Capítulo Dois

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Os olhos castanhos esverdeados me encaram faz cerca de dez minutos. Ela queria respostas verdadeiras, mas tudo o que eu poderia lhe dar era alguma satisfação.

— Okay, se não quer me contar, que continue assim. Só digo que quando precisar estarei aqui, viu?! – disse se endireitando depois de me ajudar a me levantar.

— Obrigada pela ajuda e pelo beliscão. – agradeci ironicamente.

Estávamos eu e Alya dando uma volta no parque que fica a poucos quarteirões da casa dela. Conversávamos sobre assuntos aleatórios, até que ela relembra um momento que eu praticamente havia perdido em minha mente. Naquele mesmo parque, numa tarde de sábado, minha mãe nos trouxe aqui no meu aniversário de sete anos. Tinha trago vários doces da nossa padaria, a maioria era dos meus favoritos. Lembro-me de Alya dizendo que era alérgica a nozes e havia acabado de comer uma torta da mesma. Minha mãe entrou em desespero, mas se acalmou-se ao lembrar que ela também era alérgica e que continha antialérgicos em sua bolsa. Nesse momento de lembranças eu acabei tropeçando num galho de árvore e caindo. Alya me perguntou o porquê de eu estar tão avoada, porém não quis falar a verdade para não coleção meu chororô de novo.

— Se bem que, acho que esse seu lado nunca vai mudar. – disse.

— Você quer mesmo meu bem não é mesmo? – perguntei sarcástica.

— Não me entenda mal amiga, é que eu particularmente amo esse seu jeitinho simples, mesmo depois de... – ela hesitou parecendo escolher bem as palavras a se dizer. – Enfim, você é fofa do jeito que é.

— Vou considerar como um elogio pelo seu esforço. – Rio.

— Mas, enfim, quando você ..... – ela é interrompida por um jovem que passa por ela empurrando-a. – Ei, por acaso precisa de óculos para enxergar as pessoas? – perguntou irritada.

— Droga. – disse o garoto que parecia distraído, e por um momento, me pareceu familiar. – Me desculpe, estou com muita pressa, estava de mudança, só que o caminhão não chegou e... Ah, que coisa. – lamentou ele. Eu e Alya nos entreolhamos.

— Podemos ser útil em algo pra você? – perguntei.

— Não sei se há algo que possam fazer e... – ele deixa sua frase no ar assim que levanta a cabeça e olha para mim. – Hey, você não é a garota da padaria dos Cheng?

— Er, sim, deveria te conhecer? – indaguei.

— Na verdade não, só nos vimos ontem, nem mesmo seu nome sei, na verdade. – respondeu enquanto Alya apenas observava curiosa.

— Ah sim, você é o garoto que chegou no momento em que eu ia trancar a padaria. – ele dá um sorriso meigo.

— Isso. Bem, respondendo a sua pergunta, não tem nada que possam fazer mas obrigado assim mesmo. Espero vê-las em breve. – disse se distanciando de nós. – E mais uma vez, me desculpe pelo empurrão. – disse dessa vez se direcionando a Alya.

— Tudo bem, acontece. Só vai com calma, tá?! – respondeu em conselho. Ele saiu acenando para nós e indo para seu destino, seja lá qual for. – Quero detalhes mocinha.

— Oi? Como assim? – questionei.

— Encontrou com ele, que por sinal é um gato, na sua casa e não me diz nada?

— Ele só queria alguns sonhos e foi no momento que em estava trancando a loja.

— Nem vem com desculpas que eu não engulo. Ele ainda se lembrou de você Marinette. Se eu fosse você ficava esperta, ele pode fazer parte de uma quadrilha de tráfico de órgãos.

— Agora sei porque Nino te chama de psicopata.

— Não sou uma psicopata, pelo amor de Deus. Eu apenas fico de olho nas pessoas, não é em todo mundo que podemos confiar.

— É verdade mas, não tem necessidade que criar hipóteses malucas sobre pessoas que acabou de ver.

— Faz muito tempo que você não vê jornal, não é mesmo?

— E o que isso tem a ver?

— Ah Marinette, as vezes me pergunto como nos damos bem.

— Eu idem. – rimos. — Tudo bem, ambas somos meio doidas. Bom, não quer passar lá em casa? Comer alguma coisa?

— Adoraria, mas não posso. Tenho que cuidar das minhas irmãs assim que chegar em casa. Prometi a minha mãe.

— Pois bem, final de semana você está liberada? 

— Final de semana..... Sim, não tenho nada pra fazer, a não ser a lição de casa de sexta. – revirou os olhos.

— Ótimo, podemos nos ajudar. – astral levantado.

— Até que não é uma má ideia. Faz um tempo que não temos um bom tempo juntas, não acha?

— Por que acha que te chamei pra sair?

— E tinha me esquecido desse seu lado convencido.

— Mas não me gabei de nada, apenas disse que chamei você pra sairmos na intenção de passarmos um tempo juntas.

— É, tem razão. – disse me abraçando de lado. – Hey, que tal comermos alguns churros?

— Onde?

÷÷

Cheguei em casa tranquila, ou era o que eu pensava. Pensei que finalmente conseguiria, mas assim que passo pela porta penso ter visto o vulto da minha mãe passando por mim. Isso me causou náuseas. Do nada, veio a falta de ar, meu coração disparou, uma tontura tomou conta da minha cabeça. Estava ainda no pé da escada, escorregando lentamente até me assentar no chão.

você é a culpada disso tudo, merece morrer mesmo”.

Uma voz dizia em minha mente, porém não consegui identifica-la.

sabe que não vai conseguir viver sozinha, você é uma inútil, sempre foi."

— O que? Mas.... – minha voz falhou. – Quem... É você?

não seja idiota. Sabe muito bem quem sou. Você é fraca Marinette, deveria ter morrido no lugar de seus pais.”

Me levantei rapidamente e fui em direção a cozinha. Peguei uma faca, a mesma com qual me corto todas a vezes e subi para meu quarto.

— Você sai da minha cabeça agora! – gritei, como se fosse uma louca.

ingênua, ninguém te quer Marinette, aceite. Todos que te cercam são falsos, do que adiante viver se as únicas pessoas que se importavam com você morreram?”

— Eu disse pra você sair! – gritei novamente.

Dessa vez, posiciono a faça no meu braço e, com uma certa força, começo a me cortar. As faixas de sangue começam a sair em tiras finas, depois engrossando. Faço mais força, agora causando uma dor intensa em mim, porém não ligo pra ela, não ligo pra mais nada. A voz tinha razão. Sou uma inútil, uma fraca que se prende ao passado e logo apenas pro meu sofrimento. Uma egoísta, essa é a palavra. Continuo aprofundando a faça e me lembro do que disse ontem.

É incrível como tenho uma mudança de auto estima tão rápida. Sim, eu havia decidido seguir em frente, o problema é minha consciência. Penso em todas as vezes que sorri mesmo estando triste, que tentei mesmo sabendo que iria falhar. A luta pode se tornar insuportável, só os guerreiros sabem como é. Nunca achei que a vida fosse um mar de rosas, agora só comprovo minha hipótese. A cor carmesin se espalhava pelos meus braços, derramando instantaneamente no chão. Peguei a faca com  a outra mão e comecei os cortes no outro braço.

Já não ligo pra mais nada ao meu redor, a minha visão se embaça, começando a ficar turva. O sangue praticamente jorrando até o chão.

— Marinette, te chamei lá em baixo mas..... – não consegui discernir quem era, pois já estava fraca, quando eu ia cair e me preparar pra sentir o impacto no chão, dois braços musculosos me agarrando. — Marinette! – a pessoa grita.

Foi a última coisa que ouvi, antes de apagar.

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