Um prato colorido

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Talvez,

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Talvez,

devo ligar a tevê ou fingir que não há ninguém em casa como costumo fazer... Nem externa e internamente. - Tem alguém aqui dentro de mim? Não sei. Será que somos todos Sócrates? Ou, deveríamos ser mais como Descartes?

Só para ter um som de fundo ou um silêncio estrondoso que não chama nem a minha própria atenção, apenas abafa os sons e ruídos do ambiente e da mente.

Devia aproveitar este momento, a solidão ou a solitude... Devia e sei disso.

Estou sozinha em casa e devia me alegrar pelo momento que tenho comigo, com minha própria companhia.

Devia aproveitar para gritar, sorrir, dançar, pular e fazer o que der na telha.

Mas, não faço nada, apenas deixo a tristeza que me domina o dia inteiro aparecer, surgir e ser o que precisar sem me importar.

Tiro a capa do sorriso e do semblante pleno e quase me assusto, se já não tivesse acostumada com essa minha real face... me espantaria.

Estou sem fome e sem vontade e ânimo para viver, – me julgue -.

Só existo neste instante, minha real vontade é de me decompor e me fragmentar em partículas minúsculas até não haver nada de mim.

Mas, não pense que não sei apreciar a dádiva da vida, pois quero poder ressurgir das cinzas, como uma mitológica fênix... mas, antes, quero desaparecer de mim mesma.

Verduras são ricas em vitaminas e nutrientes (já ouviu isso quando criança ou diz isso a si mesmo no presente?), mas não são capazes de reverter o ânimo perdido em alguma esquina esquecida na mente e no ser.

Sei que esse é apenas o momento baixo da montanha russa que, às vezes, só declina e se prende ao solo como se houve um campo magnético. Não há liberação de adrenalina e nem gritos de euforia.

Talvez, a cara de tédio denuncie o quão "divertido" tudo está sendo. O sono surge em alguns momentos e quando nos domina, apenas nos salva de nós mesmos para viver algo mais interessante no subconsciente.

Às vezes, tenho vontade de não acordar, poderia ficar por muito tempo presa ali, mas também seria uma liberdade das amarras que me prendem quando acordo. O peso é sentido mesmo quando ainda nem me levantei da cama. Mas, me ergo e vou no automático. – quem sabe, em algum momento, meu eu coloca o pé na minha frente e sem que o perceba, caio em mim.

Um prato colorido parece bonito e revela mais cores do que o arco-íris, enquanto na tevê o noticiário relata acontecimentos horríveis: homicídios, desastres ambientais, fome e também, fala sobre a economia do país.

Amanhã nem vou me lembrar do que comi no jantar e mesmo se eu mudar de canal, as notícias serão as mesmas e às de ontem, já cairão no passado, como se fosse algo banal com a qual já estamos acostumados, como se fosse um filme de terror que você teme no momento, mas depois se importa de menos, pois não é com você. Você. Eu. Somos apenas os telespectadores.

A maioria das músicas falam de amor e de casais e seus momentos em um relacionamento e, ainda assim, insisto em achar alguma que fale do que quero e preciso ouvir. Uma letra que toque o ser, uma melodia que abraça a alma e que mesmo quando parar de tocar, o refrão ainda vai oscilar na mente e no coração. Gosto de poder sentir e não só ouvir a música. Pretendo encontrar uma canção que fale de solitude e da companhia do eu. Isso me faz insensível ou egocêntrica? Na verdade não me importo com a resposta, aprendi a não me importar com o que não vai agregar nada a mim ou ao que vejo e sinto.

Mas, somos apenas telespectadores... O ciclo parece voltar sempre a esse ponto, não importa quantas casas andamos e já passamos no jogo, sempre volta para esse início.

Não sei dizer se sou roteirista ou se sigo um roteiro do meu próprio filme ou do de alguém. – e se ele fosse um que nome teria? Qual seria o do seu? Qual a identidade e gênero?

Se faço parte ou se sou A parte.

Se sou protagonista ou algum personagem secundário. – ou, talvez, um figurante.

Se atuou bem ou mal.

E o pior, será que apenas assisto ou vivo? Apenas vejo ou sinto? Apenas escuto ou falo?

Há grades por todos os lados e elas são internas e a chave mora em mim mesma, mas quantos níveis devo percorrer para encontrá-la?

Sou prisioneira da minha própria mente e os pensamentos moldam as grades e quando sei quem sou, a chave surge no centro de onde estou. Contudo, ainda não cheguei nesse momento e espero que ele não demore e nem que eu esteja condenada a muitos anos de prisão na solidão da minha mente. 


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01/Março/2019

Currículo Existencial.Where stories live. Discover now