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Natalie

  Eu, literalmente, odeio despedidas. Me traz a sensação de perda e que a pessoa irá voltar.

  A decisão foi muito aceita entre ambos e confesso que depois do dia em que fomos conversar, nossa amizade se fortaleceu e as brigas não existiam mais.

  Perguntei como ficaria a fisioterapia, mas o mesmo se mostrou desinteressado e focou apenas em terminar o último período da faculdade. Estou muito feliz com essa decisão.

  Hoje, iremos nos despedir. Infelizmente não poderei
acompanhá-lo até o aeroporto, pois o horário de embarque é o mesmo que devo estar na clínica. Peguei um táxi e me direcionei até sua casa. A família toda está presente.
  Vejo as malas encostadas em um canto da sala. Aquilo me deu um aperto terrível. Sua mãe avisa que o mesmo está no quarto preparando algo para mim.

— Estou entrando. — abro a porta. J estava com os pés para fora da cama.

— Oi, Naty. — abre um sorriso largo. — Estava lhe esperando.

— Por que não está na sala como todos os outros? — questionei, me aproximando.

— Estava lá antes de você chegar. Vem, senta aqui. — deu leve batidinhas na cama. Assim fiz. — Tenho uma coisa para lhe dar. — pega uma caixa estampada ao seu lado e me entrega.

Pesada.

— Eu também trouxe. — entreguei o meu.

Abrimos no mesmo tempo. Me surpreendo com a quantidade de coisas fofas contidas ali: dois porta retratos com a nossa foto, uma caixinha transparente com vários bombons, uma blusa branca, uma xícara personalizada, etc.

— Bem ousada. — diz, estendendo a blusa que lhe dei. Nela, continha meu nome. 

— A outra tem a minha foto. — disse e ele verifica o embrulho, estendendo a camisa em que meu rosto estava estampado.

— Isso é marcação de território? — crispa os olhos.

— Não. É só pra você lembrar de mim.

— A que está dentro da sua caixa tem meu nome, também.

Desconfiada, peguei a blusa e abri. Bufei.

— Aqui, com certeza, é marcação de território.

Ele riu alto.

— Como diz você: "É só para lembrar de mim." Como vai ficar a nossa casa? — guarda as blusas de volta na embalagem.

— No mesmo lugar, ! — dei os ombros. Seu olhar era de repreensão. — J, por que essa pergunta? A casa vai ficar trancada a espera dos moradores.

Joabe, você tem trinta minutos. — meu sogro coloca a cabeça na brecha da porta e depois sai.
 
  Eu estava com vontade de chorar, mas não poderia demonstrar isso. Precisava ser forte.

Sentirei sua falta. — sussurra e segura minha mão. — Espero que fique bem.

— Igualmente. — tentei soar o mais simpático possível, mas meu coração estava gritando.  Ele aproxima nossos rostos na intenção de fazer algo que não poderia permitir. — Melhor não, J.

— Por que? — seu hálito fresco invade minhas narinas. — Ei, somos um casal, certo? — me olha profundamente.

— Não quero lembrar desse beijo como despedida. — expliquei. — Seria frustrante nos dias de prova e que você não poderá falar... Não quer ficar lembrando, J.

Ele parecia confuso.

— Boba. — abre um sorrisinho encantador. — Serão, apenas, seis meses e todos os dias iremos conversar. — assegura, juntando nossos lábios.

  Eu não queria ceder facilmente. Ainda estou muito magoada com tudo que aconteceu, mas como evitar se você ama muito alguém? E se nesse tempo todo eu descobri que, apenas, ele é o meu destino?

— Te amo. — disse, após finalizar com um selinho. — Isso não é uma despedida, Naty. Eu vou voltar e lutar pelo nosso amor. Espero que a nossa amizade permaneça enquanto estiver longe, que você me conte seus segredos, seus medos, suas conquistas... Promete?

— Não posso prometer algo que não sei se vou cumprir. — fui sincera. — Eu sei que vamos manter sempre contato e que a saudade sempre irá se fazer presente em nossas vidas, mas, também, preciso desse tempo para pensar.

— Tudo bem. Não vou forçar a barra. — murmura. — Fica bem, princesa. — deposita um beijo em minha testa. — Pai, estou pronto! — exclama e logo Elizeu adentra, carregando-o. — Até, Naty.

— Tchau J.

  Assim que o mesmo sumiu por aquela porta, chorei. Não foi fácil repelir a dor.
Minutos depois, sinto alguém me abraçar.

— Vai passar, querida. — Rebeca assegurou. — Tudo isso não passa de uma fase que vocês que terão que enfrentar juntos, ainda que estejam separados. Tenho certeza, convicção, que Deus uniu vocês e que nada vai separar. Nada!

(...) 💕

  Depois de um tempo chorando, ela me trouxe água. Eu já estava completamente atrasada para o trabalho, mas não tenho condições nenhuma de ir.

— Posso dormir aqui hoje? — perguntei, cabisbaixa.

— Sim! — responde de imediato.

— Não conte para J. Eu só quero... Sentir o perfume dele. O cheiro dele está aqui... — me deito.  — Como vai ficar na casa de Caio sem cadeira de rodas?

— Segundo ele, lá tem uma. Caio já terminou a faculdade, então, todos os dias levará e buscará Joabe. Me prometeu que não vai sair e focar nos estudos.

  Ainda me é estranho o fato de Joabe ter abrido mão, novamente, da fisioterapia para focar na faculdade. Era um assunto que o mesmo odiava.

— Boa noite, querida. — deixa um beijo em minha testa e se retira.

Levantei decidida a tomar um banho quente. Após o banho, mexi em algumas coisas e acabei encontrando um caderno. Ele estava aberto numa página em que continha um pequeno texto, escrito por Joabe. Reconheci pela linda letra.

 
Não sei se estarei aqui depois de tentar o que minha mente está mandando. Desejo que quem estiver
lendo essa carta, saiba que não quis fazer para chamar atenção. Eu só queria que essas crises que ninguém sabe o que significa cessassem e que meu pai me amasse como deveria. Só queria trazer orgulho a alguém! Só queria ser apoiado em minhas escolhas.
Ainda bem que tenho a Naty do meu lado e meu irmão Jonny. Eles sim, me amam, mas eu os machuco e é tudo que menos queria fazer. Perdoe-me.
A poucos dias atrás tive uma experiência muito forte com Deus. Me sinto bem com isso, mas preciso matar o que está me matando a tempos. Perdão."

Minhas mãos tremiam e as lágrimas quentes rolavam, junto com um misto de dores. Imagine se Joabe tivesse morrido? O que seria da minha vida? É óbvio que em algum momento eu teria que continuar, mas... Meu Deus!


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Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.”

Mateus 5.4

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O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieWhere stories live. Discover now