5.1 ♿

805 100 8
                                    

Joabe.

  Preciso me controlar para não sofrer outra crise e ainda no meu trabalho. Bufo a cada cinco minutos que olho o celular e não vejo respostas. Se bem que não fiz nenhuma pergunta para que a mesma respondesse, mas será que não sente minha falta? Não é possível que tenha me esquecido em tão pouco tempo.
Só de imaginar que ela está, agora, trabalhando ao lado daquele loiro azedo, me sobe uma fúria terrível. Temo e tremo se alguém lutar para arrancar Natalie de mim. Ela é minha!

  Ainda tem aquele sonho que me deixou perturbado. Nunca tive nenhuma experiência com Cristo e me parece que aquele homem reluzente era o mesmo. Ele tem razão: frequentava a escola bíblica todo o domingo e nunca despertei a curiosidade de conhecê-lo.
A sensação de estar em pé, sem essa cadeira idiota foi surreal! Eu queria muito acordar algum dia e sentir minhas pernas.

Horas e horas se passaram e finalmente o expediente chegou ao fim. Desci o elevador e me deparei com uma Hilux branca, parada no estacionamento. Eu conheço esse carro.

— Surpreso? — quem eu imaginei que seria, abaixou o vidro.

— Não muito. — bufei. Alguma coisa só pode ter acontecido para ele ter vindo me buscar.

— Eu sei que sim. — abre a porta e me ajuda com a cadeira. — Nossa, como você pesa. — resmunga.

— Apenas gostosura. — brinquei, colocando o cinto, enquanto ele se virava com a cadeira de rodas. — Por que veio me buscar? Vejo que as notícias correm rápido por essa cidade. — revirei os olhos.

— Que notícia, J? — ele entra no carro, ligando em seguida. — O que aprontou dessa vez? É melhor você contar antes que eu saiba pela boca de alguém. A surra será mais dolorosa.

— Achei que Maressa havia lhe contado.

— Minha filha é extremamente profissional. E por mais que eu implore que ela me conte as coisas que conversa com você, não cede. Mas confesso que já ouvi a mesma pedindo para que respirasse fundo... Etc.

Que orgulho da minha sobrinha. Estava quase xingando a mesma em pensamentos.
 
— Onde está Eloá? E por que veio me buscar? Não tem como não ficar desconfiado que já está sabendo de alguma coisa e está querendo disfarçar, pois você faz isso muito mal! — disse, encarando a paisagem ao meu lado.

— Eloá já está em casa. Apenas troquei uma conversa com o papai e disse estava com saudades de ver o meu irmãozinho. — é evidente o deboche em sua voz. Revirei os olhos novamente e permaneci calado.

— O que o seu pai te contou? — perguntei, ríspido.

— Nosso pai não me disse nada. Acredite, J! Estou com saudades. Será que pode se comover com meu ato de amor?

— A sua casa são dois quarteirões da minha e nem por isso você faz questão de me visitar. Você já se aposentou do seu cargo, sustenta muito bem a sua família...

— Eu não fico de barriga para cima, J! Eu faço a obra em vários lugares e não tenho tempo de ficar em casa. De vez em quando faço uns bicos por ai para ganhar uma renda extra. É complicado. — murmura. — Mas não significa que não penso em você. Como estás?

— Prefiro não comentar enquanto está dirigindo. Ontem minha mãe quebrou um copo e aquilo me irritou, mas tive que me conter. — falei, entediado.

— Então a coisa é grave. Onde está Natalie?

— No trabalho. — respondi o óbvio. — Onde está Ruama?

— No trabalho. — disse, simples. — Preparado para apanhar?

— Quero que fique sabendo que os seus murros não doem. — debochei. — E faça-me o favor de não falar tantas coisas, porque não me trazem lembranças boas. Eu fico irritado e você sabe do restante.

O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieWhere stories live. Discover now