A história de Fred

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Depois de horas andando chegamos na beira de uma nascente com uma pedra enorme cheia de musgo.

-Você tem certeza que é aqui?

-Sim, tenho certeza.

-Sabe o que é engraçado? Eu fui envenenada e Percy foi sequestrado. Alguém tem algum problema com os filhos de Poseidon. Talvez Taynna esteja com problemas também, temos que encontrar Percy e voltar o quanto antes.

-Você está certa. Vamos, a entrada é por aqui.

Andamos debaixo da queda d'água até a junção entre duas pedras. Uma inscrição em grego antigo estava cravada na pedra em cor dourada.

-"Apenas o sangue da cria abrirá". Será que esse lugar é de Poseidon?

-Talvez seja um dos lugares escondidos dele. Os deuses não tem tido muito contato conosco. Poseidon sumiu durante todo o tempo em que você esteve inconsciente.

-Isso é estranho...Mais do que você ficando com todas no acampamento, com toda certeza.

-Ah não, não brinque com isso. Eu nunca me arrependi tanto de uma coisa em toda minha vida. Priscila, antes de nós entrarmos, eu quero te contar uma coisa. Senta aqui comigo, por favor.

Eu encarei seu rosto e sua expressão de cansaço me fez desistir de brigar. Sentei ao seu lado e suspirei enquanto encostava na pedra úmida. Ele começou a falar bem devagar.

-Eu nunca te contei isso antes, na verdade eu nunca contei isso à ninguém. Bom, eu tinha um irmão gêmeo. Ele se chamava Jorge e ele morreu enquanto nós íamos para o acampamento. Minha mãe tinha acabado de morrer e papai mandou um sátiro do acampamento nos buscar. Fomos atacados por uma hidra no caminho e o sátiro e Jorge morreram. Eu demorei mais três dias para chegar no acampamento porque eu me perdi. Eu enterrei eles na base de uma árvore muito grande na floresta perto do acampamento e então continuei a viagem. Papai me ajudou naquele dia, e foi a única vez que o vi chorando. Eu tinha 8 anos. Depois disso eu tive muitos problemas para me adaptar ao acampamento, meus irmãos novos, as meninas que sempre queriam andar comigo, e o fato de que papai não aparecia toda hora. Eu estava sozinho, sem o meu irmão. Eu sempre fui muito reservado, até você aparecer, com esse seu jeito de vida tranquila e cheiro de brisa do mar. E eu me abri outra vez. Quando você dizia que me amava, e eu dizia também, me segurava pra não chorar. Eu nunca amei ninguém como eu amo você, e então você foi embora, eu tentei te salvar e deveria ter tentado mais. Mas eu desisti, foi muita dor de novo, sabe? Era uma dor como a que eu senti quando perdi Jorge, eu me afastei, não conseguia olhar você naquela cama sem chorar. Depois de um tempo fui a uma festa que Will teimou em me levar, lá uma menina, Frankie, me drogou e me encantou. Naquela noite eu fiquei com ela, Karina e umas outras duas meninas. Quando eu acordei no outro dia estava caído no chão do bunker de Afrodite e não me lembrava da noite anterior. As meninas espalharam fotos dos beijos pelo acampamento e contaram a todos o que eu tinha feito. Frankie depois confessou que tinha me drogado, mas não fez as pessoas mudarem de idéia sobre mim. É tão mais fácil supor que o filho de Apolo é galinha. Eu sei que você não me perdoou por isso ainda, e tudo bem, só peço pra você não me afastar. Eu não iria conseguir ficar longe de você.

Fred terminou de falar e secou o rosto que estava abaixado. Eu levantei o obrigando a me encarar e vi seus olhos inchados e vermelhos. Mais uma lágrima escorreu por seu rosto, sequei com meu polegar.

-Obrigada por ter me contado do seu irmão. Eu tenho certeza que ele está nos campos Elísios agora, bebendo coca cola e tomando sol, ou seja lá o que os heróis fazem naquele lugar. Quanto a noite da festa, Will me disse algo sobre você ter sido drogado, mas eu disse que iria esperar você conversar comigo. Eu não estou dizendo que te perdoei, eu ainda preciso de um tempo, mas quero que saiba que eu não ligo para o que ninguém pensa. Você sabe o que eu sinto por você. Eu só preciso de tempo. Tudo bem?

-Sim, é claro.

-Agora para de chorar, porque se alguém estiver ali dentro, eu vou precisar da sua ajuda. Eu sei que devia ter falado antes, mas se eu dissesse, vocês não iriam deixar eu vir. Bom, eu meio que estou sentindo dores em todo meu corpo. Talvez tenha sido de ficar tanto tempo deitada, provavelmente eu estou bem, mas vou precisar de ajuda em combate. Estamos bem?

-Dores no corpo? Espera, quando isso começou. Eu tenho uns remédios aqui comigo...

-Ei, sem surtar. Voce nao é meu medico agora. Preciso de você.

-Tudo bem. Vamos

Fred levantou e me puxou até a pedra. Eu peguei meu punhal na cintura e fiz um pequeno furo em meu dedo. Passei em cima das escrituras e nada. Passei em baixo e nada. Fred procurou e encontrou um lugar para eu colocar minha mão. Quando meu sangue encostou ali, a pedra se moveu sozinha. A caverna ali dentro era escura e eu ouvi gemidos fracos. Quando constatei que era a voz de Percy entre alguns choros baixinhos, Fred acendeu uma luz não sei de onde e eu vi ele preso. Me aproximei e cortei as correntes. Percy caiu no chão aos meus pés e eu beijei sua testa.

-Você acordou...Oi Pri.

-Alguém tinha que salvar você, cabeça de alga. Quem são esses?

-Aqui não, ele já deve estar chegando, vamos todos sair agora. Alice, Josh, venham e fiquem perto de mim.

As duas crianças se aproximaram dele e todos nós saímos dali. Eu cheguei na base do rio onde a queda d'água ia e me concentrei para pedir ajuda. Algumas sereias chegaram na margem e acolheram as crianças em suas costas, eu fui atrás nadando e puxando Fred e Percy. Quando chegamos na margem do outro lado do rio, eu agradeci as sereias e elas se afastaram mandando tchauzinho para as crianças. Eu e Fred praticamente carregamos Percy até a estrada onde pegamos um ônibus vazio para voltar para Long Island. Quando conseguimos sentar nas últimas cadeiras do ônibus eu deixei Fred com as crianças e sentei ao lado de Percy.

-Percy, você está bem? Foi envenenado?

-Não, só estou fraco, Ares estava drenando os nossos poderes, Priscila. Toda aquela missão com os filhos dele, depois nós encontrando com ele no bar de motoqueiros, achamos que ele estava nos ajudando, mas ele era o inimigo. -Ele começou a tremer e então eu dei a ele um pedaço de ambrosia.

-Descanse. Quando estivermos chegando eu aviso. E eu quero saber quem são aquelas crianças.

-Você vai... Acho que vamos precisar de novas camas.

-Não acredito!

-Sim. Alice e Joshua, são gêmeos. Nossos irmãos.

-Ok, agora durma.

Ele fechou os olhos e logo depois já estava roncando. Eu olhei para o lado e Fred dormia junto com as crianças no banco, eu sorri e tentei descansar. A volta era demorada e eu podia fazer uso de um cochilo.

E se? Where stories live. Discover now