Capítulo 52

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Foi como se ela tivesse dormido por um longo tempo, e então acordou, mas seus olhos não se abriam.

A dor se fora.

O que era ótimo.

A única coisa que Ana sentia era o peso de seu corpo. Tinha ar em seus pulmões novamente, bolhas ásperas descendo e subindo por sua garganta, arranhando.

Ela parecia estar bem. Mas não conseguia sentir as coisas que deveria, nada parecia estar no lugar certo.

Ela deveria estar sentindo dor, certo? Mesmo que tivessem feito curativos, tivessem a levado para os médicos, ainda assim ela sentiria alguma coisa lhe incomodando como pontos por ter sido costurada.

Mas não. Ela não conseguia sentir as coisas físicas.

Na verdade, Ana se sentia submersa, como se estivesse numa boia no oceano cheio de piranhas: ela não podia descer mas só ia para mais longe da terra firme.

Ela não tinha consciência do que acontecia, havia apenas escuridão. Não conseguia se lembrar muito de nada, tudo era como peças de quebra cabeça que ela não fazia ideia de qual encaixava com qual.

Ela se lembrava de seus pais - de como eles eram pais terríveis às vezes, mas também de como eles eram ótimos pais sempre indo às suas apresentações na escola, sempre elogiando quando ela aprendia um passo novo no ballet, ou quando trocava de faixa no karatê; ela se lembrava de Christian também - de como ele era sempre gentil com ela, de como ficava irritado bem fácil também ou de quando ele tocava sua barriga... Sua barriga - ela se lembrou do bebê, do som de seu coração na máquina, do formado perfeito na tela, de quando era apenas um pontinho; ela se lembrou de Kate - de quando conheceu a loira, de quando foram ao cinema, de quando ela contou que estava grávida e a loira gritou dizendo que seria a madrinha; ela se lembrou do seu novo professor de Literatura Moderna - de como gostava dele, de como ele era dedicado às letras, aos livros, de como ele era sábio sempre, de como ele conversava com ela sobre tudo. Ela se lembrava de tudo e de nada ao mesmo tempo.

Era estranho.

As coisas que Ana estava sentindo eram tão diferentes do que aquelas a que ela estava acostumada, que era difícil se prender a uma linha de raciocínio.

Ela se esforçou para não entrar em pânico.

Ela sabia que tinha que fazer alguma coisa, que tinha que se arriscar e pular da bóia. Não sabia porque, nem como, mas ela tinha.

Ana tinha que arriscar.

Havia algo mais importante que a escuridão. Havia algo muito mais importante que o nada. Algo tão importante que a fez finalmente abrir os olhos e encarar o teto branco do quarto de hospital.  

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Eeeeeeeeeeeee 😅😍 viu? Voltei rapidinho, toda ligeira eu 😇 não precisava do estresse todo 😞😌😎

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