CAPÍTULO 27 "PROVOCAÇÃO"

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Entrei em casa e fui voando para o meu celular; havia muitas chamadas perdidas do Enzo e principalmente do Henrique. Eu não sabia para quem ligar primeiro, então decidi pela sorte.

"Quem me ligou por último? Ah, sim, Enzo... Okay, é só retornar, Leonardo!!" -Pensei.

Disquei o número e esperei para que começasse a chamar. Após dois toques, Yasmin atendeu com aquela voz fofa.

-Alô? Quem fala? -Perguntou, então eu deduzi que ela não sabia ler e muito menos prestou atenção na minha foto.

-Alô, minha princesa... Como você está? -Falei com a voz mais doce que consegui.

-Tio? PAI!!! PAAAIIII... O tio ligou para você!! -Gritou do outro lado da linha.

Pude ouvir passos apressados e respirei fundo antes de ouvir aquela voz que me prenderia no telefone por horas se precisasse.

-Léo? Está tudo bem com você? Te liguei muito e você não me atendeu... Imaginei que estivesse de ressaca da noite de ontem!!

-Ãh? Ressaca? Do que você está falando, Enzo?

-Te vi na rua ontem... Você estava meio... Bom... Cambaleava e depois começou a discutir com um rapaz... Enfim, eu tinha ido buscar a Yasmin na casa da avó e acabei por te ver... Eu até que iria te oferecer uma carona, mas você entrou no carro do cara que estava discutindo e então não quis me intrometer!

Aqueles detalhes sórdidos eram as últimas coisas que o Enzo deveria saber. Eu realmente me senti envergonhado e não sabia o que falar.

-Ei... Não precisa ficar tão tenso, beleza? Eu também bebo de vez em quando e acho maneiro as coisas que podemos fazer quando estamos sobre o efeito do álcool...

Houve um silêncio do lado de ambas as partes e eu não aguentei segurar o riso. Aquela frase fora feita por duplo sentido e me fez voltar até a noite passada. Minha gargalhada foi alta e demorada, e quando consegui me recompor, dei uma última puxada de ar e fiquei em silêncio.

-Aiai... Mas então, por que o motivo de tantas ligações? -Perguntei.

-Eu não tinha ideia de pra onde poderíamos ir hoje, então pensei em ir dar uma volta de barco, topa? Yasmin quer ir ver a lancha nova que o meu amigo comprou e eu acharia maravilhoso que você viesse com a gente. -Respondeu quase que num intimato.

-Okay, me arrumo em 10 minutos... Mas antes poderia me responder uma coisa? -Disse já indo pro meu quarto.

-Que coisa? -Perguntou e pude imaginar o seu rosto confuso todo fofo do outro lado linha.

-Vamos ficar só no Rio ou iremos para mais algum outro lugar?

-Ah, bem pensado... Vamos ir até uma ilhota que tem do outro lado da ponte... Serve frutos do mar e frutas que eu nunca nem vi... Mas, por que a pergunta?

-É que eu queria saber se tenho roupa pra isso!

E a ligação terminou com risadas altas e verdadeiras. E foi ao desligar a linha que me perguntei. "onde é que esse homem estava a todo este tempo?" Por mais que sejamos só amigos, e ele não demonstrou nada demais, o afeto que sentimos é com enorme certeza bem maior que a merda da Irmandade.

Corri meus olhos para o guarda roupas e vi uma bermuda que ficava um pouco acima do joelho; sua estampa era do exército. O sapato escolhido foi uma bota preta de cano alto, ela ai até a batata da perna e de camiseta, peguei uma branca com um colete jogado por cima, o colete tinha a mesma estampa do short.

Me olhei no espelho e gostei do resultado, era a primeira vez que um look aventureiro me agradava. Mirei meu celular e vi que Enzo estava na frente da minha casa havia exatos cinco minutos. Passei perfume, peguei o repelente de insetos, protetor solar e uma maçã na mesa da cozinha. Joguei tudo numa bolsa que eu tinha para guardar os livros do colégio -Ela era aquelas bolsas de lado que usamos iguais aos antigos fichários- e sai casa a fora.

O riso no meu rosto foi se desfazendo a medida que eu andava rumo ao portão. O ruivo permanecia ali fora e encarava o Enzo com um olhar amedrontador.

Enzo por sua vez parecia relaxado e sorria com Yasmin. Ela estava dentro do carro e dava "tchauzinhos" de felicidades para mim. O ruivo caminhou até o portão me impedindo de sair e ficou me encarando com o rosto intacto; seus dentes estavam semicerrados.

-Pensei que tivesse ido embora, Thalel... O que está fazendo aqui?

-Eu fui embora, Leonardo... Mas acontece que pensei em te chamar pra sair ao invés de te deixar em casa deprimido... Um irmão não deixa o outro sozinho! -Falou na maior cara de pau.

-Cara, por que você não fecha a sua boca? Toda vez você só fala merda!! -Respondi com firmeza, mas num tom baixo. -Olha ali, ele me chamou para sair e quer a minha atenção... Aquele Zé Mané ali se preocupa comigo e eu estou gostando desse lance novo.

-Eu também me preocupo com você e também quero a sua atenção... Eu não acredito que vai preferir ele... -Disse fechando mais ainda o semblante.

-Não é questão de preferência, Thalel... Eu só tenho um plano novo com alguém que sabe as minhas vontades e agrados... Bom, você escolheu ter o papel de irmão na minha vida, e só lamento te dizer, mas os irmãos nem sempre concordam em tudo e tem mais, os irmãos não compartilham dos segredos um com o outro... Enfim, espero te ver daqui alguns dias, e por favor, haja naturalmente da próxima vez...

Ele ficou calado e saiu da minha frente. Examinou toda a minha roupa e abriu um pouco a boca. Não vou negar, me senti divo naquele momento. Olhei para Enzo e ele estava do mesmo jeito, e Yasmin gritava dentro do carro dizendo que eu estava lindo.

Sorri e dei um tchauzinho para Thalel. Este segurou no meu pulso e me encarou.

-Posso saber ao menos onde você vai?

-Ah, vamos dar uma volta de lancha e depois iremos para uma ilhota comer frutos do mar... Bom, adorarei me isolar do mundo por horas... E pense pelo lado bom, irmãozinho... Segundo você mesmo, ele é um cara que pode me fazer bem... Hahaha, muito bem! -Respondi me soltando e ajeitando a alça da bolsa no meu ombro. -Tchau, irmão!

-Eu acho que estou indo mau arrumado do seu lado, Léo! Que tal passarmos em casa pra eu trocar de roupa? -Perguntou Enzo pegando a bolsa e jogando no banco de trás.

-Você quem sabe. -Respondi sorrindo e entrando.

Estávamos quase saindo quando Thalel entrou no banco de trás e se sentou ao lado de Yasmin. Esta deu um grito e minha reação foi a mais paralisante de todas.

-Acho que vou contigo, maninho... Ordens do seu pai. -Falou me olhando com um olhar de que eu não tinha escapatória. -Prazer, parceiro... Sou irmão do Léo, tudo bom?

Os dois dera as mãos e o mais incrível foi que Enzo sequer ligou. Sorria e até mesmo ofereceu uma cerveja que estava em um cooler aos pés de Yasmin.

Não é possível... Não é possível...

                                  ~•~

O RUIVO DO UBER -ROMANCE GAY- Where stories live. Discover now