O Ultimo desejo de Jeanne d'Arc

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Ano de 1431.

Depois de muitos sucessos no campo de batalha, Jeanne acreditou que era o momento ideal para falar com o rei — agora legítimo — sobre os moradores da floresta que conhecera, porém, o jovem rei já não estava mais interessado nos assuntos da coroa.

Ele já tinha o que queria e Jeanne d'Arc já não era mais necessária, então tentou dispensá-la dos seus serviços.

— Porque não descansa um pouco? — perguntou Agnes Sorel a Jeanne naquele dia. Ela era a mulher mais bela do reino, uma das mais responsáveis pelo entorpecimento do rei.

Dizia-se que eles passavam tanto tempo no quarto que nem mesmo Marie d'Anjou, a rainha, conseguia vê-lo por dias.

O que era algo bem incomum. Naquela época, as amantes do rei deviam ser discretas, mas Agnes Sorel gozava de grande poder e influência por ser uma mulher extremamente sedutora. Em pouco tempo, recebeu do mesmo dois territórios importantes para a sua família, diretamente das mãos do rei.

Coitada da rainha, diziam os demais ao vê-la numa situação de tão pouca influência sobre o seu próprio marido, embora a própria, que passara o tempo todo cercada por belos homens, não estivesse tão interessada assim naquele homem horrível.

Jeanne se enraiveceu ao ter de receber ordens de Sorel. Revoltada, retirou-se forçadamente por uns tempos, voltou à floresta oculta, onde reencontrou a paz com os seus novos amigos.

— Jeanne, você não quer morar conosco? — perguntou Ahnara. — A Dama do Lago está ansiosa para conhecê-la. — A jovem parecia preocupada com a mulher.

— Eu bem que gostaria de ir, pequena. Mas sinto que tenho assuntos pendentes para com o meu povo. — Suspirou. — Enquanto a guerra não terminar, enquanto o povo não estiver verdadeiramente livre, não conseguirei descansar. Nem lá, nem aqui na sua terra prometida.

Ahnara segurou a mão de Jeanne, lamentando.

Jeanne sorriu para a garotinha e acariciou os seus cabelos negros.

— Vai ficar tudo bem. Prometo que volto logo assim que conseguir convencer o rei. Creio que depois do que eu tenho a oferecer a ele, vocês não serão mais perseguidos por ninguém do outro lado da floresta — prometeu, olhando diretamente nos profundos olhos da menina.

Mas Ahnara não retribuiu o sorriso de Jeanne, parecia profundamente entristecida.

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No dia seguinte, Jeanne voltava pela trilha oculta que escondia uma passagem dentro de uma caverna. Ao aproximar-se de sua hospedagem, deparou-se com o mensageiro de Compiègne procurando-a, aflito.

— Lady Jeanne! — chamou o rapaz. — Os moradores clamam por seu auxílio!

— Eu sinto muito, Olivier. O rei não quer que eu me envolva nos assuntos do reino por hora.

— Mas, senhora, os moradores estão morrendo! — disse, desesperado. — Precisamos de você. Os Borguinhões estão atacando. Sem você, nós vamos perder! — Ajoelhou-se em frente à mulher.

Jeanne não suportou a súplica daquele pobre homem. Ela não podia deixar o povo sofrer por causa da negligência da nobreza. Então, com o seu próprio dinheiro, reuniu quatrocentos homens e partiu para a que seria a última batalha da sua vida contra os soldados de Jean, de Luxembourg.

A batalha foi terrível.

Depois da morte de todos os seus companheiros, ela foi poupada pelos borguinhões, que a tomaram como prisioneira. Agora estava nas mãos do inimigo.

Idílica MisantropiaWhere stories live. Discover now