5.2 ♿

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Natalie.

  Estou tendo que aturar minha amiga dando gritinhos histéricos ao saber que fomos chamadas para para dirigir os cultos no nosso trabalho. Na verdade, o dono da clínica separou o grupo dos cristãos para estar na frente da obra e todos terão que participar. A reunião foi curta e objetiva.

Os dias passam rápido em Filip's e finalmente chega o final de semana. Pretendo fazer uma faxinha no apartamento e assitir algum filme pela tarde. O friozinho está pedindo um edredom, pipoca e Netflix.

Não tenho me conectado muito com Joabe. Na verdade, tenho dado espaço para que ele pense sobre a burrada que cometeu. Contudo, sei que estou errada por não estar cuidando daquilo que Deus entregou em minhas mãos. Também confesso que não tive muito tempo para pensar essa semana. Meu trabalho ocupou todo meu pensamento.

Coloquei a música Fica aqui pai de Ministério Zoe de fundo, enquanto varria a sala. Infelizmente, a campainha atrapalha meu plano.

— J? — surpreendo-me. Meu coração acelera ao rever esse homem.

— Oi. — abre um sorriso de canto. — Posso...

— Oh, sim! — dei espaço e ele empurra as rodas. — Que... Surpresa.

— É... — vira-se. — Você, praticamente, me ignorou a semana inteira. Então, decidi esperar o final de semana chegar para te ver. — explica. — Trouxe um presente. — me entrega uma sacola.

— J, não pre... Uau! — me animei ao abrir o lindo vestido rendado em minhas mãos. — É o meu gosto. Como...?

— Digamos que minha mãe me ajudou na escolha... Da loja, pois eu que vi essa belezura no manequim e imaginei seu corpo dentro dele. E aí, gostou?

— Sim! Obrigada, J. — guardei o presente no mesmo lugar e levei a sacola até o quarto. — Não repara a bagunça, estava planejando uma faxina.

  Seu olhar estava vidrado em mim. O que me deixava totalmente desconfortável.

— Posso te ajudar, se quiser. — sugere.

— Se não for incomodo... — dei os ombros.

— Estar com você nunca será um incomodo para mim. — disse, pegando minha vassoura.

Esse homem vai acabar me matando, um dia.

  Eu estava contendo o riso ao vê-lo irritado com a vassoura. Joabe estava tentando varrer os espaços porém a cadeira, também, o incomodava.

— Isso é frustrante. — resmunga. Não aguentei. Cai em cima do sofá, gargalhando. — Naty, isso não tem graça. — reclama. Eu amo quando me chama pelo apelido, mas minha mente estava entretida com o momento épico: Joabe, o estressadinho, tentando varrer. — Seria crime zombar de um cadeirante?

— Eu não aguento. — tentei recuperar o fôlego, mas qualquer tentativa era em vão. Ele acaba rindo da minha situação.

— Você vai se arrepender eternamente de ter feito isso comigo. — se aproxima lentamente. Eu continuava a rir, como uma foca escandalosa. — Naty, para.

— Parei. Parei. — engoli o riso. — Desculpa amor, mas é que... — sentei no sofá. — Foi muito engraçado. — limpei alguns resquícios de lágrimas presentes. — Nossa, faz tempo que não ria tanto, dessa forma.

— Bom saber que o gostosão aqui trouxe de volta esse momento. — disse, convencido. — E posso trazer sempre, se quiser. — segura minha nuca, aproxima nossos rostos e depois  sela nossos lábios com um beijo doce e delicado.

— O gostosão que não sabe varrer. — murmurei e largando outra gargalhada em seguida.

— Deveria ser crime fazer chacota de um deficiente. — bufou, irritado.
Era incrível como seu humor mudava em questão de segundos.

  A tarde chegou, mas parecia manhã. O tempo fechado. Não dava para discernir onde estava o sol.
  Depois daquele episódio engraçado, colocamos um filme, preparei uma pipoca e J providenciou o edredom. A semana tensa que convivemos foi devidamente ofuscada com um simples sorriso e pequenos gestos.

  O som do seu coração pulsando é um dos áudios que quero ouvir a minha vida inteira. Notei em sua mão, que me acariciava, o anel. Ele não tirou e eu também não. Mas não irei procurar entender essa situação. Eu disse que compreenderia, porém não faço ideia do que isso possa significar.

— Eu nunca que aceitaria a ideia de que coelhos falam. — murmura após o filme encerrar.

— Mas eles não falam. — levantei, porém fui puxada.

— Fica. Me sinto vazio quando você se distancia.

— Eu vou colocar outro filme. — disse, depositando um beijo em sua testa. — O que quer assistir?

— "Natalie, a fisioterapeuta". — brinca, deixando um selinho. — O que quer assistir, amor? Para mim, tanto faz. Desde que não seja Barbie. — continua. Eu ri do comentário.

— Gosta de filme espiritual? Gospel...?

— Me lembro de ter assistido quando frequentava a Igreja. Às vezes, meus líderes marcavam um cinema, dia de domingo ao invés do culto.

— Isso tem tantos anos. Vou fazer você relembrar. Que tal Pregando o Amor? — sugeri. Ele crispa os olhos.

— Não faço ideia de como seja.

  Coloquei o filme e voltei a deitar. Me surpreendo com sua atitude desprevenida: me rouba um beijo intenso; cheio de significados. Sua respiração estava pesada e sua mão já estava querendo ir para lugares que eu jamais admitiria.

— J? — interrompi o beijo.

— Me desculpe. — disse, tímido. — Eu estava morrendo de saudades. Senti tanto sua falta, Naty. Não consigo viver longe de você. Se Deus lhe tirar da terra, não sei o que faço com minha vida.

— Estarei sempre com você, J. Deus não vai me levar agora, seu bobo. — toquei seu nariz perfeitamente desenhado. — Não antes de nos casarmos. — sussurrei. Ele se surpreende com o que disse e tentou disfarçar.

— Ainda quer casar comigo?
Não consegui captar o humor em sua voz.

— Como não? Você é o homem da minha vida e o pai dos meus filhos. Digo, minha única filha. Você se importa?

— Não se o nome dela for Jesuíta. — disse sério e eu não aguentei.

— Você é péssimo. — falei com ar de riso. — Minha filha não vai ganhar esse nome, J.

— Tem um melhor que esse? — dá os ombros.

— Ainda não pensei, mas pode ter certeza que não será escolhido por você, querido. Agora, vamos prestar atenção no filme.

— Do que se trata?

— Um lindo filme que retrata a história de um traficante, que conhece uma mulher cristã e sua vida e caráter começa a muda...

— Não quero saber o resto. Parece interessante. Não me interrompa, Dra. Natalie.


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“Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês têm uns para com os outros e para com todos, a exemplo do nosso amor por vocês.”

1 Tessalonicenses 3:13

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O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieWhere stories live. Discover now