Par perfeito ou perfeito se torna?

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—Você seria meu amigo caso não dê certo?

—Seria.

—Duvido.

—Seria sim.

Foi essa a pergunta que eu fiz para o Tiago quase ao final do dia de nosso encontro, e foi essa a resposta que ele me deu. Eu estava avaliado muitos aspectos da relação em que entrei. Podia-se dizer que eu estava gostando dela, apesar de não sentir muito aprofundamento. Como sempre, a inquietude ressurgia das cinzas como uma fênix. Fazendo uma retrospectiva rápida, eu poderia dizer que a frase que o Thinker me falou estava certa: "Eu vivo fugindo de compromisso."

Fabiano: Minha OBI, usei a chegada de minha amiga que não via a anos pra justificar minha covardia e não encontrar-me com ele.

Tom: Usei sua filosofia de vida para criar argumentos que conflitassem com minha filosofia de vida, acarretando incompatibilidade.

Loirinho boyzinho Leonard: Relacionamento fadado ao fracasso. Nunca esperei que ele gostasse de mim e nunca me permiti gostar dele.

Fuga: Após não aceitar entrar no hotel, fiquei com raiva e quis discutir a relação, o que eu sabia ser sua fraqueza e o que o afugentaria. Certeiro.

Carlos: Minha primeira vez: Disse que não passaria daquilo, ainda que ele tivesse interesse. Ele respeitou.

Alvaro: Rapaz da empresa, minha OBI suprema. Por quase um ano, tive esperanças com um hetero quase homofóbico. Medo de ser gay ou de me relacionar? Ambos.

O mais engraçado eram os finais inacabados. Parecia que eu falhava em todos. Parecia que eu interrompia todos, como se cortasse a raiz que pudesse crescer. Como se podasse a erva daninha e continuasse na zona de conforto, abraçando e me confortando na escura solidão (poético e patético).

Nunca amei ninguém, e acho que este era o meu grande dilema. A gente se acostuma a ver em filmes, em romances e em séries sobre o amor, e fica esperando aquilo acontecer. Aquela certeza dos protagonistas de que estão apaixonados e de que vale morrer pelo amor, aquela dedicação dos antagonistas de, igualmente por amor, querer matar, fazer sofrer, lutar incansavelmente.

Ai chega no mundo real, tudo que não queima não é amor, tudo que não se dedica com a vida não é paixão. Então vivemos em busca da felicidade, tão mitológica quanto a pessoa perfeita. Nessa busca, nos deparamos com certas pessoas que, de tão verdadeiras, nos iludem com seu papo, com sua simpatia, nos parecem aquela pessoa certa.

Mas é como um reality show, só que rolando na internet. Quando acordamos, é tarde demais. Sempre foi e sempre será. O coração se parte novamente. Foi o caso do Tyler, o rapaz perfeito que por um tempo ameaçou minha relação com o Tiago. No fundo, Tyler e sua perfeição veio contracenar com a realidade imperfeita de Tiago. Cada vez que o Tiago errava, eu pensava no Tyler, no que estava perdendo, no mito inalcançável, no Unicórnio símbolo da perfeição e da essência pura.

Pura.... ilusão.

Minha mente é foda... eu sempre pensava:

"Por que estou com o Tiago? Seria mais fácil terminar... Seria mais fácil deixar que tudo volte à zona de conforto. Eu não o amo. Eu apenas gosto dele. Gosto de sua companhia. Posso arranjar isso a qualquer instante. Abandone-o..."

Ainda, para ajudar, recebi uma ligação do Fulano, que começou a questionar minha relação. A dizer que eu não o amava e eu no fundo sabia disso... Ele disse que era uma relação estranha, que não via futuro... Não vou nem comentar, mas blz. Isso foi um combustível pra minha cabeça, ficou maquinando uma forma de escapar.

Instinto de conveniência, precisava manter as mentiras sociais. Era mais fácil terminar.

A verdade é que eu sempre tive tendência à infelicidade quando o assunto era vida amorosa. Procurava alguém quando estava só... e quando estava com alguém, sentia falta da solidão, da individualidade e da liberdade.

Dizem que eu sou muito exigente, mas não posso exigir muito, nem sou um padrão de beleza... estou do mediando para baixo, e ainda que quem me conheça a fundo possa gostar (ou odiar, desperto muito esse sentimento também), eu nem posso exigir muito exatamente por esse meu complexo de inferioridade.

Acho homens bonitos distantes da possibilidade de ter relação e acho que por isso mesmo não me ligo a padrões de beleza. Chamo a maioria deles de intocáveis, e de fato em poucos eu consegui algo. Justifico a feiura ou imperfeição como "é o que eu posso ter, já que não posso exigir muito". Autoestima lá em cima, eu sei.

Igualmente o Tiago não era um cara bonito, mas beleza não era a prioridade. Havia outros quesitos a considerar.

É como se minha mente conhecesse o remorso das histórias inacabadas, recordasse a busca interminável dos tempos de solteiro e insistisse pra que eu continuasse sozinho. Minha mente dividida em dois caminhos: Aquele em que eu queria aceitar todos os problemas, enfrentar todos os medos e tentar mudar os rumos da minha história, namorando de FATO... e aquele em que aceitava que, como designer, procurava a perfeição e condenava todo e qualquer defeito.

Não existe pessoa perfeita, a pessoa perfeita se torna? E o medo de ficar sozinho? de ficar velho e sozinho? De quando perguntar aos céus "por que", ele me responder: "Eu lhe enviei as oportunidades, você que não as aproveitou".

Sempre odiei baladas, não queria ter que ir nelas pro resto da minha vida. Certa vez um velho baixinho e gordo tocou no meu braço na pista de dança e eu me inclinei para perguntar se ele queria dizer algo. Ele tentou me beijar e eu empurrei ele. Parecia meu pai, credo.

Fiquei triste com aquilo, com aquele desespero em "pegar" um jovem, de sentir alguém. Eu não tinha nada contra pessoas velhas, desde que se cuidassem para não chegar na velhice parecendo ter o dobro da idade e ainda querendo agir como adolescente (por que pra mim, sair agarrando na pista é coisa de adolescente).

Nunca quis envelhecer só. Eu queria alguém. A ideia de estar só era perturbadora. Mas e quanto a essas chances boas? Pessoas boas que venho descartando por meu perfeccionismo e medo de me aprofundar? Só sei que nada sei again.

Costumo dizer que não tive adolescência. Toda a liberdade e ousadia dela foi perdida por meus complexos. Vivi na ilusão de gostar de garotas sem ter coragem de chegar nelas, pensando obviamente que era feio demais para elas.

Então, eu acabava parecendo um adolescente de 24 anos. Pegava quantos quisesse sem medo (as vezes um pouco), vivendo a vida sem pensar muito (tá, eu vivo pensando) e justificando minha covardia com o "deixa rolar", "não quero me aprofundar" ou no "só estou curtindo".

Olhava no espelho e não via um homem de 24, mas um garoto de 16, com as mesmas ansiedades, medos e irresponsabilidade de tal idade. Não via seriedade em mim. Mas ultimamente meu espelho vinha me incomodado, minha alma refletida clamava por atitude. Minha cabeça me perturbava com o senso de responsabilidade, questionando-me se não era hora de deixar o garoto partir e começar a virar homem... Se não, era capaz de com quarenta eu querer ter vinte, e ai sim me tornaria tudo que mais odiava. A cada idade cabem suas alegrias, restava a mim encontrar as minhas no tempo certo.

Conclusão? Nenhuma, só dúvidas. mas uma certeza eu tinha: EU QUERIAAMAR, E EU QUERIA AGORA, EU ESTAVA PRONTO!! Que viessem as tempestades, que viessem os furacões. Se do outro lado houvesse a pessoa certa, sei que eu seria capaz de enfrentar o mundo por ela, me assumiria e lutaria com tudo o que me coubesse lutar, como um homem. Acho que era o amor que falta na minha vida, tal como as loucuras e a ousadia do amor. Enquanto a vida fosse racional demais, fosse certa demais, sempre existiriam muros e grades...

Restava saber se a pessoa que tinha ao meu lado poderia ser aquela pela qual eu desafiaria o mundo...

Diário de um ex-virgem gayHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin