Capítulo 4

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.•*.•*.•*.•*.•*.•*.•*.•*AMY.•*.•*.•*.•*.•*.•*.•*.•*

—Ele tem o quê? —Viv parou de escovar os dentes e olhou para mim.

—Namorada.

—Mas que cafa! Como você sabe?

—Ele tava lá na biblioteca, se agarrando com a Exilada.

—Ah. Mas você viu anel e tal?

—Não.

—Então é só pegação —E voltou para o banheiro.

—Eu acho que não.

Saímos do quarto ao som da chamada para uma missão. Na verdade, iríamos, nós do bloco 3, ficar responsáveis por repor o depósito de alimentos. Assim que chegamos no mercado central, vi o Logan descer do caminhão do lado.

—Não sabia que tinha namorada —Falei assim que me aproximei.

Ele sobressaltou-se.

—Por que isso te incomoda? —Ele ergueu uma sobrancelha.

—Porque você tentou me beijar ontem, esqueceu? —Parei em frente a um pacote de dez quilos de arroz.

—Ah, foi essa impressão que você teve?

—Então, da próxima vez que eu tiver essa "impressão" — fiz sinal de aspas com os dedos —, posso dar um chute nos seus preciosos? —Apontei para a região entre suas pernas.

Ele riu.

—Sim, claro —E então, chegou mais perto. —Mas ela não é minha namorada.

Dei de ombros e abaixei para pegar o pacote de arroz.

—Isso não é trabalho para garotinhas como você fazerem —Pude perceber, mesmo de costas, que ele ria.

—Então está esperando o quê pra ir buscar a sua parte? Se estivesse trabalhando, "garotinhas como eu" não estariam fazendo o serviço.

—Essa doeu —Levou a mão ao peitoral. Falando nisso, aquela camisa colada cabia bem nele.

Nós rimos. Com os caminhões cheios, preparamo-nos para voltar.

—O que acha de sair comigo mais tarde?

—Primeiro, sair pra onde? Segundo, acho que sua namorada não vai gostar disso.

—Eu sei que não temos muitas opções lá mas damos um jeito. E depois, eu já falei que ela não é minha namorada.

—Vou pensar.

—Não tenta bancar a difícil.

—Meu bem, eu sou difícil.

E saí, ouvindo sua risada.

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Naquela tarde, eu decidi descansar um pouco. Foi uma péssima ideia. Eu sonhei novamente com aquela... lembrança. E, de novo, eu tinha dez anos. Em uma invasão que as tropas da Rainha fizeram à League, um dos seus soldados me puxaram pelo braço. Tudo escureceu. Eu tentava ouvir algo. Apenas sentia. Até que ele tirou a venda de meus olhos. Eu estava em algum lugar pequeno, de madeira.

    Tudo foi muito rápido. Aquele monstro arrancou minhas roupas e começou a me tocar. Eu gritava, tentando fazê-lo sair de cima de mim enquanto ele apenas gemia como um animal. Eu sentia raiva, medo, agonia. Sentia raiva por ter sido tão fraca. Não ter carregado a faca que roubara da cantina. As lágrimas saiam dos meus olhos silenciosamente. Meu pai entrou, de repente. Peguei as minhas roupas e tentei me cobrir, envergonhada pelo vento que batia em minha pele nua e sensível. Eu me encolhi no canto da parede daquele cubículo. Papai espancava o homem. Ele estava vermelho de raiva. O homem parou de lutar. Acho que morreu.

    Eu tinha um grito preso na garganta. Mas tudo o que eu fiz foi olhar, com as lágrimas escorrendo, para o estilete que estava embaixo da pequena da mesa que tinha ali, cogitando tirar minha própria vida. Papai veio até mim e me pôs no colo, começou a chorar. Era a primeira vez que eu o via chorar. "O que fizeram com você?", ele repetia. O homem não chegou a me forçar a fazer o ato mas ele me tocou.

   E então, eu acordei, com lágrimas nos olhos. Viv adentrou à porta.

   —Aquele pesadelo de novo? —Perguntou.

   —Lembrança —Corrigi, desatando a chorar.

   Era difícil encarar um homem de uma forma diferente. Anos de terapia me ajudaram a começar a sair com alguns garotos. Joseph me respeitou, esperou, me amou. Eu estava segura com ele.

   Viv me abraçava, acariciando meus cabelos. Acontecia de vez em quando. Percebendo que eu estava me acalmando, ela deu um beijo em minha cabeça e levantou.

   —Vou pegar um copo de água para você.

   Fiquei ali na cama e enxuguei o rosto. Na época do acontecimento, a Rainha já tinha matado minha mãe. Quero dizer, ela sumiu em uma invasão à League. Meu pai passou anos planejando uma vingança. Ele foi morto em praça pública. Ele vacilou. Numa tentativa de ataque ao Palácio, ele foi pego.

   Ouvi uma voz familiar no corredor.

   —Oi, você sabe quem é a Amy? Amy Collins? —Logan.

   Droga. Esqueci que ele tinha me chamado para sair.

    —Hã... é o dormitório 17 —Alguma garota falou.

   Então, ele apareceu à porta, que Viv tinha deixado aberta.

   —Licen... —Analisou-me. Olhos inchados, cabelos desgrenhados. E ele... estava impecável —Hora ruim?

   Assenti, passando as mãos pelos cabelos.

   —Você precisa de algo? Água, comida, chocolate, abraço?

   Sorri um pouco. E então, Viv apareceu, com o copo de água na mão.

   —Desculpa, moço mas... —Ela parou, parecendo se tocar sobre quem era. —Olha, eu acho melhor você entrar porque se alguém te ver, vai dar ruim.

   —Ah, verdade. Mas eu já estou saindo. Me desculpa por isso. —E virou-se para sair.

   —Não precisa ir —Eu falei, fazendo-o parar. —Preciso mesmo espairecer.

   Levantei-me, fiz um rabo de cavalo rapidamente, tomei o copo de água e dei um beijo na testa da minha amiga. Saí do dormitório e comecei a caminhar lado a lado com o carinha de olhos azuis.

   —Tá tudo bem? É uma pergunta meio retórica. Eu só estou tentando ser legal. —Falou, assim que chegamos ao Salão principal.

   Eu balancei a cabeça.

   —Foi só um pesadelo. —Tentei convencer mais a mim mesma do que a ele.

   Ele anuiu e grudou aqueles olhos em mim.

   —Para onde quer ir?

   —Gramado. —Foi o primeiro lugar que veio à minha cabeça que era tranquilo e com gente ao mesmo tempo. Não queria ficar só com ele.

   Então ele me puxou pela mão, me tirando dali.

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Oi, meus xuxuzinhos,

    E aí, o que acharam?

Muito triste o que aconteceu com Amy quando era mais nova 😓. É triste perceber que muitas crianças passaram/passam por isso ou coisas piores. Isso pode afetá-las tanto de uma forma imensamente negativa...

    Denuncie. Ligue 100.

    Espero que estejam gostando.

    Até quinta! ❤️

    Beijos de luz ✨,

     Anaaclarag 💙

League: Guerra CivilWhere stories live. Discover now