Lixão da Desilusão

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Vozes falam o que deveria fazer e como poderia ser (devo obedecer?)

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Vozes falam o que deveria fazer e como poderia ser (devo obedecer?).

Claramente ou possivelmente, elas estão certas (devo acreditar?).

Mas, por que só enxergam e questionam minhas falhas e erros? Não somos todos imperfeitos?

Nunca notam os acertos, por quê?

Um dominó fora é muito mais visível do que os demais nos trilhos.

E o pior às respondo e calo quando estou sem forças para discutir, (comigo ou com elas).

E mesmo querendo e conseguindo ignorá-las no momento, elas me perturbam antes de dormir.

Não sei dizer não, pois segundo crenças e valores morais são nossos pais (sei disso e sinto, logo devemos respeito e o tenho, mas como pode o meu reflexo em DNA e alelos recessivos e dominantes me criticar?).

Enxergar-me de modo perpetuo como alguém que jamais pode pensar por conta própria ou viver como indivíduo, em unidade, e não como eles.

Vozes: Ressoam e voltam como se fosse o satélite mais próximo e único do planeta.

E elas continuam a falar no outro cômodo.

Falam do passado, cujo esse nem conheci ou vivi, mas mesmo assim me condenam como se estivesse presente no que ocorreu.

O lado patriarca quer ter sempre razão e foi ele quem me deixou na psicológica prisão.

Sempre delimitou uma divisão: ele ou ela, por que fazem isso?

Gritam um com outro o tempo todo, por quê?

Palavras tão pesadas e densas que fazem as paredes tremerem e os ouvidos não suportarem o peso.

As lágrimas não apareceram, mas vejo e lembro que na infância algo adormeceu e morreu.

Eu sei que ele sabe abraçar, mas duvido em alguns momentos, deve saber.

Mas, pelo visto não sabe fazer isso comigo.

Afinal, queria um filho.

Já ela foi embora e por anos foi criticada no lar.

Mas, na verdade e o que ninguém sabe, é que só se libertou da tortura.

Na qual entrou quando selou as últimas palavras do matrimônio.

Foi humilhada e viu que seu amor não reluzia mais ali, mas disso nasceram duas desentendes, embora outros dois tenham morrido antes de chegar a luz da vida.

E depois de anos sendo submissa ela reergueu as asas feridas e mesmo sem direção definida, voou e deixou tudo. Tudo! A sanidade e suas herdeiras.

Não foi fácil para elas, naquele instante e até o presente, eram apenas as duas.

Muita coisa aconteceu, mas fisicamente raramente elas adoeceram.

Não pense em coisas ruins e nem veja ele como um monstro da história (aprendi a não fazer isso e desenvolvi empatia e me vi em uma válvula de escape para outros mundos).

Tudo foi psicológico – e, talvez, por isso seja eterno -, e se ele era e é assim, foi apenas uma onda do mar dos seus antepassados, no que viu, aprendeu e sucedeu. As marcas do passado ultrapassam o tempo.

Mas, agora não mora mais aqui, porém em cada visita traz sua bagagem de críticas e queixas da própria vida.

Como se aqui fosse o lixão da desilusão.

Qual a reciclagem correta para cada palavra descartável?

Devo recolher cada uma e ser seletiva?

Sei que sim, é o mais adequado e saudável para o planeta.

Mas, há momentos que, não consigo fazer isso.

Deixo tudo misturado e bagunçado, pois parece sempre voltar a esse quadro de completo caos e desordem natural.

Meu ecossistema se mostra vazio de qualquer cor ou vida.

Mas, sei e devíamos todos saber que ela continua independemente do que aconteceu e seguimos juntos e unidos, como os elementos da tabela periódica, cada um em seu período distinto, porém todos de uma mesma família. 

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07/03/2019

Currículo Existencial.Where stories live. Discover now