Nasce a Alice

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Acontece que, ainda na mesma noite, eu estava possuído por essa gana competitiva e, depois de um tempinho, fiquei na porta dos bares na balada até um viado começar a dar em cima de mim. Eu posso chamar de viado, sou um também. Eu me recusei mas o indivíduo veio pra cima agarrando. Ai meu salvador me puxou. Foi assim que, na mesma noite em que conheci o Rony, conheci o Alessandro. Esse era mais parecido comigo, um magricela com cabelos cacheados. Nunca fui muito fã de cabelos cacheados, mas é o que tinha para aquele momento.

— Eu te salvo. – Disse Alessandro quando me puxou, e eu devia ter cobrado isso. Tivesse colocado uma aliança no meu dedo, me namorado e me levado daquela balada, teria poupado oito anos de desilusões, sofrimentos, solidões e putaria pelos quais passei. Mas a Alice nessa história não encontrou seu lar ainda. Como diria o gato: "Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.". Que isso lhe sirva de lição, pobre Alice.

— Obrigado. Que bom que você me salvou. – Que frase tonta, gente, mas tenham em mente que, como a Alice, eu tinha acabado de deslizar pelo buraco. Eu tava me deixando levar na fantasia toda. Deem um crédito, vai.

— E então, quem eu tô salvando?

— Arthur, prazer.

— Alessandro. O prazer é meu. De onde você é?

— De São Paulo, zona oeste. – As pessoas sempre se espantavam em saber de onde eu vinha.

Calculando agora, eu realmente não sei de onde tirava coragem pra fazer aquela viagem. Imagina: pegar o trem da cptm pra São Paulo em um domingo à noite, fazer baldeação de três metrôs, da linha do trem pra vermelha, depois pra azul e depois pra verde até a Paulista, onde ainda tinha que andar quinze minutos. Quando o ratinho só tem como opção o queijo no fim da jornada, ele fica correndo horas naquela rodinha até conseguir. Minha obstinação era igual a obstinação do ratinho.

— Bem longe, né?

— Que nada. Pertinho. – Eu disse, todo arreganhado.

Beijo é uma coisa viciante, assim como competição. Ficar com aquele ali já seriam dois. Quando eu imaginaria que chegaria aos noventa e nove. Gente, que evolução. A não ser que sua perspectiva seja avessa à da quantidade vencendo sobre qualidade. Não sei dizer se gosto ou não do numero. Na verdade não sei se isso importa. Já é patético ter uma lista de homens que passaram por você, imagine ficar devaneando se a quantidade é boa ou exagerada.

Sei lá, gosto da lista como elemento de contemplação, entende? De olhar e dizer o que valeu e o que não valeu a pena. No placar do que valeu, temos Rony como o primeiro beijo e Alessandro como o mais significativos até o momento, sem a pressa do primeiro que devia no mínimo estar em uma competição com amigos que o acompanharam pra balada pra ver quem beijava mais. Depois do papinho rápido, eu e o Alessandro ficamos. Não trocamos telefone nem nada, apenas deixei a balada com o Silva, com um sorriso enorme no rosto. Afinal, novos caminhos se abriam na minha frente.

Como é linda a inocência, né gente. Como a gente é deliciosamente trouxa quando é Alice no país das maravilhas...

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Eai, meus queridos leitores, estão gostando da história? Me digam o que acham do Arthur, e do livro, deixem ai seus comentários e votos!

Estou me sentindo sozinho, gente, vamos agitar isso aqui, hahaha

Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now