"Wicked Games" 12. Capítulo

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-Deixa-me tentar adivinhar...Não estás com vontade de descer...

O meu irmão estava ali atrás de mim, com o seu fato previamente adquirido pelo meu pai e que lhe assentava formidavelmente e o fazia ainda mais resplandecentemente do que o que já era naturalmente. O cabelo loiro pendia-lhe sobre a face, ligeiramente encaracolado e ainda um pouco molhado do banho. Os olhos pareciam ligeiramente acinzentados... Os olhos mostravam a mesma compaixão que haviam mostrado no dia anterior. As suas faces estavam rosadas e faziam-se sobressair sobre a pele pálida.

-Nenhuma mesmo... Prefiro não ouvir perguntas sobre algo ao qual não me apetece minimamente responder.

-Eu entendo... Tenho medo...- Esta última confissão de Tate veio em forma de sussurro.- Eu não sei mentir e não quero que me façam perguntas sobre de onde venho... Estou um bocado deslocado...

-Porque é que dizes isso?

-Pensas que não sei? Que vim apenas por acréscimo?-Questionou cabisbaixo e a média voz- O meu irmão é que ia ser originalmente adotado pelos teus pais... Eu vim por pena. Ninguém quer um gajo marcado e com a minha idade.

-Não digas isso... Os meus pais gostam de ti!

-Não digo o contrário, mas não digas que fui desejado da mesma forma que o Jonathan foi.

Não podia contrapor aquelas palavras porque eu sabia que se o fizesse estaria a mentir. Eu sabia o porquê, eu sabia qual o real motivo para os meus pais terem decidido adotar Tate também. Limitei-me a ficar em silêncio e olhar para o chão.

-Que dizes de irmos embora daqui?

-O que?- Fui completamente apanhada despercebida- Para onde queres ir Tate? Está a nevar lá fora e tão perto não existe nenhum local onde possamos ir.

-O teu pai ontem falou-me de um estaleiro abandonado onde ele guarda as tralhas da família aqui dentro da propriedade. Não é um bom sítio?

-Por acaso até não – Sorri- Está praticamente destruído por causa do mau tempo....

-Vá lá Miss. Perfeição! Fazemos uma guerra de neve!

-Tu tens a certeza da tua idade? Suspeito que és uma criança autêntica. – Sorri entre os dentes tentando manter ao máximo a minha expressão mais sarcástica possível.

-Certeza absoluta, mas quem te diz que não é esta criança aqui que te faz fugir deste inferno?

Não podia deixar de concordar com ele. Por muito infantil que fosse fugirmos para uma guerra de neve, tudo era melhor, pelo menos naquele momento, do que descer aquelas escadas.

Acabamos por, dificilmente, sair da mansão pela janela ao fundo do corredor dos quartos. Caminhamos dificultosamente pela neve espessa em direção ao celeiro que se encontrava a alguns metros de distância da casa.

Quando entramos, um cheiro a madeira molhada e um frio profundo que quase nos cortara a respiração. Dado isto, acabamos por decidir que de facto aquele não era o melhor esconderijo possível.

-Que tal a estufa?- Questionei. Sinceramente não sabia como um local tão incrível não me ocorrera antes. A estufa ficava entre as primeiras árvores, cobertas de neve branca, da pequena floresta que cercava a mansão. Era um local totalmente construído em vidro duplo cristalino e ferro. O seu interior era húmido e extremamente quente devido a algumas espécies raras que a minha mãe mantinha no seu interior. Era um local que parecia saído de um conto de fadas pelo modo como fora decorado com as suas cadeira de palhinha, o rádio estilo ano 90, e as trepadeiras de rosas selvagens que enfeitavam as paredes de vidro.

Quando entramos, subimos um pequena escada em vidro e ferro que o meu pai construira para que a minha mãe pudesse desfrutar das suas plantas, depositadas no andar inferior, ao mesmo tempo que desfrutava do seu chá típico no pequeno andar de cima. Sentamo-nos confortavelmente nas cadeiras e aproveitamo-nos do rádio, que tocava um dos meus CD'S favoritos. Foi então que Tate retirou um maço de tabaco novo do seu casaco, abriu-o, colocou um cigarro elegantemente nos lábios e acendeu-o. De seguida passou-me um para mão e acendeu-mo com o seu isqueiro.

-Há quanto tempo fumas?- perguntou.

-Algum... Desde que a escola se tornou insuportável para mim...

-Insuportável? Porquê?

-Não me consigo integrar nada bem... Já tentei fazer amizade com as miúdas da minha turma e acabei com um lábio aberto e um olho negro. Elas são tão desprezíveis... O tipo de miúdas que se interessam por quem se vestir melhor e fizer parte das melhores festas.

-E os rapazes? Também são insuportáveis?

-Hum... Descobriram que era virgem e tentaram violar-me nas casas de banho.

-Eles o quê? Os teus pais sabem disso?- Tinha uma expressão incrédula no rosto e olhava-me perplexo.

-Claro que não... Achas que lhes ia contar isto? Mesmo que contasse suspeito que não lhes ia interessar muito.

-Mas quando tentaram.... Fizeram-te alguma coisa?

-Não... Eu bati-lhes.

O seu olhar passou de perplexo a um misto de orgulho e riso. Aproximou-se, levantando-se, e abraçou-me, puxando-me para o peito dele. Deitou a cabeça no meu ombro e sussurrou «linda menina. Prometo que nunca mais te vão tentar tocar Violet».

Não sabia como reagir. Os meus olhos encheram-se de lágrimas e desatei a chorar baixinho encostada ao peito dele. O braços dele envolveram-me com mais força ainda.

Do nada, colocou a mão dentro do bolso e puxou o eu maço de tabaco.

-Que vais fazer?

-Sentou- se À minha frente e retirou de dentro do maço uma barra pequenina verde escura com um cheiro intenso.

-Onde é que arranjaste isso Tate? Se te apanham com isso aqui em casa matam-te!

-Calma princesa. Confia em mim. – Enquanto proferiu estas palavras enrolou um charro que acendeu, puxou e me passou para a mão.- Experimenta.

Embora estivesse bastante tensa inicialmente, acabei por me soltar.... Nunca me senti tão... Calma.

-Bem- vinda ao meu mundo Cinderela.

Dito isto rimo-nos.

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