"Wicked Games" 16. Capítulo

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Entrei e senti de imediato uma centena de olhares estranhos se pousarem sobre mim. A sala estava toda decorada em tons natalícios e ao fundo um bonito pinheiro reluzia e convidava a que festividades felizes acontecessem.

E eu ali... Caminhava por entre os convidados, deslocada, perdida. A maior parte dos mesmos eram-me familiares de outras cerimónias de família. Acontece que agora todos me pareciam estranhos. Todos de cumprimentavam e tentavam ao máximo disfarçar (muito mal) aqueles olhares que falavam por si e diziam: «coitadinha...». Detestava estes olhares. Aproximei-me de Tate. Ele, por muito recente que fosse na família, conseguia compreender o que eu sentia porque ele próprio tinha essa sensação:

-Caros convidados, gostaria de ter a vossa atenção. – Solicitou o meu pai da cabeceira da mesa enquanto os convidados, atendendo aquela solicitação se foram sentado na comprida mesa de madeira pesada, elegantemente decorada pela minha mãe. O meu pai permanecia em pé, com o copo de vinho branco na mão e com a minha mãe encostada ao seu peito. Quem diria que aquela criatura sorridente era um monstro por baixo de todos aqueles aparatos, por baixo de todas aquelas roupas perfeitamente engomadas e caras, permanecia o diabo, como o vento. Mas afinal, quem é que iria suspeitar que um Senhor Doutor, psiquiatra num hospital de internos graves seria capaz de tais atrocidades... Mas ainda mais repugnante, era o sorriso da minha mãe, que por baixo dos bonitos olhos verdes guardava a mágoa de ser uma mulher traída... várias vezes... No entanto, ela sempre soube disfarçar bem o que sentia, e sorria encostada ao peito do marido como se a nossa família fosse a verdadeira diretriz de como se ter uma verdadeira família americana, uma família religiosa, feliz, que fazia grandes obras de caridade e que ganhava milhares de dólares por mês. É difícil pensar que uma família assim possa ser asquerosa, nojenta, não é? Aparências iludem. – Espero que esta ceia de Natal vos traga imensa alegria, e em especial, ao Tate e ao Jonathan, meus filhos. E claro À minha filhinha, a minha princesinha Violet.- Olhou-me de um modo que fez todos os convidados sentirem o amor entre pai e filha... Claro que sim... Muito amor.... – E queria em especial, fazer um brinde À minha esposa Ana por suportar esta família da forma maravilhosa com que sempre fez. Ela sim, é a minha maior inspiração e a minha maior força neste mundo. – Só sons de espanto pelo amor e carinho e um beijo entre eles... a raiva que eu sentia era praticamente incontrolável... Não aguentava tanta hipocrisia...

-Tão amorosos...-Proferi em alto e bom som, dirigindo um olhar severo e frio À minha mãe. Como é que ela podia compactuar com isto?

Eles limitaram-se a olhar-me e ignorar-me como se nem tivesse falado... Típico.

Desviei o olhar e deparei-me com Tate, sentado ao meu lado, a observar-me. Ele não precisou de falar. Limitou-se a dar-me a mão sem que ninguém se apercebesse debaixo da mesa.

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