O RUIVO DO UBER -ROMANCE GAY-

CAPÍTULO 14 "BAD MOMENT"

Thalel dormiu todo o trajeto. As únicas palavras que ele disse antes de adormecer ao meu lado foi o seu endereço.

Às vezes, quando eu parava no semáforo, ele despertava e perguntava onde estávamos, mas nem tempo de responder dava, pois ele já caia de lado e tornava a roncar.

Assim que chegamos, tentei estacionar o mais correto possível. Desci, rodeei o carro para poder abrir a porta do passageiro, e assim feito, tratei de o acordar para facilitar as coisas para mim.

Olhei para a casa e vi que era um número a menos que ele tinha me dito. Revirei os olhos e observei a do outro lado da rua.

Que... Ótimo!

-Chegamos, Thalel! Vem. -Falei o puxando pelo braço, e ele começou a rir baixinho. -O que foi?

-Eu gosto mais quando você me chama de ruivinho. -Diz olhando para mim e já saindo do carro e fechando a porta com força -Você é de menor e não tem habilitação... Por que fez isso? Não pode dirigir!

Parece que está mais sóbrio agora, não?

-Você é de maior, tem habilitação, se embriagou todo, provavelmente acordou todo o meu bairro e estava dirigindo pronto pra provocar um acidente com qualquer outro louco que esteja no mesmo estado que você! -Disse não me contendo e passando as mãos no cabelo. -Você já pode entrar! Sua mãe não vai gostar nada disso!

-Você não quer entrar? -Perguntou.

Vamos Leonardo! Saia logo daí!

-Você precisa de um banho... Precisa comer e dormir! Além do mais eu não perdi nada lá dentro... -Dou um riso- E fica tranquilo, eu vou pedir um Uber e volto pra casa!

-Um Uber, é? Ou vai ligar pro seu namorado?

-Faça-me o favor! -Disse dando um soco em seu ombro, e eu tenho plena certeza de que ele não sentiu nada -Ele é um conhecido... Bom, pelo menos agora ele é!

-Rum! Falo nada! Vamos fazer assim... Eu vou entrar e vou tomar um banho! Você me espera aqui no carro (já que não quer entrar)... Quando eu sair eu te levo embora! Acredite, eu estou melhor... Esse cochilo me fez bem!

-Tenho alguma outra escolha? -Pergunto.

-Eu não vou arriscar você pegar carona nessa hora da noite com aquele mané da feira! Eu te levo, só me dá cinco minutos!

-Okay.

Entrei novamente no carro -mas desta vez no banco do passageiro- e deitei minha cabeça no porta-luvas e fiquei em silêncio.

-Ah que tédio desgraçado! -Digo olhando para o toca-cd. -Uma musiquinha cairia bem...

Apertei um botão que eu adivinhei ser o que ligava e então começou tocar In The End - Link Park. Uma ótima música.

Respirei fundo e deixei que a melodia invadisse meus ouvidos e passeassem por meu cérebro. Meus pés dançavam e meus lábios se moviam lentamente até acompanhar a letra.

Que loucura... Que vida bosta! Argh!

Qual o meu verdadeiro propósito? Para que eu ganhei a vida? É tudo muito louco! O mundo é grande demais para os poucos anos que terei pela frente! Eu já tenho dezessete e nem sequer me lembro do que fiz durante esse tempo, mas com certeza a resposta seria NADA, assim como a maioria das pessoas que não fazem coisa nenhuma a não ser matar o nosso velho Mundo. É triste saber que um dia deixarei pessoas chorando enquanto estarei dentro de um caixão com os olhos fechados, sem ao menos poder dizer um ADEUS.

Por que diabos estou pensando nisso? Okay, eu não sou uma pessoa feliz, eu sei.

E o jeito que eu achei de esconder isso, foi sendo sincero com todos e falando tudo o que penso. Doa o que doer.

Ah que droga, Leonardo! Não chore, não chore!

Fazia exatamente um ano e meio que eu prometi para mim mesmo que não iria chorar. Eu estava quase conseguindo ser forte, mas naquele momento, naquele carro, com aquela música -Leave Your Love - Sam Smith- e com aquele cheiro, eu não consegui segurar.

O choro veio lento, calmo. Minhas mãos no cabelo e o corpo curvado para frente com os cotovelos nos joelhos fizeram-me ter uma visão da casa do ruivo, me garantindo que ele não me veria chorando quando chegasse.

Eu gostaria de ser um pássaro! Um pássaro livre... Voar para muito longe e mergulhar nas nuvens em dia de sol e me molhar com muita felicidade!

Afastei aqueles pensamentos de mim e limpei as lágrimas. Não valeria a pena lamentar pelo NADA que eu fiz durante todo esse tempo.

Fechei meus olhos e relaxei até cair num cochilo gostoso. A demora do ruivinho me fez ter certeza que ele será um trabalho muito grande de se aguentar, e se não fosse em vão, eu aguentaria até tirar minhas férias.

Ah, Ruivo... Não me decepcione.

~•~