Desencontros e não-encontros

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Não sou bom em encontros. É uma constatação que cheguei graças a experiências não muito agradáveis, que vou compartilhar agora.

Há muito tempo, quando eu ainda trabalhava naquela empresa de logística e adicionei uma colega de trabalho com a qual quase não conversava no orkut. Um ato que em nada influenciou em minha vida. Exceto por um fator: Alguns meses depois, recebi um recado de um rapaz me adicionando. Fabrício era seu nome. De amigos em comum, tínhamos essa colega de trabalho.

Conversei com ele e não sei o que deu em mim, mas perguntei sobre ele e ele confirmou que era gay. Nossa, que coincidência. Demorou o maior tempão e marcamos um encontro no shopping da minha cidade. Peguei carona com minha irmã e consegui chegar atrasado. Quando cheguei lá, ele estava um pouco chateado com o atraso. Ainda assim conversamos e foi bem legal, com direito a selinho no ônibus diante de uma criança sapeca e tudo.

Mas não rolou mais nada, Fabricio começou a namorar e eu meio que o esqueci.

Então, passou o maior tempão e o encontrei no msn. Ele tinha terminado o namoro e decidimos nos encontrar de novo. Marquei na República, onde poderíamos ficar a vontade. Mas então aconteceu uma coisa estranha devido à falta de comunicação: Fabricio morava a duas estações da minha, e marcamos na República. Ao invés dele me esperar, ele foi na frente pra se encontrar lá. Resultado: Eu que achei que o pegaria dali duas estações cheguei na República com quase uma hora de atraso.

Quando cheguei lá, ele estava muito, muito chateado e não queria papo, andamos para cima e para baixo, sem rumo e sem papo, eu com vergonha do atraso e ele nervoso. Então, me injuriei do clima:

—Vamos embora, vai.

Na estação, eu disse que ia dar uma volta. Na verdade não queria voltar com ele até sua estação. Ele partiu. Nunca mais nos vimos...

Desencanei de encontros por um tempo, mas depois voltei a marcar alguns. Marquei um com um cara do orkut e fui com cara e coragem. Cheguei lá e esperei meia hora.... uma hora... uma hora e meia...

Foi meu primeiro bolo, e infelizmente não foi o último.

Depois, marquei um com um cara de apelido Kyee. Fotos bem legais no orkut, cara boa pinta. Fiquei morrendo de medo, por que em algumas parecia um modelo. O encontro foi ótimo. Conversamos a tarde toda, umas oito horas seguidas explorando cada canto de Osasco, ele contou basicamente todos os relacionamentos que teve até então e falou bem mais do que eu.

Sentamos no shopping e seu papo me fascinou. Ele não era daqueles bonitos e metidos sem conteúdo. Gostei muito. Anoiteceu, e morto de tanto andar, acompanhei-o no trem até sua estação, com vontade de fazer daquele encontro algo inesquecível.

Nem rolou. Depois acabamos nos tornando amigos por msn, e foi isso.

O encontro seguinte foi até cômico: Conheci através de um site de relacionamento gay e o cara tinha um papo moralista (clássico) de quem queria arranjar um namorado pra compartilhar a vida. Queria coisa séria. Ahan...

Eu e o Cezar nos encontramos em um mini parque próximo à casa dele.

Naquele dia eu estava impossibilitado de fazer algo, devido a limitações físicas (eu tava com a boca machucada por causa do aparelho) e levamos um papo legal. Ele era bem fortão e depois de um tempo falando dos ex e de quanto ele tinha personalidade forte e era meio louco, começou com insinuações.

—Eu sou só ativo e quando pego alguém... até me descontrolo!!

Eu estava nervoso por causa da situação, morrendo de vontade de visitá-lo em sua casa mas sem poder por causa da minha boca, mas não queria falar isso a ele.

—Sua timidez está prendendo seu sangue no testículo? - Ele perguntou, então, com um ar de revolta.

—Por que?

—Você não está excitado como eu...

—AAhh... rs...

—E então, Arthur... Você vai transar hoje?

—... Não...

Logo depois ele teve que ir. Isso por que queria um relacionamento, cara sério aquele.

Conheci então um cara na estação de trem, o Fê. Ele foi bem ousado, sentou do meu lado e começou a me perguntar algumas coisas. Trocamos telefone, simples assim, e marcamos depois pra se encontrar em Osasco. Mas ali não podia rolar nada e ele pediu que eu entrasse no banheiro ao lado do dele. Entrei, meio que sem entender, e saí depois de um tempo, confuso. Ele falou que achava que dava pra passar por baixo da porta.

Louco por sacanagem, não fazia bem o meu tipo.

Acabamos perdendo o contato (graças a Deus), queria que eu fosse na casa dele, mas eu não quis não. Quando falei de sair para bares, etc, alegou estar sem dinheiro, mas ele trabalhava em Osasco, acho que não queria nada além de sexo.

Conheci outro cara, chamado Roberto, naquele mesmo site de relacionamento, e conversamos por telefone. Foi um papo legal e no final da noite, me ligou e pediu que eu fosse até uma estação depois de minha cidade, pois ele passaria por lá. Eu fui, sai correndo de casa. Cheguei uns cinco minutos depois do combinado e ele não estava lá.

Esperei......................

Este foi meu segundo bolo.

Ele me ligou, alegando que esperou lá, mas que como eu não cheguei, ele partiu e disse pra marcarmos algo no dia seguinte. Quando liguei (é, eu ainda liguei) ninguém mais atendeu.

Não entendo a lógica de certas coisas, acho que para algumas pessoas é legal tirar os outros de casa e se divertir com elas sendo feitas de palhaças. Cada vez que isso acontece comigo, fico mais convencido da falta de seriedade desse universo. É triste na maioria das vezes.

Desencanei. Parei de procurar por encontros. O desanimo me dominou.

Foi então que ele surgiu.

Thinker.

Um dos leitores de um antigo blog meu. Papo muito legal, procurava o que rolasse com direito a algo sério... senti que a coisa nele era diferente. Depois de desmarcar em um fim de semana, tudo ficou certo para nos encontrarmos no sábado.

Fui encontrar o pensador.

E esperei, esperei....

Mais um bolo? Dessa vez não. Em casa, ele me disse no msn que me ligou a tarde, pois teve uma urgência familiar e não pôde comparecer. Haviam ligações no meu celular, que por não saber de quem eram, eu ignorei. Então não tinha nem como.

O fato é que o incerto a tudo permeia. Não enxergo possibilidades à curto prazo em relação a homens. Uma pena.

Voltando do encontro não acontecido com o Thinker, comecei a pensar em me afogar nos meus trabalhos pessoais, forma clássica de sublimação, e deixar todo esse investimento de lado. Consegui por anos, mesmo não tendo sido feliz na maioria das vezes.

Será que poderia haver felicidade em abrir mão de algo tão essencial como o amor? Como o afeto? Não sei se quero descobrir, mas o mundo costuma querer me provar que estar só é minha única opção.

Não que eu me importe em guerrear contra o mundo pra provar que ele está errado... mas às vezes cansa, às vezes depor as armas não é um sinal de fraqueza, mas de bom senso...

Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now