Pré-Virada Cultural: Homem livre

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Aqui em São Paulo, sempre acontece um mega evento chamado VIRADA CULTURAL. Das seis da tarde de sábado às seis da tarde de domingo, vinte e quatro horas da mais pura cultura. Combinei com alguns (novos) amigos de ir nela, mas antes, eu iria uma feira de estágios no parque do Ibirapuera, um evento gigantesco. O objetivo era arranjar um estágio. O evento seria sexta, e no sábado, depois das seis, começaria a grande saga da Virada.

Na sexta, saí de casa umas duas e meia, três horas, não lembro bem, e dormi no trem.

Acordei entre a lapa e a barra funda, e então avistei um rapaz bonitinho; fiquei olhando disfarçadamente, como quem não quer nada, e até pensei em passar minha estação caso todo mundo descesse do vagão.

Mas entrou um cara bem horripilante e decidi descer na barra funda mesmo.

O bonitinho desceu junto e então andamos meio lado a lado, eu desacelerei o passo. Olhei pra ele, ele olhou pra mim e falou:

— E ai...

Respondi, perguntando o nome: era Ronaldo.

Estava voltando de seu estágio no banco, e pedi o telefone dele.

Trocamos telefones, garoto simpático, pedi pra ele ligar mesmo, e ele falou:

— Não só ligar, neh.

Depois disso, segui viagem para a feira do estágio.

Sempre que vou nesse parque, tenho vontade de morar lá, é muito delicioso. Caminhei muito até chegar lá, e mais vinte minutos até chegar na área do evento.

Era cada cara bonito pra admirar. Eu dividia os homens em duas classificações básicas:

Aqueles que admirava a beleza e aqueles que efetivamente tentava algo, que eu gosto, que são mais comuns. Não curto cara bonito pra ficar por que sei que a relação não iria longe e que eu ia sofrer com insegurança e morrer de ciúmes.

Mas enfim...

Cheguei na feira de estágio, evento lotado, bem legal. Caminhei um pouco até achar um estande 3d, onde me acomodei e assisti uma palestra de dois professores falando do programa de modelagem 3d Maya; fiquei fascinado, sempre tive vontade de aprender 3d, já até fiz curso mas um amigo de faculdade acabou "destruindo meus sonhos", mostrando pra mim que o que eu fazia não era suficiente.

Depois, fui a uma palestra chata de mais de uma hora sobre como sobreviver em uma empresa, gozado que fiz tudo ao contrário na empresa que eu queria que me mandasse embora...

Era daquelas palestras onde o próprio palestrante é daqueles obcecados em agradar a empresa e que esquecem o humano por detrás de um funcionário.

Saí do parque às oito da noite, muito legal a noite, mas não vi movimento gay como disseram que tinha. Seria um mito?

No dia seguinte, teria a virada cultural, ai sim a coisa iria ferver.

Quando estava voltando no trem, morto de tanto andar, comecei a ler alguns materiais que ganhei lá. E um deles me chamou a atenção. Uma matéria em uma revista escrita por Marcelo Sando, um filósofo, andarilho e escritor que ganhava a vida viajando e escrevendo sobre o que via e quem via. Maravilha de emprego. Em um trecho, ele citou uma frase de Rousseau:

" O homem verdadeiramente livre apenas quer o que pode e faz o que lhe agrada."

A frase me atingiu com um tapa na cara, já que eu estava pensando em continuar na logística por causa da dificuldade de arranjar emprego como designer. Mas design era o que eu amava, e aquilo só podia ser um sinal do destino.


Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now