"Wicked Games" 25. Capítulo

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Fiquei em silêncio enquanto o senti abraçar-se a mim. "Tens medo de mim?" Aquela questão não me saía da cabeça... Eu não tinha medo dele. Mas aquelas palavras soaram tão frias, tão sem sentimento.
-Já te apaixonaste? - Começou.
-Não... Nunca. -Sorri elevando o olhar pela janela. - Mas tenho pena... Nunca ter sentido como é ser amada por alguém.
- Se calhar ainda não apareceu o teu príncipe encantado.
- Eu não quero um príncipe encantado. - Gargalhei- Eu quero alguém que se disponha a cometer loucuras e que me adore... só isso. Quero alguém que não tenha medo de nada.
-De que é que tu tens medo Vi? - Ele interrompeu-me e fitou-me, olhos nos olhos. O seu olhar malicioso tinha desaparecido. Voltara à sua forma mais e mais amorosa. - De que é que tens medo? - Repetiu.
- Oh tanta coisa... De que é que tu tens tens medo?
- Não mudes de assunto aldrabona - Riu-se brincando. - Diz me o que é que te dá mais medo?
- Tate eu tenho medo de... - Tentei recomeçar uma e outra vez a frase mas as palavras não saiam. Tinha um aperto no coração. Uma mágoa imperturbável que não me deixava desabafar. As lágrimas subiram me aos olhos e o fôlego começou a diminuir aos poucos e poucos. Estava a tentar segurar as lágrimas o mais que podia.
E bem lá no fundo da minha mente uma pequenina luz de ingenuidade brilhou... O Tate agora vive cá... Ele é meu irmão. Não perco nada em confiar nele.
Surpreendentemente, anos depois de todas as terapias possíveis e imaginárias. Depois de todas as consultas psiquiátricas impostas pelos colégios onde havia andado até então eu consegui ser sincera.
- Tate eu... Eu tenho medo do meu pai. - o choro impedia-me de falar. Soluçava como uma criança enquanto me deixei cair pela primeira vez no ombro de alguém sem me tentar armar em forte. Só queria que me cuidassem.
- Não Vi! Por favor não chores! Não me faças isto Violet... Violet ouve-me. - O tom imperativo mais carinhoso do mundo. Levantei a cabeça do seu ombro trémula. Não conseguia respirar direito. Sentia-me fraca e soluçava como um bebé. - Princesa eu estou aqui. E eu prometo Vi, eu não vou sair daqui. Eu não vou a lado nenhum. Eu estou aqui. - Deu-me a mão fazendo-me enterlaçar os dedos nos dele. - porquê do teu pai?
- Tate eu era muito pequenina... Eu tinha 5 anos, quase 6. E todas as noites era o mesmo. Todas as noites a porta do meu quarto abria e eu tinha de ficar calada enquanto que ele me dava "miminho", pelas palavras dele.... E ele tocava-me e não me largava! - Comecei a não sentir ar nenhum passar na minha traqueia como se estivesse fechada num nó. E os soluços e as lágrimas não cessavam enquanto tentava terminar a frase. - E eu juro que tentei, eu tentei gritar, bater-lhe mas não funcionava! Ele não saia de cima de... A mão dele não parava! E eu rezei tanto, tantas rezas quantas conhecia e pedia a Deus para aquele Inferno parar. Mas ele não parava... ele nunca parava... Desculpa Tate...
Desatei a chorar convulsivamente no seu ombro. Senti-o levantar-me e ficámos ali, em pé abraçados. Os seus braços apertaram-me com muita força. Uma das suas mãos afagava o meu cabelo enquanto eu chorava.
-Porco nojento... nunca mais aquele filho da puta te vai tocar princesa... Prometo-te nunca mais.
Tem calma.

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