I n c o n s t a n t e

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Sinto falta do todo que conhecia, mas lido bem com os pedaços que ficaram,  com o mosaíco;

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Sinto falta do todo que conhecia, mas lido bem com os pedaços que ficaram,  com o mosaíco;

Retalhos;

Partes;

Peças;

Páginas solitárias com mais missões do que instruções... mas, ainda assim, me pergunto, para onde vamos?! Em que lugar estamos?! E não é assim que reiniciamos?!

Porque, em algum canto fica a sempre e inevitável esperança de que as coisas vão voltar a ser como antes, mesmo que diferente na sua subjetividade do presente.

Não importa a hora ou o dia, sinto falta das suas manias diárias e da forma como sua voz era calma mesmo em momentos turbulentos.

E, olhando daqui, parece ter sido há tanto tempo que a vi, sendo você mesma, pela última vez. Mal sabia o que estava por vir, por que não registrei as últimas palavras que disse em plena lucidez?! Será que às respondi ou dei ouvidos a elas como deveria?

Sinto falta da calmaria que sempre imperava quando estava próxima e da paz que reinava quando me abraçava e, em instantes assim, até esquecia que não sabia abraçar direito.

Porque, sinto falta do seu abraço materno, ele sempre me consolava e me energizava. Não importa como estava, assim que o recebia melhorava.

Mas, não sei mais quem estou tentando abraçar, alcançar e explicar o que está acontecendo, pois você não entende. Não me escuta. E parece crer que todos ao seu redor são inimigos seus. Sei que não é culpa sua, mas suas palavras machucam.

Sinto falta de como sua presença sempre me fazia crer que nada poderia me deter. Isto é, se a tivesse ali, ao meu lado, ou sabendo que poderia recorrer a você.

Sinto falta de como me entendia só pelo olhar e, para isso, não era preciso dizer uma palavra sequer.

Sinto falta dos seus conselhos e de como não se importava em me ouvir falando aleatoriedades, mesmo quando não fazia o menor sentido.

Sinto falta do seu sorriso lúcido e de como ele era sincero quando aparecia.

Mas também, sinto falta de como sabia quando o meu não era de alegria.

Sinto falta de como era realista, mesmo não deixando de lado o otimismo. De como enfrentava seus medos e cada novo dia como o mais importante do calendário.

Sinto falta da forma como pronunciava o meu nome e como sabia o que seguiria somente pelo tom usado.

Sinto falta das cores que era em meus dias cinza e a luz que representava quando pensava que estava perdida.

Sinto falta do seu olhar preocupado e atencioso, da forma como acreditava em mim e de como não desistia de nada.

Não dizia muito, mas você me mantinha em órbita.

Pergunto-me, como pode ser o mesmo rosto, olhos, corpo e voz. Mas, não ser as mesmas expressões faciais, o mesmo olhar e a mesma forma de falar?!

Como explicar a saudade de alguém que está perto fisicamente e tão longe mentalmente? Ou, que ficou tão diferente?!

Tão distante.

Que nem sei chegar ao outro lado, a ter ao alcance.

E só queria saber como lhe trazer de volta, lhe ter aqui novamente. Perto, não só ao alcance das mãos, mas na sintonia dos seus sentidos. Da sua lucidez.

Só queria saber o que se passa aí dentro, o que lhe prende nesta realidade paralela e por quanto tempo essa ruptura vai permanecer... já são cinco meses e uma semana sem você em plena consciência.

E mesmo não querendo e sabendo que não devo, sinto raiva quando a vejo. Quando a vejo trancada no quarto ou tão fora de si. A raiva não é de você, óbvio. Menos ainda da circunstância, todos estamos sujeitos a adoecer seja mentalmente, seja fisicamente.

Ademais, sei que há coisas que não estão ao nosso alcance mudar ou controlar. Por isso, a raiva é de como não notei que você estava indo embora aos pouquinhos, sumindo de si e de mim, e quando percebi, você não estava mais aqui. Já não era mais você quem gritava e pronunciava palavras desconexas.

E, acredite, sua falta está sendo maior do que poderia imaginar.

Por favor, se der, não demore para voltar.


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08/12/2019


Currículo Existencial.Where stories live. Discover now