"Wicked Games" 36.Capítulo

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-Não digas isso! Tate seja o que for que possas ter feito... 

-Tu não estás a entender Vi... Há coisas que fiz que fiz durante a minha vida que são absolutamente nojentas. Sem perdão. E o pior... é que algumas delas eu não estou minimamente arrependido. Nem um bocadinho...

-Tate... - Comecei a aperceber as palavras dele cada vez mais assustada. Já não sentia como se ele estivesse talvez a exagerar por vergonha ou medo de ser sincero. Começava agora a tomar consciência de que talvez um segredo muito obscuro se escondesse por baixo daquele diálogo. A medo acabei por abraça-lo e aos poucos senti-o acalmar-se junto a mim. - Não precisas de me contar. Não precisamos sequer de voltar a falar deste assunto. Esses são os teus segredos... mas espero que saibas que se algum dia quiseres contar.. eu estou aqui. Sim?

Ele sorriu e levantou-se, puxando-me para ele em seguida. 

-Tu não sentes medo de mim. 

-Queres conhecer o resto da casa? - Ignorei a frase dele. Porque não queria ter de responder? Não. Ignorei a frase porque sentia medo de mim própria por confiar num estranho. Alguém que tinha conhecido à dias e no entanto não sentia medo dele, por muito bizarro que ele fosse. 

Passamos o resto da manhã num passeio calmo pela casa e pelas redondezas. A zona onde moro é extremamente pequena, fora do contexto de cidade. Quase toda a casa está submergida numa espécie de floresta de pinheiros, terreno que já fazia parte da apólice da casa quando os meus pias a adquiriram. Enquanto que era pequenina adorava explorar e acabava sempre por achar esconderijos interessantes em ramos de árvores, casas de materiais abandonadas... Acho que foi das poucas alturas em que fui realmente feliz. Os meus pais quase nunca estavam em casa, então  a minha maior companhia eram as empregadas que cuidavam de mim como se eu fosse filha delas. Sem necessidade de me arranjar convenientemente para jantares foleiros, sem necessidade de andar de lacinho de cetim a prender me o cabelo. Apenas com uma camisola velha e empoeirada com o logótipo gasto da Coca Cola, herdada de uma das empregadas e uma calças de bombazine bordô todas rasgadas nos joelhos das maravilhosas quedas que dava. Contei-lhe tudo isto enquanto passeávamos. 

O único estabelecimento, aberto, que conhecia perto o suficiente para se ir a pé ficava do outro lado da ponte. Ponte essa situada por cima de um riacho (em pleno Dezembro congelado a superfície) que ficava a 20 minutos da minha casa. «Crossroads» era uma bar recatado e sinistro, frequentado maioritariamente à noite por motards. Durante o dia era a espelunca onde estava «estritamente proibida» de entrar segundo a minha mãe. Obviamente, eu cumpro imenso a regra não se nota? Fizemos o caminho a conversar pacificamente. O assunto dos segredos ficou trancado na biblioteca da casa. Não mencionei mais o assunto.

Chegamos e entendi pelo seu murmurar que lia o nome da taberna.

-«Crossroads»? Bem atribuido...- Voltara-se de costas para o bar notando o cruzamento entre a estrada principal e a ruela que levava à mansão. 

-A história deste bar é muito mais irónica que isso... Foi aqui que tocou Robert Johnson, o famoso guitarrista envenenado num cruzamento.

-Sou todo ouvidos. 

Estavamos já sentados no bar onde passava uma música blues anos 30. Apenas a empregada do bar se encontrava na sala connosco, atrás do balcão teclando no telemóvel sem nos prestar qualquer atenção enquanto mascava ruidosamente uma pastilha elástica.

-Conta-se que, Robert Johnson foi o mais bem sucedido guitarrista do mundo. Acontece que alcançou a sua fama graças a uma lenda. Reza a história que Robert vendeu a alma ao diabo no cruzamento destas estradas, com uma garrafa de whisky na mão esquerda e a guitarra na mão direita. Conta-se que lhe apareceu uma mulher toda de branco com um olhar assustador que lhe afinou a viola num tom diferente , que é supostamente, o tom em que se ouve todas as suas músicas. A sua alma foi comprada a troco de fama. E no dia 16 de Agosto de 1938, com ironicamente 27 anos, ele foi ter ao cruzamento tal como se havia estipulado no acordo... Foi encontrado e dado morto por envenenamento com whisky. Diz-se que ele tentou renegociar o seu acordo mas já não havia nada a fazer. O Diabo colheu-o... Há quem diga também que quem o envenenou de facto foi o antigo dono do bar porque aparentemente ele andava metido com a esposa desse senhor. Talvez essa seja a verdade, afinal o homenzinho vendeu o bar pouco depois por perder a clientela e fez questão de lhe alterar o nome para «Crossroads» embora o nome original fosse «Tree Forks»... 

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-Estou surpreendido... Em qual das versões é que acreditas?- Ele questionou-me sorrindo  

-Obviamente a primeira interessa-me mais por ser mais sinistra. - Ri-me baixinho escondendo os pulsos nas mangas da camisola de capucho que trouxera de casa. 

-Disseste à pouco uma coisa interessante... que ele morreu ironicamente aos 27?... Tu acreditas nisso? Acreditas mesmo no grupo dos 27? 

- Não sou apologista de acreditar em coisas demasiado do além ou espiritualistas... -Levantei-me e peguei num taco de bilhar aproximando-me dele. - Mas a realidade é que as provas estão à vista... Kurt Cobain, Robert Johnson, Jimi Hendrix, Les Harvey, Brian Jones ... Todos faleceram aos 27 anos. 

-Ah e por essa ordem de ideias todos venderam a alma aquele do qual não se deve pronunciar o nome ? - Ele acompanhou-me brincando até à mesa de bilhar e começamos uma partida enquanto a conversa continuava. 

-A reputação deles ficou cá para contar a história. Repara que foram todos invejados pelo sucesso extremo... 

-Farias um pacto com o Diabo por esse género de fama ?

-Não sei responder a essa pergunta... Mas se o fizesse pelo menos saberia que não era esquecida. Que não tinha sido mais um vinil de prateleira. 

Ele aproximou-se com a respiração pesada cada vez mais perto do meu pescoço segurando-me pela cintura. 

-Então farias um pacto comigo? 

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