OBIs: Parte III: Quando a batalha está perdida

535 58 18
                                    

Alvaro não morreu.

Teve alguns ferimentos leves, mas entrou para a caixa, ficando afastado por alguns meses. Mais ou menos de três a cinco meses. Mais fisioterapia.

Eu estava sozinho. Em um setor isolado nos fundos da empresa. Trabalhando com meu pior inimigo.

Meu coordenador agora era um japonês, gente fina até. Ele ficou sabendo que eu tive problemas com o Fausto e até conversou comigo sobre o assunto, pedindo que eu fosse nele se as coisas ficassem ruins de novo que ele resolveria.

Eu e Fausto trabalhamos alguns dias com a colaboração de alguns descarregadores de caminhão, mas na semana seguinte, novos auxiliares contratados especialmente para trabalhar no setor iriam chegar. Sempre na hora de ir embora, Fausto dizia que ficaria mais um pouco,que iria depois de nós. Eu achava é bom não ter sua companhia.

Na semana seguinte, conhecemos Osvaldo. Fausto ficou ensinando-lhe o trabalho inicialmente e logo percebi que o rapaz gostava de uma boa conversa. Fausto conseguia ser simpático com ele ao extremo e deixei os dois conversando. Osvaldo era bonitinho. Na hora da janta, primeiro foi Fausto e depois eu fui jantar com Osvaldo. Nesse momento, os outros auxiliares vieram perguntar o que Osvaldo estava achando do "chefe" Fausto. E ficou sabendo da maioria dos podres dele sem que eu precisasse abrir minha boca.

O que rolou nas semanas seguintes foi uma estranha e silenciosa batalha. Fausto demorava mais do que uma hora na janta e conversava o dia todo, enrolando para fazer seu serviço.

Em revide, eu demorava na janta também, ficava com o Osvaldo de boa, e este aos poucos ia percebendo as folgas de Fausto, sempre reclamando pra mim. Um dia, voltamos da janta e haviam algumas latinhas dispostas perto da entrada. Elas fizeram barulho quando abrimos a porta. Fausto saiu do meio dos Pallets logo em seguida. Provavelmente enquanto jantávamos, ele dormia ao invés de trabalhar.

Osvaldo pedia que eu falasse com o nosso coordenador sobre tais problemas mas eu não podia. Pelo menos não por enquanto. Na hora de ir embora, Fausto continuava lá mais um pouco enquanto nós partíamos.

Um segundo auxiliar chegou. Seu nome também era Osvaldo (que estranha coincidência), mas o chamarei de Silveira, seu sobrenome, para não confundir. No primeiro dia que eu vi o Silveira, falei: "Cara esquisito."

Não falei muito com ele.

Ele e Fausto ficaram trocando idéia sobre a época em que serviram o exército. Mas o Silveira parecia muito lerdão pra ter servido. Até sua forma de falar era mais lenta e mole.

Um dia ele olhou para mim, que quase sempre trabalhava quieto, evitando encrencas, e perguntou se eu era da Congregação Cristã. Confirmei que fui quando era criança.

Começamos então a conversar, ele também era. Ele contou que às vezes tinha um sonho em que se olhava no espelho e via um demônio. Esquisitão. Gostei dele.

Passamos então a ir jantar, nós três, e deixar o Fausto trabalhando sozinho. Ele se isolou por si mesmo.

Acho que foram dois meses naquilo.

Em meio ao processo, ganhei outra atividade do meu coordenador e Osvaldo e Silveira  revesavam comigo, era sempre bom tê-los por perto. Naquele tempo, fiquei conversando com o Alvaro pela internet, o que era bem legal, ele ficava se vangloriando que estava de boa enquanto eu trabalhava.

Foi então que chegou aquele sábado.

Fausto não veio trabalhar no horário. Tive que ir buscar um Pallet com Osvaldo lá na frente enquanto o Silveira ficou trabalhando no setor sozinho. Conversamos bastante com o Jonas , que falou muito sobre o Fausto e sua irresponsabilidade. Ele contou acreditar que algo bom acabaria acontecendo. Eu não tinha esperanças. Quando voltamos ao setor, Fausto havia chegado. Eu e Osvaldo começamos a discutir sobre o que faríamos e ele veio até nós, olhando bravo e dizendo:

Diário de um ex-virgem gayOnde histórias criam vida. Descubra agora