O Escolhido

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— Salve, Lord Aeon! — Foi dito em uníssono pelos homens do rei, enquanto o cavaleiro de armadura brilhante adentrava o palácio real.

— Lord Aeon! — disseram os soldados da guarda, ajoelhando-se para que o homem passasse pelo tapete vermelho em direção à sala central no momento em que os seus passos pesados ecoavam pela arquitetura do local devido ao som metálico que emanavam de suas grevas.

O rei e os demais membros da corte se silenciaram ao ouvirem murmúrios do outro lado da porta do salão, onde estavam jantando. A porta se abriu e todos se levantaram, por reflexo, assustados com o impressionante homem.

Ele se aproximou do cardeal ao lado do rei e se ajoelhou diante deste, de cabeça baixa, retirando o elmo ornamentado e cravejado de joias, revelando seus longos cabelos louros, quase dourados, que caíram sobre os seus ombros, cobrindo o seu peito.

— Levante-se, Louis, você não precisa disso, meu querido — disse o cardeal, respeitosamente — Vamos, deixe-me ver como você está. — insistiu.

Era noite de terça feira, em Paris. A família real estava festejando com a alta hierarquia da santa igreja em comemoração ao sucesso das recentes expedições militares, enquanto discutiam estratégias para conter o avanço do paganismo nas terras do rei, que agora pertenciam a um único Deus. Tudo isso antes do cavaleiro de armadura brilhante chegar.

O enorme homem se levantou, quase ultrapassando o dobro da altura do pequeno cardeal a sua frente. Seus olhos eram de um verde tão vivo que as esmeraldas, se pudessem, invejariam-no. As moças do local não conseguiam desviar o olhar do homem por um segundo sequer, quando não estavam admiradas com os seus olhos, desejavam morder os seus lábios grossos e rosados contornados pelo seu maxilar robusto.

Seu corpo musculoso, que evidenciava o constante treinamento, também parecia ter sido esculpido por artistas gregos.

Aeon, como gostava de ser chamado, parecia ser a manifestação de Deus na terra. Todos ao seu redor estavam satisfeitos com o seu incrível esplendor.

— Então, esse é o homem do qual falava, querido cardeal? — disse Charles VII. — Vamos, se aproxime, meu jovem. Nós estávamos esperando para começar a comer.

— Sua majestade! — disse o belo homem, enquanto o reverenciava em frente aos demais membros da realeza.

Os empregados arrastaram uma cadeira especial para o enorme cavaleiro, que ficou sentado entre as duas princesas, também encantadas com a presença do homem. Suas pernas tremiam, o estômago remexia, o coração palpitava, os pensamentos luxuriosos lhes torturavam, enquanto os seus corpos lubrificavam, mas Louis nem sequer as notou de fato.

— Então, esse é o bisneto do famoso Galahad. Os seus feitos são realmente impressionantes — comentou a rainha, obviamente interessada naquela brilhante figura. — Por favor, me chame de Marie d'Anjou.

— Marie, os boatos são sempre maiores do que a realidade. — disse o homem, sinceramente humilde. — Eu devo tudo ao cardeal e aos nossos valentes homens, que sangram todos os dias no campo de batalha em nome de Cristo, o Nosso Senhor. — Louis deslizou o cabelo do rosto para as costas. — Eu sou apenas um estrategista militar.

— Ora, não é hora para modéstias, meu rapaz. — afirmou o horrível rei, feliz com a presença do homem tanto quanto os demais. — Momentos antes de chegar, Vossa Eminência tratava de explicar-nos como se dará a nova expedição para o oeste do país. — O rei se servia com um pedaço da coxa de um dos enormes perus que estava sobre a mesa. — Como sabe, temos boatos de que a peste negra voltou a surgir em algumas regiões da França, próximas às comunidades onde são comuns as tradições ilegais.

Idílica MisantropiaWhere stories live. Discover now