5.3 ♿

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— O que achou? — perguntei após desligar a TV.

— O filme é muito bonito, mas eu jamais me referia a Deus da forma que ele se referiu: "Qual é parceiro? O que é que tu quer de mim, brother?"

Joabe muda o tom de voz. Eu ri com aquela dublagem.

— Bobo. — disse, pegando nossos copos, a vasilha da pipoca e levando para a cozinha.

— Naty, posso dormir aqui? Se não for incomodo. Claro. — disse alto por conta da distância.

— Sim. Quer dizer... J, não posso te ajudar com o banho, etc. — retorno a sala.

— Não se preocupe. Sou bem treinado para esse tipo de ocasião. Tem uma escova reserva, pelo menos?

💕

  Estava, devidamente, preocupada com os moradores de rua. Há uma chuvarada horrenda lá fora e os raios pareciam até entrar dentro de casa.
J estava no banho, enquanto eu preparava a cama. Depois, peguei minha Biblia para meditar. Faz tanto tempo que não incluo esse detalhe importantíssimo em minha rotina.

— Pode me ajudar com o shorts? — pergunta após abrir a porta. Sua toalha de banho estava em cima do seu colo.

— Sim. — levantei e o ajudei a vesti-lo. O cheiro do sabonete em seu corpo tornou o clima tão leve.
J é um rapaz bem dotado, robusto, sorriso encantador, incluindo covinhas, cabelos lisos e uma barba muito bem feita. Era, oficialmente, conhecido como o pegador da faculdade. Até uma professora se dispôs a ter um romance com o mesmo. Só de imaginar o que esse homem aprontou na adolescência e do que se tornou nos dias hoje, é para poucos acreditarem. Exceto seu mau humor, que é evidente.

  Seus colegas da faculdade até tentaram me assustar, alegando para eu fugir desse sentimento enquanto havia tempo, pois Joabe nunca havia namorado e seus "romances" eram passageiros. Se eu temi? Óbvio. Mas decidi dar uma chance.

  Não é que deu certo? Estamos juntos a três anos e prestes a casar. Eu não acredito que tenha rompido o noivado. Ele nem sabe o motivo. Tampouco eu! Sei que apesar dos apesares, vai acabar entendendo que sua deficiência não é maior do que a felicidade que o cerca.

  Confesso que não sou nada paciente. Eu até tento e me surpreendo por conseguir, na maioria das vezes. Tive que aprender a lidar com esse grande e irritante defeito. É muito fácil irritá-lo e muito difícil fazê-lo voltar ao normal.

— Obrigado. — sorri. — Onde coloco isso? — refere-se a toalha.

— Deixe comigo. — coloco dentro do banheiro. — Que tal um chocolate quente e pão com queijo? — sugeri, empurrando sua cadeira até a cozinha.

— É uma ótima ideia, doutora. — disse. — Enquanto fico lhe admirando  preparar nosso café, desejo saber como estão sendo seus dias na clínica.

Coloco sua cadeira em frente a porta e começo a mexer nas coisas.

— Cansativos. Mas eu gosto dessa correria. Essa semana, nossa paciente conseguiu sentir seus dedinhos. Foi uma alegria imensa para todos da clínica. — abro um largo sorriso ao me lembrar.

— Imagino. Quantos anos...?

— Um e meio, por aí. Contudo, foi e sempre será uma garota de fé. Ela creu no milagre e Deus concedeu esse desejo.

Eu sabia que esse tipo de conversa afetava seu interior. No fundo, Joabe entendia que precisava retornar as suas sessões.

— Naty, já teve alguma experiência com... Deus? 

O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora