosse ruim, não teria nem o que dizer, significaria que não rola.

O grande problema com o Tiago era seu preconceito. Ele chegou a me dizer coisas horríveis sobre sua repulsa ao universo gay, sobre como não fazia parte desse universo e considerava-se meio que superior a tudo isso por ser bi e até chegou a citar pessoas que vão a barzinho na república como "passivonas". Muitos desses termos e manifestações já me fizeram crer que nosso relacionamento não iria longe. Eu não ia namorar alguém que não se aceitasse como gay e se acha melhor que gay por ter diferentes comportamentos .

Escutei diferentes opiniões sobre tais manifestações:

Fulano: "Na boa, eu já tinha terminado. Você deixa esse cara te tratar assim, isso é errado. É muita mancadinha."

Segurança: "Ele sofre de algo muito frequente para pessoas mais novas como ele: É o chamado MEDO da exposição. Ele viu coisas que não gostou e que não quer para si. Acho que trabalhando ele, você consegue uma coisa legal! Sinto que ele tem muitos medos com relação ao que é..."

Ed: "Você mereceu o que ele disse. Ele só pagou com a mesma moeda tudo aquilo que você fala dele. Aqui se faz, aqui se paga."

Tínhamos o racional, o emocional e o prático. Considerando a opinião de cada um, comecei a tentar trabalhar a pessoa, mas sabia que não teria muita paciência nesse quesito. Queria alguém que se aceitasse e gostasse do que é, e que não tivesse medo de entrar em barzinho e de sair comigo assumindo ser o que somos. Isso não podia exigir dele, rapaz novo, confuso e cheio de medos.

No domingo seguinte, fomos ao parque da água branca e depois de muito caminhar (sob algumas reclamações dele), seu celular tocou. Era seu melhor amigo (o equivalente ao que o Fulano é pra mim) e eu falei um pouco com ele. Pareceu uma pessoa legal. Já vi fotos, e o Tiago parecia meio que pagar um pau pra ele. Cara bonito, cheio de si, dizia que era ativo, ousado e que transava muito (15 vezes numa noite = conversa fiada...), é aquilo que o Tiago provavelmente considerava um homem ideal, ou um gay ideal, aquela pessoa que o inspirava e que o fazia ter tantas ideéias (erradas) sobre o mundo GLTB. Na batalha entre Arthur e o melhor amigo de dez anos do Tiago, Arthur não teria vez. Mil vezes mais fácil trocar o "namorado" do que o amigo. Isso não só era um fato, como seria o que eu faria. Competir com o melhor amigo era impossível. E nem iria entrar nessa briga.

Ainda no parque, eu e Tiago subimos uma escadaria que dava para o segundo andar de um casarão trancado, onde abria as vezes para exposições. E ali entendemos as necessidades incontroláveis que tínhamos de dar o próximo passo. Rolou uma pegação de um jeito como nunca tinha rolado, com uma intensidade superior a muitas outra intensas que tive. Saindo do parque às seis, atravessamos o minhocão, interditado de domingo, e conversamos de vários assuntos, combinando de acabar com nosso fogo na terça.

Chegamos na República e sugeri acabar com aquilo naquele momento, entrar em um motel ali mesmo... Mas estávamos mortos de tanto andar.

O grande problema era: Tiago não era uma boa pessoa. Estar com ele era conviver com a arrogância de alguém que está além de mim, que acharia sempre que era mais do que eu simplesmente pelo fato de ser bissexual. Seu amigo reforçava seu ego bilateral com a pose de ativo viril e poderoso, incentivando-o a manter seus preconceitos. E à distância, não gostava de conversar com ele, pois parecia escrever o que era conveniente, pensava demais.

Quando o encontrava, não sei o que acontecia mas todo aquele ódio que tinha de sua personalidade construída para ocultar seus medos (isso se o Segurança estiver certo) simplesmente sumia. Dava lugar a uma vontade de estar com ele, de querer abraçar e beijar e de se consumir nas chamas, o que aumentava com sua constante esquiva e medo de ser pego.

Quanto mais negávamos, mais aumenta o fogo. Tudo isso era causado pela tal da expectativa...

Então, o sexo era a solução. Seria decretar o fim dessa chama, e tirar a camada que me cegava e me levava a enfrentar a realidade por trás do desejo. Seria determinar se eu queria o Tiago como pessoa ou como corpo. Muitos achavam que eu devia esperar. Mas queria saber logo em que território estava pisando. Seria como abrir meus olhos...


Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now