permita que eu me desmembre para que entenda

372 29 2
                                    

suponho—

sim, suponho que deva começar
então, já que já são cinco
da tarde — tarde?
deva começar a me explicar
há tanta — tanta?
coisa para demonstrar,
e precisarei de tantos gráficos que—

bem,
sim, suponho que deva começar
já que já são cinco,
seis,
sete da noite — noite?

afinal, se formos colocar
os fatos sob a luz
o que sou eu para você
além de minhas palavras?

o que sou pra qualquer um,
além da minha poesia?

e, Deus, o que sou para mim
além do meu amor?

o que sou eu para Deus
além dos meus pecados?

realmente, me perdoe,
será necessário muito tempo,
ficaremos a noite toda — toda?
para que possa explicar

ah céus, precisarei de muita ajuda
muitas poesia,
muitas escolhas,
e deus, tantas conversas a meia noite

como posso, sem mãos, te explicar?
para esclarecer precisarei criar
inventar, costurar, pintar
cuspir para fora minha alma

você sabe que quando
se cospe a alma,
não é só ela que nos deixa o corpo
mas junto a sua partida

escapa sangue e
veneno
ouro
e esgoto

ficaremos aqui a noite toda,
vocês devem trazer comida
e roupas confortáveis
porque, Deus, nem sei—

nem sei como vou
simples assim
me desmembrar
aqui no palco

essa luz já me expõe de forma que
me sinto nua, mas não a nudez
que preciso, que será precisa
para que você entenda

ah, precisarei de tanta história
e besteiras e tolices
muita melancolia estúpida e
metáforas idiotas

e de tantas construções elegantes
e sonhos falantes,
tantos versos intrincados e
a beleza da vitória

como posso escolher,
dentre tantas formas
nove musas; sete artes
a melhor serra?

permita que me desmembre,
para que entenda
de onde venho,
para onde vou

onde estou e onde
desejo estar,
a terra em cujo solo
pretendo fincar

e a terra em cujo solo
pretendo plantar

chá e rendaWhere stories live. Discover now