CAPÍTULO 8 "INFÂNCIA"

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No fim das contas, resolvemos que pasteis não são lá tão saudáveis e talvez, matariam a fome apenas naquele momento.

-Depois vamos ficar com fome, acredite! -Garantiu Thalel parando em frente da churrascaria -Que tal aqui?

-Ótimo! -Assenti já descendo do carro para que ele estacionasse.

Meu Deus, como que eu devo agir? Eu não planejei isso...

Thalel e eu não tínhamos intimidades, até porque nos conhecemos hoje de manhã. Mas alguma coisa estava errado em tudo isso -ou certa demais-. Ele era simpático, disse que sou legal e que gosta de falar comigo. Tem como não se sentir à vontade? Tudo bem que estou liberando espaço pra ele muito rápido, mas é como disse: Não é sempre que um gatinho desses te leva pra onde você quiser -Mesmo que você esteja pagando.

Entramos no ambiente quente e confortável e nos sentamos numa mesa no canto. Ele de frente pra mim me deixou ainda mais tímido. Era como uma tortura ter aqueles olhos penetrantes em mim.

-Pelos meus cálculos... Acho que vamos nos ver muito ainda, né? -Falou sorrindo me derretendo todo.

-Talvez... -Digo encarando o cardápio -Se meu dinheiro não acabar mais rápido do que pretendo gastar...

Ele então dá uma gargalhada que me fez corar.

-Se você diz... Não sou eu quem vou discordar.

E nisso o assunto morreu -Pelo menos aquele assunto.

Thalel fazia questão de me falar das suas aventuras de quando criança. Das broncas que levou da mãe, e de quando seu pai os deixaram.

-Imagino que ele tenha ido comprar cigarro. -falo não aguentando mais segurar as piadas.

-Ele não fumava... Ah... Idiota! -Essa foi a deixa pra me fazer rir -Muito engraçadinho.

E o assunto retornou à sua infância. Os seus namoros escondidos, os chocolates roubados das mercearias, a primeira vez que ficou bêbado -Nesse meio tempo o garçom já tinha vindo e anotado os nossos pedidos -e eu só escutava.

Conhecer melhor a pessoa que vai invadir as minhas manhãs e provavelmente de vez em quando as noites, estava sendo legal. Havia sinceridade em suas palavras e nas vezes que dizia um palavrão e logo soltava um: Desculpe, Opa, Argh prometo não falar mais.

-E você, não teve infância? -Pergunta rindo.

-Eu só tenho dezessete anos...  E a minha infância foi um pouco conturbada, a história é longa e eu vou te resumir tudo... Okay?

-Okay.

-Tá bom, lá vai então! Minha mãe e meu pai se separaram antes de eu nascer e desde então morei com minha avó... Meu irmão nasceu quando eu tinha nove anos e eu fiquei muito bravo por isso! Meu pai teve milhares de mulheres e eu sempre odiei todas! Não se importe com isso, essa parte até que foi a legal da minha vida, agora é que vem o pesadelo! Eu sempre odiei a minha última madrasta (a Neide) e continuo odiando até hoje... Enfim, a Neide tinha três filhos que moravam com a gente, e no quarto dormiam apenas eu e o Luiz, seu filho que tinha a minha idade... Nunca tivemos malícia um com o outro, e Deus me livre (pelo menos era assim que eu pensava naquela época) conheci um babaca aos treze anos e me apaixonei perdidamente... Ele tirou a minha virgindade e passamos a ter um caso! Enfim, nesse meio tempo, a minha madrasta me pegou transando com o filho dela, largou do meu pai e sumiu para outra cidade! Meu pai e eu voltamos para nossa casa de origem e de lá eu continuei vendo o Babaca durante as madrugadas... O que eu não imaginava era que a minha vizinha da frente sempre me via saindo, e nunca que eu iria desconfiar que ela contaria tudo ao meu pai...

-Ela fez isso? -Perguntou com os olhos arregalados.

-Sim, fez! Tudo bem que não foi culpa do babaca eu ter que me assumir para o meu pai... Foi culpa da minha vizinha, mas se ele não insistisse todo dia em me ver de madrugada, talvez ela não teria visto nada, me entende? -ele assente e continua me olhando. -Do dia que essa minha vizinha disse para meu pai das minhas saídas nas madrugadas, eu jurei a mim mesmo que não iria mais sair com aquele vagabundo! Ele também não quis mais saber de mim e começou a namorar com uma garota... Então meu pai ficou dois meses sem falar comigo e eu também não fiz questão, eu sou muito orgulhoso... Depois de muitos anos sem sequer olhar pra mim, o babaca voltou hoje e disse que queria conversar comigo... Sim, era ele com aquela moto, e eu não sou obrigado! -Dou risada -Meu pai se casou novamente com uma tal de Monica e parece estar feliz! Minha tia está morando comigo até a casa dela estar pronta... Acho que é só isso!

Respiro e observo o garçom trazer o meu pedido.

-Alguma coisa que queira falar?

-Uau... O seu ex foi um filho da... Desculpe, tentarei me controlar.

É, não é tão ruim assim se abrir de vez em quando.
                                  ~•~

O RUIVO DO UBER -ROMANCE GAY- Where stories live. Discover now