A fragrância das rosas cortadas

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Ao chegar na sala de julgamento, agora vazia, Desirée procurou pelos seus dedos arrancados com o alicate turquesa. Não havia ninguém mais ali naquela sala.

Ronan, ainda perturbado permanecia de joelhos perante a ela, completamente sem forças.

Desirée não queria falar com ele, uma vez que ouvir a sua voz despertaria o desprezo pelo que ele fez a ela. Era uma situação incômoda para ambos, especialmente para o homem que estava completamente perdido nos seus próprios traumas devido ao choque de ter presenciado aquela distopia.

"Aqui está" Pensou ela ao encontrar os seus próprios dedos quase podres já. Então, sem muito esforço, ela uniu-os aos ossos da sua mão. "Se tivesse chegado mais tarde provavelmente não conseguiria uni-los mais". Pensou.

Aquela bruxaria chamou atenção de Ronan por um segundo.

Ela escutou os seus movimentos. Estava séria e completamente atenta ao homem ali diante dos seus pés. Não era uma manifestação de pena, nem de raiva, muito menos de afeto. Apenas a expressão da curiosidade de uma psicopata. Sentia-o ali com a sua magia enquanto encaixava o seu segundo dedo. 

Sussurrou algumas coisas magicas das quais ele não faria questão alguma de querer entender.

— Já desistiu de tentar negociar a sua liberdade, Homenzinho? — Perguntou Desirée ao homem que não respondeu. Ela sorriu aproximando-se dele, agarrou seu cabelo violentamente forçando a sua cabeça para trás obrigando-o a olhar para ela. — Ao que parece, eu te quebrei de vez, não é mesmo? — Jogou-o no chão — Assim ao menos você não me dará trabalho.

Nada foi respondido. Ela riu.

Vamos embora. Logo chegarão mais reforços.

Alguns dias se passaram desde então e amos continuaram em completo silencio. Desirée e Ronan caminharam por muito tempo. Ela não se cansava sob nenhuma circunstância, as bolhas de queimadura já haviam desaparecido e as cicatrizes nos dedos estavam quase desaparecendo.

Mas Ronan não estava bem. Ele parecia completamente destruído. Tanto fisicamente quanto mentalmente. Não havia nada o que ele pudesse fazer. Desirée além de ser uma bruxa era psicologicamente muito mais forte do que ele.

Sua visão enturveceu, suas pernas vacilaram diante do peso do seu próprio corpo e então sem suportar muito mais ele desabou no chão. O que fez com que ela ficasse ancorada a ela uma vez que puxava-o pela corrente.

— Ronan!... — Ele não respondeu. — Ronan não me faça te arrastar de novo!!! — Mais uma vez nada aconteceu. — Maldito!

Desirée aproximou-se do corpo do homem e sem toca-lo notou que ele estava febril. Sabia disso porque ha algumas horas atrás precisou manifestar o seu feitiço de sensibilidade física ao calor. O que Ronan e muitos outros não sabiam é que ela usava esse e outros truques para poder suprir a sua falta de visão.

— Era só o que me faltava. — Pisou em sua cabeça — Acorde Você ainda não sofreu o suficiente!!! — Mas não obteve nenhuma resposta.

Deslizou os seus dedos por debaixo da máscara de metal que cobria o seu rosto colhendo dos seus olhos o sangue que precisava para riscar no seu próprio peito um pentagrama de força. 

Depois disso ela conseguiu coloca-lo nas costas com relativa facilidade.

Após algumas horas de caminhada Desirée ouviu o som de uma carroça se aproximando deles no sentido ao qual ela caminhava.

— Você precisa de ajuda, querida? — Disse uma senhora. — Está indo para onde?

— Mamãe ela está carregando o homem sozinha! — Ouviu outra voz. E depois muitas vozes se misturaram, evidenciando que haviam muitas mulheres ali dentro e nenhum homem.

Idílica MisantropiaWhere stories live. Discover now