Extra: Além do mar Australiano

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O mar estava calmo, tal como uma grande manta azulada sob um suave vento, criando oscilações que mais pareciam acalentar o sufista que observava toda aquela paisagem com satisfação. O garoto, sentando-se sobre a sua prancha de coloração verde, tinha os cabelos loiros úmidos, o sal impregnava a sua pele morena, seus olhos verdes-azulados muito eram similares ao próprio mar que o embalava. Se sentia em casa... Não que Austrália não fosse o seu lar, de fato era, mas ali, o mar...Ali era o seu verdadeiro lar, pois afinal... Era um tritão.

Havia alguns humanos na praia, muitos deles não se aventuravam ir muito ao fundo, temendo talvez ataques de tubarões, mas o garoto também sabia que os surfistas humanos evitavam se misturar com os surfistas de raças sobrenaturais, aliás, membros da raça seriano eram proibidos de participarem até das competições de surfe... Era até compreensível, afinal, serianos foram que primeiro ensinaram aos povos polinésios, que povoaram grande parte das ilhas do Oceano Pacífico, sobre o ato de domar as ondas com canoas confeccionadas de juncos, logo os serianos tinham uma certa vantagem de conhecimento e experiência em relação ao povo da terra (além disso, tem as outras vantagens relacionadas a respirar de baixo d'água e dificilmente ser atacado por tubarões). Para o povo do mar, surfar era uma forma de interligar a dualidade de sua existência, Tritões e Sereias podiam andar sobre a terra como também nadar nas profundezas do oceano, para isso mudavam de forma, adquiram ora pernas ora cauda e barbatanas. As praias são as zonas de transição, onde o mar se encontra com terra seca e as ondas são formadas...Surfá-las usando a forma humana era um ritual antigo de autorreflexão, comunhão com seu eu interior...Com o Mar...Com a Terra.

– A vibe está mô maneira... – Concluiu solene Ethan Mistfish se deitando em sua prancha, talvez não pegasse uma grande onda, mas não é só de ondas que vive o surfista.

O jovem tritão sentiu sua prancha balançar o assustando e despertando do seu momento relax. Se levantou, esperando ser derrubado por uma onda, mas...

– Tome cuidado, Alevino*. – Um rapaz sorridente falou, seu pé moreno estava próximo da prancha de Ethan indicando que o safado tinha tentando derrubá-lo!

– Marcus! Isso não foi nada legal de se fazer, bro! – Reclamou tentando se controlar para não fazer biquinho, tipo, já tinha 14 anos, por Netuno! Não era mais uma criança!

O rapaz de corpo escultural apenas sorriu, ele tinha cabelos negros que sob determinado ângulo de luz, podia ver tons azulados. Seus olhos eram de um azul escuro que podia ser comparado a um mar revolto em plena tempestade, quase se podia sentir a eletricidade e antecipar pelos raios. Aquele cara era um tritão também, alguém que Ethan preferia não ter esbarrado, ainda mais estando sozinho...

– Você devia tomar cuidado, alevino, o mar é imprevisível e até para nós pode ser perigoso. – Explicou ainda detendo um sorriso provocador nos lábios.

– Eu não sou alevino! Pare de me chamar assim!

O outro apenas gargalhou e Ethan fechou a cara e tentou chutar a prancha daquele tritão intrometido, mas como sempre Marcus previu o seu ataque e se desvio impulsionando sua prancha para longe do alcance do frustrado Ethan.

– Não sei por que tanta raiva. Deve ser os hormônios adolescentes.

– Ou porque alguém tentou me derrubar!

– Só estava tentado te dar uma lição de vida, antes de ... – Marcus deu os ombros e mirou para o horizonte.

– Antes do que?

– Você gosta daqui? – Soltou a pergunta do nada, como quem não quer nada... Ethan demorou um pouco para pegar a mudança brusca de assunto.

– Bem...É um bom ponto para surfar. – Respondeu hesitante.

Beacon Hill InstituteWhere stories live. Discover now