Eu bebo água no meu subconsciente

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Depois de horas dentro daquela van que não tinha nem um ar condicionado, chegamos no acampamento e Fred era o único que não estava suado. Eu estava quase desidratando, Elena não parava de reclamar e Clarice não abaixava o volume daquela música do carro. Quando chegamos, eu praticamente pulei antes que Ares puxasse o freio de mão. Desci correndo para o lago e deixei minha mochila ali mesmo. Quando pulei senti meus nervos se acalmando. As náiades dançavam ao meu redor, com seus corpos brilhando debaixo d'agua. Elas sorriam e passavam as mãos pelos meus cabelos, mas de repente, saíram correndo e rindo muito. Logo depois Fred pulou no lago jogando água em todas as direções.
—Ei, você espantou as náiades.
—Eu causo esse efeito nas pessoas... perai, espantei?
—Sim, seu bobão. Com essa bomba no lago— disse jogando água na cara dele.
—Eu te amo, sabia?
—Eu tinha uma vaga idéia. —disse me aproximando dele e subindo em seu colo. Eu beijei seu pescoço e o corpo dele tremeu, me fazendo rir. Eu encostei em seu peito e de repente, tudo ficou preto.
Eu não sentia mais meu corpo, eu viajava na escuro e no silêncio. De repente eu ouvi Fred gritando meu nome e alguém me pegando no colo. A cada vez que ele gritava meu nome, eu tentava responder mas não conseguia. De repente eu estava em uma sala e um homem estava sentado numa cadeira bebendo um copo de Whisky. Quando eu apareci naquela sala, ele levantou a cabeça devagar e me encarou.
—Oi, você está me vendo? Onde eu tô?
—Você está no seu subconsciente. Você sabe quem eu sou?
—Na verdade não, mas eu não conheço muito gente. Você é um deus?
—Um deus menor, sim. Eu estou aqui para te dar um aviso. Me desculpe por te colocar aqui assim. Mas pelo que eu pude perceber, você está com a marca.
—Que marca?
—A marca grega. Você acabou de desmaiar. Alguém enfeitiçou você, tenho certeza de quem foi e você não vai conseguir acordar até achar o antídoto. Mas tem um problema.
—Além do fato de que eu estou enfeitiçada? Claro que tem mais coisa. O que foi?
—Não fale assim comigo, eu estou tentando ajudar-te.
—Me desculpe, as vezes eu não consigo me controlar.
—O problema é que a única pessoa que tem o antídoto é a minha mãe, Nix. E mais um problema, ela se juntou ao meu irmão, Tânatos. Eles pegaram a chave da sala do troféu de Zeus. Eles se juntaram a Phobos e Deimos. Querem o raio mestre dele para começar uma guerra. É ela que vocês devem procurar.
—De novo essa história de raio mestre? Nossa, só tem isso de arma no Olimpo? Não é possível que Zeus é tão ruim que todos querem acabar com ele e tirar ele do poder.
—Todos querem dominar os deuses. Menos eu, quero distância deles. Mas precisamos acabar com esse plano antes que algo ruim aconteça. Eu amo minha mãe, mas ela não governaria a Terra de maneira justa.
—Mas porquê você me disse isso? Você acabou de falar que eu não vou acordar até tomar o antídoto. Como eu vou fazer para os meus amigos seguirem sua mãe?
—Eu não sei. Talvez nós consigamos fazer contato com alguém do acampamento. Mas você precisa conhecer alguém que vá acreditar em você. Precisamos fazer isso logo, minha mãe está arquitetando esse plano com meu irmão há muito tempo, eles me chamaram também, mas eu não quis me envolver.
Eu sentei ao seu lado e ele me estendeu o copo dele.
—Não, obrigada. Mas eu aceitaria um copo de água.
Ele remexeu o copo e o líquido ficou transparente.
—Como você fez isso?
—Estamos no seu subconsciente, minha área. Consigo fazer tudo aqui.
—Eu sei que pelo tempo que nós conversamos eu já deveria saber quem você é, mas não consigo me lembrar de você.
—Eu sou Hipnos. Deus do sono.
—Então foi você que me colocou aqui.
—Foi a primeira coisa que eu disse. Era isso ou você morrer. Com você desmaiada o veneno da marca corre mais devagar pelo seu corpo. Se eu não tivesse feito você vir pra cá, você morreria em questão de segundos e não conseguiríamos parar Nix.
—Ahn... obrigada então.
—Você já sabe com quem poderia falar?
—Tem o meu namorado, Fred. Eu consigo me comunicar com ele daqui?
—Se tiver o equipamento certo, sim.
—Equipamento? Eu não trouxe nada comigo. Falando nisso, eu estava no lago, como minhas roupas estão secas?
—Só a sua alma está aqui, Priscila. Seu corpo ainda está no acampamento. Espere, vou mostrar.
Ele agitou a mão e uma tela plana apareceu no meio do nada. Ela estava flutuando na direção dos meus olhos. Levantei e fui até a parte de trás dela e nenhum fio aparecia.
—Sente-se. Vou mostrar você no acampamento.
A imagem mudou na televisão devagar, como se fosse um filme e lá estava eu. Deitada numa cama, com um pano úmido na cabeça e as roupas trocadas. Fred estava sentado ao meu lado e segurava minha mão. Alguém entrou e colocou a mão em seu ombro, era Will Solace, chefe da enfermaria.
—Fred, você precisa descansar. Eu fico com ela aqui. Vai para o chalé. Durma um pouco. —Will era tão legal, era o chefe dos enfermeiros e melhor amigo de Fred. Nico estava parado na ponta do acre e olhava para mim triste.
—Não posso deixá-la. É culpa minha, eu não prestei atenção nela durante a missão. Ela desmaiou e eu devia ter voltado com ela.
—Eu fiz uns exames e não teve nada a vez com a missão. Ela foi envenenada há muito tempo, Fred. A culpa não é sua.
—Não posso deixá-la. - ele franziu a testa e apertou minha mão. Vendo aquele contato eu podia jurar que tinha sentido a mão de Fred na minha, mas não era possível.
Will suspirou e deu boa noite a Fred, que subiu na cama e deitou ao meu lado. Quando ele segurou minha mão, eu senti o seu toque mais uma vez. Ele beijou minha testa e eu o senti em meu rosto. Ele me abraçou e fechou os olhos devagar.
—Não vou deixar você ir embora assim, Priscila. Não vou deixar. Você não vai fazer isso comigo.
Ele depois de um tempo começou a ressonar e eu percebi que seu peito subia e descia mais devagar.
—Ele dormiu, o que eu tenho que fazer pra sair daqui?

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