Velhas incertezas em tempos de agosto

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Agosto... O mês das sombras, da angústia e da morte. Sempre houve uma lenda local sobre o mês de agosto. Notícias ruins chegam nesse mês agourento. É o mês que dizem ser o mais comprido do ano. O estigma de agosto começou a revelar-se cedo naquele ano.

No domingo, omingo fui com meu amigo da facul DVD (o único que chamava de amigo na facul, mesmo sendo hétero e não sabendo de mim) ao Animamundi, evento de animação que foi sediado na Barra Funda e ele levou sua prima (linda) e o namorado dela (mediano, mas simpático). Não gostei muito de não ser avisado que eles iriam mas tudo bem. O evento foi bem legal, porém eu quis ver um pacote de filmes e a dupla de intrusos não quis. Pra não fazer desfeita, acabei indo junto com eles só pra ouvir a pérola da prima dele:

—Ecaaaaaaa.... que nojo... Duas mulheres se beijando...

Revoltados, eu, o namorado dela e o DVD lhe chamamos a atenção:

—Baaaah, é normaaaal, larga a mãoo!!

—É século 21!! Acordaaa...

Fiquei até feliz com a reação do DVD. Mas queria ter visto a animação...

Na segunda, não teve aula. Fui ao médico remarcar uma consulta e passei raiva quando descobri que era para eu retornar com os exames que fiz na semana passada. Depois, no msn, tive uma discussão com o Tiago e nos desentendemos feio.

Na terça, tive meu primeiro dia de aula com uma professora chatérrima que também coordenava estágios e que soltou a sentença:

"Quem não fez estágio ainda... está ferrado."

Além disso, ela passou um trabalho pra semana seguinte, onde teríamos que nos levantar e ir lá na frente nos apresentar e dizer no que somos melhores em Designer, a pergunta mais crítica que eu poderia receber naquele momento, já que as dúvidas batiam cada vez mais naquela reta final de facul (na qual me formaria no fim do ano, sem muitas perspectivas).

Como se não bastasse, encontrei na facul a Bette (aquela minha "colega" que me considera amigo, com a qual estudei desde o pré). Eu marquei meio-dia no msn com o Tiago pra gente decidir o que faríamos naquela folga dele,  e eu tinha que ir logo pra casa ficar online (nessa época não existia celular cheio de internet). Ela me pediu pra esperá-la ir na secretaria.

Esperei.

Depois ela pediu pra eu ir no último andar com ela.

Eu fui.

Após conferir LEEEEERDAMENTEEEEE o que queria no local, ela pediu pra eu descer de novo com ela, e eu disse que tinha compromisso.

—Não me deixa ir embora sozinha, vai?

O caminho dela normalmente era de ônibus, mas se ela fosse comigo, iria de trem, andando 15 minutos. Resolvi esperar, inventando uma desculpa pro Tiago (já eram 12:45). Na saída, ela olhou no relógio e disse:

—Ai, Arthur... não vai dar tempo de ir com você... Entro às duas no emprego...

Ódio. Ódio mortal... Tudo isso no 3° dia de agosto...

Uma série de pequenos eventos acabou destruindo as chances de passar mais tempo com o Tiago e gerou várias brigas entre nós em poucos dias. Brigas que me fizeram avaliar o relacionamento e se eu de fato conhecia a pessoa com quem euestava . Não vou ficar dissertando todos os problemas pra isso não virar uma chatice, então resumindo:

O Tiago não sabe tomar decisões ("Escolhe o lugar que a gente vai...")

O Tiago não tem outro dia de folga senão terça (ótimo dia pra sair, só que não)

O Tiago não entra em barzinho (nem gosta de beijar na rua, nem no Tatuapé, nem de ir na República).

Conclusão: O Tiago não está pronto para se envolver com homens.

Segundo o Tiago, eu também tenho certos problemas:

Eu sou reclamão e briguento.

Eu mudo de opinião muito rápido.

Meus problemas não atrapalhavam nossa relação. Já os dele praticamente anulavam nossas possibilidades. Eu disse que ele não estava pronto para ter um relacionamento com um homem enquanto caminhávamos naquela tarde, mais precisamente às cinco da tarde no parque Vila Lobos, um frio de lascar.

Nos sentamos em um banquinho, quase congelando, e ficamos namorando como se fôssemos livres de todos os preconceitos do mundo, que sensação boa... O encontro, que era para ser mais uma DR, foi bom em diversos aspectos e esclarecimentos. Colocamos na mesa tudo que vinham nos atormentando. Cheguei então a uma conclusão: Conversando, a gente se entende muito bem. O segredo é sempre a comunicação. E o melhor: olhei pro Tiago e me peguei pensando: Pow, eu gosto desse carinha... Isso é uma coisa boa, considerando que pela fúria que eu estava horas antes no msn (com direito a palavrão que quase não falava) só faltava a gente se engalfinhar na rua.

Pendências resolvidas? Longe disso...

Certezas pro futuro? Nenhuma...

Agosto seria um bom mês? Só o tempo diria...

Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now