Especial Setembro Amarelo

310 20 1
                                    


— Faltam cinco minutos! Cadê a Marinette? – ouvi uma voz me chamar, e logo identifiquei sendo Tikki, a responsável pelo evento no qual vou apresentar. Ou melhor, ser palestrante.

Faz meses que estou ansiosa por esse momento, desde que cruzei com ela por acaso da rua junto de Emma, foi como um sonho, algo surreal. Se me dissessem a dez anos atrás que eu, Marinette Dupain-Cheng, uma garota com depressão estaria prestes a dar uma palestra sobre isso, eu iria rir, para depois ir ao meu quarto e chorar. Nunca pensei que teria um propósito desse tipo, e fico muito feliz em saber que deu certo. 

Naquele dia, cheguei em casa com um enorme sorriso, Adrien não entendia o motivo, e Emma não ligava pra isso, estava entretida demais com o ursinho de pelúcia. Quando contei a ele, sua primeira reação foi me abraçar, me incentivando a fazer isso. 

E hoje, vou naquele palco apenas para incentivar as pessoas de que a vida vale a pena, e estou aqui para provar isso.

— Hey, Tikki, estou aqui! – levantei a mão e ela me viu. Fui andando em sua direção, me desviando das pessoas que apareciam em minha frente agitadas por causa do evento. 

Ela me entregou um microfone, me direcionou ao palco onde havia uma cadeira para me assentar quando eu quisesse. Acho que não seria necessário. Não fiz nada como um slide ou coisa assim, iria apenas falar o que me viesse. Espero apenas me sair bem.

— Ok, as instruções já te foram passadas. Você pode usar o tempo que precisar, e assim que acabar, é só sair do palco. Pelo que entendi, você não quer nada demais nem preparou algo pra nossa produção, certo? – assenti – Ótimo, então, sinta-se a vontade e e arrase lá. 

Ela piscou pra mim antes de sair rumo a algum lugar nos bastidores. Respirei fundo, esperei o sinal e entrei no palco. Havias cerca de trezentas pessoas ali, o local era grande e amplo, um auditório de uma faculdade no centro de Paris. A publicidade dessa palestra foi alta, e sinceramente? Não imaginava que viriam tantas pessoas. Tikki me disse que comumente, as pessoas separam um tempo para perguntas que o público queira fazer. Fiz um planejamento do que ia falar, e nele separei um momento em específico.

Assim que fui para o centro do palco, as pessoas me receberam com aplausos, algo que inflou meu ego um pouquinho, admito. Com os olhos, procurei quem eu mais queria, e o vi ali, com nossa pequena no colo. Dei um sorriso antes de iniciar. Boa sorte, seus lábios se moveram.

— Boa tarde pessoal. Meu nome, primeiramente, é Marinette Dupain-Cheng. Sou daqui de Paris mesmo, e por três anos, sofri com a depressão. E, como esse é o tema da palestra, espero estar a altura dessa função. Agora, quero fazer uma pergunta a vocês, quantos aqui tem a depressão? – ninguém levantou a mão, já esperava por isso – Tudo bem, não quero forçar ninguém, façam da maneira de vocês. Mas, não tenham vergonha. Eu mais do que ninguém sei como é e realmente não é algo fácil de admitir. Então, quero começar contando um pouco de mim. Quando eu tinha quatorze anos, sofri um acidente de carro com meus pais enquanto ia pra casa da minha avó, e infelizmente, meus pais não sobreviveram. Eu fiquei internada no hospital apenas por precaução, já que o cinto de segurança salvou minha vida, só que, assim que eu cheguei em casa, depois desse tempo, eu sentia que meu mundo tinha acabado. Me sentia mal, não queria sair de casa, não tinha vontade alguma de viver. A relação que mantinha com meus pais era algo que eu adorava, éramos próximos e estávamos sempre conversando e rindo, mesmo eu estando numa fase onde os hormônios mudam...bem, daquele jeito. – alguns riram e eu os acompanhei – Tínhamos sim nossas desavenças, mas nada que não fosse resolvido numa longa conversa. Eles eram meu porto seguro, onde eu podia afogar minhas mágoas e rir dos meus momentos desastrosos. Me sentia muito culpada da forma como eles se foram, então foi aí que comecei a me mutilar. Até hoje não sei dizer o porquê, mas era como eu "aliviava" minha dor. Perder eles foi como se uma parte de mim fosse junto, não me sentia mais feliz e aí comecei a me fechar do mundo, e isso com apenas quatorze anos. E não, nenhum dos meus parentes distantes veio me ajudar, contei com a ajuda dos meus melhores amigos, que ainda estão comigo, e daquele que hoje se tornou meu marido. – busquei Adrien com o olhar, ele já se emocionava, e eu sorri por aquilo, era uma sensação muito boa, saber que ele estava ali por mim. – Foram eles que me ajudaram a não desistir da minha vida, de que ela ainda valia a pena. Por um tempo, eu ainda me sentia fraca e totalmente inútil, e não dava a mínima pro que me diziam. Foram longos três anos me fechando ao mundo e guardando toda a mágoa só para mim, toda a história, como foi, o porquê de eu me sentir culpada, guardei isso por três anos. Não foi nada fácil gente, era totalmente sufocante já que eu sentia a necessidade de contar a alguém, porém eu achava que ninguém me entenderia, poderiam dizer que era besteira, que era coisa da minha cabeça e que eu me culpava a toa. Foi uma escolha que eu fiz, por isso estava me matando aos poucos, por não falar, por não olhar em volta e perceber quem queria meu bem. Aos dezessete anos, contei pela primeira vez tudo o que aconteceu naquele dia, e foi como se um enorme peso tivesse saído dos meus ombros. Me sentia mais leve, as lágrimas que derramei me propuseram um alívio imenso, e logo em seguida, fui pedida em namoro. – um coral de "oownt" foi perceptível, e sorri, involuntariamente – Se você que está aqui tem depressão ou conhece alguém que tem, não tenha medo. Sei que há sim pessoas que se preocupam e querem o seu bem. Depressão não é frescura, não é falta de Deus, e nenhuma dessas coisas que as pessoas falam. Depressão é sim uma doença e precisa ser tratada, antes que se agrave e aconteça algo pior, como o suicídio. Aceitei participar dessa palestra porque, eu sei como é, se sentir mal e não ver uma luz no fim do túnel, não encontrar uma vontade pra viver. Eu digo, como alguém que superou, você é capaz, você é essencial, você é o que é mesmo com seus defeitos. Sei que há aqueles momentos em que tem aquela crise existencial, e todas vez que isso acontecer, vai dizer a si mesmo "eu sou capaz, eu sou vencedor e eu vou chegar lá". É um processo rápido? Não. Fácil? Menos ainda. Não é da noite para o dia que vai ter aquela melhora e sua auto estima vai melhorar, é um processo longo e doloroso, que vai valer muito a pena no final. 

New Opportunities {EM REVISÃO}Where stories live. Discover now