Capítulo Nove

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O vento balançava meus cabelos soltos na noite gélida de Paris. O passeio que eu e Adrien demos a algumas horas foi um dos melhores que nós dois tivemos, enquanto ele dormia tranquilamente na sala, eu estava sem sono algum. Dormia de cabeça para baixo, virava de um lado para o outro, até mesmo no chão tentei dormir, mas o sono não vinha. Resolvi, então, vir para a varanda que ficava ao lado do meu quarto, e fiquei refletindo, lembrando para ser mais exato.

Aqui era onde minha mãe me trazia para ver algumas constelações que aprendeu quando pequena com meus avós, ela dizia que se olharmos bem de perto, as estrelas possuíam cores diferentes. Quando eu tinha algum pesadelo depois do acidente, vinha pra cá na esperança de talvez vê-la entre as estrelas, até acenava, na esperança de que alguma brilhasse ao meu favor.

Já meu pai gostava era de ir para a praça que havia aqui em frente, não para observar as estrelas, mas sim as flores. Seus pais eram botânicos, lhe ensinaram várias coisas sobre orquídeas, rosas, margaridas, girassóis, além de alguns tipos de plantas e árvores. Por mais que seja uma praça, a diversidade era imensa, eu sempre prestava atenção no que ele dizia para mim, chegava até anotar para pesquisar depois. Ele sorria, era terno e me transmitia uma paz inexplicável.

Uma coisa que eu sempre indagava para eles e me respondiam com algum tipo de enigma. Minha mãe entendia de astrologia e meu pai, botânica, então, por que abriram uma padaria? "Talvez fosse porque gostavam de pães", respondia para mim mesma, mais tarde pensava que era porque não tinham dinheiro suficiente para uma boa faculdade. Nunca obtive uma resposta exata, mas sabia, que apesar da dificuldade ou qualquer coisa que fosse, eram felizes desde tivessem um ao outro.

— Teve outro pesadelo? – uma voz grossa interrompeu meus pensamentos.

— Na verdade, não. Apenas insônia. – respondi sinceramente.

— Ok, posso fingir que acredito. – disse se aproximando de mim.

— E o que posso pensar de você? – questionei.

— Vim ver se estava bem. Pode não ter notado, mas toda noite fiz isso. – respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo. Franzi o cenho.

— Ainda não entendo essa preocupação toda comigo. – dei de ombros. Por acaso sou mais importante do que a própria família?

— Não digo nada quanto a isso porque você já sabe a resposta. – e enfim, o silêncio. É uma coisa que eu odeio.

Nenhum de nós dois ousou dizer uma sequer palavra. Aquilo me intrigava, ficava criando várias coisas em minha mente, são coisas vãs, tão repetitivas, mas que me incomodam dia e noite.

— Olha, sei que já tentaram várias vezes conversar com você e coisa do tipo, mas, por que não tenta me contar? Desabafar comigo talvez? – ele quebrou o silêncio. Respirei fundo.

— Acontece que, me mantenho calada porque não é uma coisa que consigo dizer em voz alta. Pelo menos não por enquanto - digo com sinceridade - Apenas quando estou sozinha que me sinto a vontade em repassar tudo em minha mente. Não é fácil falar de algo que mudou sua vida, e que foi pra pior. – minha voz saiu num fio na última parte. Minha garganta doía, estava engolindo o choro, não queria fazer aquilo de novo.

— Mari, – ele pôs sua mão em meu ombro. – sou só eu. Não tem câmeras, microfones, nem nada disso aqui. Só penso que, se disser em voz alta vai tirar esse peso de seus ombros. – não respondi, permaneci calada observando a cidade das luzes.

— Hoje não. – afirmo, por fim.

— Tudo bem então. – seu tom era de decepção, talvez por não conseguir o que queria. – Vou tentar dormir novamente. – quando ele estava por entrar novamente em casa, o chamei.

New Opportunities {EM REVISÃO}Where stories live. Discover now