Pós-Virada: Consequências catastróficas com três punhaladas...

358 40 37
                                    

E se tudo fosse perfeito?

E se aquele garoto fosse tudo aquilo que idealizei em minhas expectativas?

E se um grande sonho se tornasse realidade?

E se eu encontrasse alguém perfeito?

Tudo isso passou pela minha cabeça enquanto eu lia a conversa que tive com o Danilo na segunda feira, através do msn.

Minhas idealizações sobre uma pessoa perfeita e meiga, moldada especialmente pra mim, caíram lentamente por terra pelos rumos daquela conversa.

Eu estava super animado para ir ao cinema com ele na quarta feira e estava combinando no msn. Foi então que ele começou:

—Arthur, eu não quero te enganar... Preciso te pedir que não se apegue muito.

—Por que tá falando isso?

—Lembra que eu contei que achava que namorava?

No sábado da virada, enquanto nos conhecíamos, ele tinha me falado sobre um cara que "achava que namorava", mas que na verdade não estava namorando.

—Lembro...

—Então, na verdade eu estou namorando sim...

Fiquei desconfiado, considerando que no evento ele tinha dito que não estava.

—Olha, Dan, pode ficar tranquilo, se você não estiver namorando e nem estiver a fim de mim, é só me falar, eu vou entender.

—Não, Arhur, não é isso, pode perguntar ao Albano, ele sabe!!

—E por que você não me contou?

—Por que eu curti muito você... mas devia ter sido mais claro...

—É, devia.

—Espero que possamos ser amigos... e vamos sim no cinema.

—Não sei, Dan... Estou assimilando tudo.

—Pode me xingar se quiser...

—Ok, vou pensar em tudo isso e se preciso te xingo depois.

Saímos do msn. Tenho que confessar que nesse instante, algumas lágrimas começaram a insistir em sair. Não por frescura, por ter sido rejeitado ou por estar magoado, mas sim de ódio, por ter sido enganado por mais um cafajeste com cara de santo.

Levei a primeira punhalada...

Conversei com o Albano, que contou que o namoro do Danilo era psicológico, ele achava que estava namorando mas não via o cara há semanas, logo era um namoro em sentido figurado.

Mas se ele estava dando aquele tipo de desculpa, significava que não queria mais ficar comigo.

Manoel apareceu, e eu avisei que não estava pra brincadeira. Ele então foi carinhoso, me ofereceu um abraço e fiquei pensando nele... Fui dormir pensando no idiota que eu era e em como ser gay era miseravelmente ruim, em como eu queria me apaixonar por uma mulher e ter filhos, ser feliz em uma vidinha comum e simples como a maioria dos que eu conheço...

No dia seguinte levei uma bronca do Fulano, que disse que o meu problema era estar usando várias pessoas como estepe: Caso falhasse com o Danilo, eu teria o Manoel, o Tyler, o segurança, o Alvaro... Enfim, eu me apoiava nas pessoas e não me dedicava a uma só. Não me senti nada bem pensando em usar as pessoas como estepe, mesmo por que na noite da virada eu fui o estepe do solitário Danilo...

De noite, encontrei o Manoel no msn, e contei a ele sobre o Danilo. Ele retirou o abraço que me ofereceu. Decidi me redimir: se eu o estava usando como estepe, aquilo tinha que acabar:

—Olha,Manoel , eu sei que te dei muitas esperanças, mas agora estou retirando todas elas. Preciso lhe pedir desculpas por todas as cachorradas que eu fiz. De agora em diante, eu libero nós dois de qualquer possibilidade, pois estamos ambos presos um ao outro e temos mais é que viver nossas vidas.

Claro que a resposta que eu levei não foi das melhores. Ele falou tudo que eu deveria ter falado para o Danilo. Aquilo parecia uma brincadeira de gato e rato, magoando e sendo magoado...

—Vou me esforçar pra não pensar mais em você. Vou esquecer você. E quando você levar vários pés na bunda, se lembrará que eu um dia gostei de você...

Acho que acabou... Mas foi uma bela punhalada...

Dia seguinte, no dia do cinema, conversei novamente com o Danilo. Como estava chovendo, decidimos não ir. Eu devo confessar que estava disposto a tentar algo com ele caso rolasse no cinema, afinal aquele era um namoro psicológico... Mas na conversa do msn, ele deixou as coisas bem mais claras...

—O rolo é maior ainda, Arthur... por que tem um carinha que eu gosto que mora no Rio de Janeiro. Ele veio aqui e ficamos uma vez, e eu quis namorar mas ele não acredita em namoro a distância. Então, combinamos que em junho, quando ele vier fazer a pós em são paulo, nós iremos namorar... Ai vou terminar com meu atual namorado...

Naquele momento, na terceira punhalada que levei, desencanei de vez. Não quero nem amizade com uma pessoa dessas, que usa outras como estepe... Como eu estava fazendo...

A conclusão pra tudo isso é que o universo em que vivemos é instável. Parece que todo mundo está sempre enrolado, vivendo de possibilidades. O que me consola é que aqueles que muito querem, às vezes terminam sem nada. Que não venham chorar pra mim depois, quando estiverem sozinhos... Faço minhas as palavras do Manoel pro Danilo. Um dia ele se lembraria que eu gostei dele, com um gosto amargo na boca. Esse mesmo gosto enquanto escrevo esse texto...

Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now