Rascunho: Apolo-Morfética Pureza

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Se alguém tiver alguma observação sobre esse poema por favor compartilhe, porque ele ainda é um rascunho cru... estou postando porque mesmo ainda bastante ruinzinho, quer dizer o mundo pra mim.

Adentrei uma água-redonda prateada
Com o passo trépido d'um cervo bebê
E fiz dele o nadar daquela carpa alada
Que suspira desejos no firmamento
E por vezes parece descer só por você

Meu primeiro beijo com o cometa
De rastro leitoso
Teceu-se com o desejo verde de criança
Ainda broto dourado de verões
E a nudez dos olhos d'um milagroso

E ele disse- recitou sua poesia em luzes:
Não chores, criança, aos pés de santos
Pelo menos não os de madeira talhados
És mãe da terra; princesa do céu; deusa
[daqueles bosques amados
Onde se enterra os brotos de memória
Ainda quentes com ternura

Tão cegas as íris que vestem em véus
Essas relíquias de crenças manchadas;
Permita-me oferecer o frescor d'uma
[aurora boreal
Esmeraldina com a primavera délia
E cortar em meio o negro desses céus
Que pintam teu horizonte com idade

A verdade é que és ainda criança
Assim como eu ei sempre de ser
E desdobra-se em uma mentira elaborada
De pintar-se ser tangível,
Até o ponto de crer

Permita-me lavar com a flora de lagos
O chumbo que lhe toma o olho-de-boi
E descobrir teu coração de pomba
Das falhas da fauna corpórea que foi

E terminou seu discurso com o feitio divino
Dos mais proféticos segredos:
Me escuta, passarinho, mesmo que ame tuas penas
Não pertences ao plano da ponta dos dedos!

E permiti;
Fui columbídeo alvo em mares de ar
Beirando a euforia dentre a facilidade
De vestir as cicatrizes da maturidade
Quando afloram em veios de veneno

Canto meu retorno para casa:
Minh'água,
Permita-me a honra de flor em teu fundo
De conhecer dos jardins o mais profundo,
Pois agora meu desejo finda junto ao teu

Sei que me chamas desde outro tempo e agora

Vim,
E vim das encarnações na minha mais crua,
Pois em queda das ondas do céu despi-me
Nua de tudo que não era meu
E nesse imaculado Eu
Meu coração tornou-se eco teu

Perdi os pudores de pássaro, vestido em vento
Derretido pelo lânguido pingar do
Néctar de sonhos; o licor da liberdade
E derretida adotei uma feérica verdade

Por isso evoco a pátria de minh'alma e
Recito a história que revogou meu exílio
Fui feita espírito pela inflorescência celeste
E me descobri criança de vossa majestade
Ao cair sob as águas de febril serenidade

Em meu bico de beija-flor o néctar do sol
Teve gosto de apolínea santidade,
Vi-me nua em minha essência
E esta carrega nome de limnáde

A carpa nativa do lago de apolo-morfética puridade
Ainda carrega asas de pomba e uma cauda de cometa;
Quando me vir, faça um desejo
E este será no âmago uma pergunta
Eco daquela que me tomou a corporeidade

Desejar em si é pureza; uma certa inocência
De carregar estrelas cadentes fundo nos olhos
Por mais céus de que já tenha tido ciência
Quando se esquece seu desejar
Isso é perda

E agora em forma de ninfa lacustre
Feito a hipérborea desconheço afélio
Alvo Apolo veste linho branco e penteia os cabelos de luz
Flutuando entre os canteiros estrelados,
Sonhando acordado — desejando

E as estrelas, respingos d'um leite materno
Contra o vazio dos oceanos siderais
Noras e primas distantes que descem por vezes
E colorem nossa pátria com as vozes do infinito
Os saberes de seus brilhos matinais

Agora cresço infinitos bosques de pérola no peito
Canto as cantigas das corujas, faço cafuné com estrelas entre os dedos
E corro descalça, vestida com o sol liquefeito
Cantando hinos de seu incandescente efeito

Então adormeço entre os lírios submersos
— Pegajosa com um sereno áureo—
Apolo tece a teia de aranha dos oráculos
Com suas estrofes sussurradas — e as correntes Espalham suas palavras com mãos de fada

Os lírios!
Os lírios de leite no leito do lago
E as margaridas feito astros cristalizados
Pelo amor d'um submerso mago

Serei sempre limnátide velando por meu jardim
E ele eternamente aparição entre as flores
Aqui despimos as cobertas da substância
E adentramos a insanidade da carta do louco
A magia dos que vivem em constante infância

Alheia a delicadeza tentativa de princesa
Pois o tentar em si é a derrota da pureza
A ferocidade suave de toda força da natureza
De onde borbulha as raizes da divina beleza
Nos toma feito os vinhos dionisíacos

É essa então,
A Apolo-morfética Pureza:
A liberdade silvestre de ninfas descalças;
O delírio mágico de manhãs eternas;
A língua dos sonhos — Poesia
E essa paz febril da pátria fantasiosa;
Nós dois no leito do lago dos sonhos
E os lírios submersos pingando leite de sonhos

Os lírios.

chá e rendaWhere stories live. Discover now