minha suavidade

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é a misteriosa ida e vinda do mar
sob dedos frios de luar
e a própria lua, essa criatura nua
amante dos meus pecados

o canto doce de manhãs
a queda outonal de maçãs
e o invisível coral de pássaros,
puxando o sol de seu leito:

conheça, sol recém nascido
as bucólicas paisagens
elas são seu ventre e sua prole
seu amor, sua morte

é a paixão pura no berço de pã
a poesia branda tecida em lã,
linho e algodão
desenrolando-se sobre os pastos

o brilho borrado de luz sobre a água
o tilintar de rios, o riso de uma fada
essa qualidade tenra do fim da tarde
dança para longe quieta, sem alarde

é a melancolia da juventude
que faz da inocente boca infantil rude
que transforma dias em noites
e o mundo em memória

a irreverência livre de pudor da infância
o prazer autêntico da deselegância
beber do álcool da liberdade
pés descalços sobre terra ilimitada

é o néctar de frutas pingando
melífluo sobre lábios brilhando
um sabor doce de verão
de nostalgia sazonal

a floresta ao nascer do sol
ainda sob o noturno lençol
de orvalho
e mistério

você me conhece;
conhece a pureza que abraço;
a verdade que valorizo,
repentina e absoluta
a luz branca de relâmpagos;
conhece o brilho com que vejo o mundo
e conhece minha suavidade,

não a suavidade do espírito humano
quente e fácil e leviano
mas a suavidade de outro plano
de deuses e anjos e o oceano
uma beleza incompreensível
algo cintilante e intangível

excêntrica de sonhos; uma inumana e insana suavidade; quieta e ensurdecedora; luminosa de fantasias — luzes delicadas, frias; indiferente de imortalidade

você tem orgulho de sua alma morar tão longe daqui?

sim.

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