8.1 ♿

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Bônus: Elizeu.

  Carreguei meu filho, colocando dentro do carro. Clamei em pensamentos, para que Deus não deixasse nada de ruim acontecer com ele.
  Acontece que por dentro estou completamente desesperado. Minha alma está angustiada!

— Por favor. — eu estava sem voz, apenas acenei freneticamente para os médicos que conversavam na entrada do hospital. — Me ajudem!

— Emergência! — um deles alertam a equipe que logo saem correndo do hospital para me ajudar a levá-lo. Joabe parecia estar dormindo.

— Me acompanhe, por favor. — uma enfermeira disse e concordo, engolindo o seco. — Pode me dizer o que aconteceu?

— Eu... Não sei. Ele... É o meu filho. — suspirei.

— Água, por favor. — ela acena para uma outra mulher. — Tudo bem, respire fundo e tente descrever a cena.

— Ele tentou se matar, mas consegui impedir. — a mulher me dá o copo com água. — E depois ele... Desmaiou. Não sei exatamente o motivo do desmaio. — confesso, bebendo um pouco do líquido gelado.

— Voltaremos com notícias assim que terminarmos os exames. — assegurou, saindo.

Peguei o telefone e disquei o número de Jônatas, pedindo para que buscasse minha esposa e se pudesse, ligasse para minha nora.
Tenho que me preparar psicologicamente para os gritos e perguntas monótonas de Rebeca.

  Não demorou nem vinte minutos. Eles brotaram na entrada, correndo, com expressão duvidosa e desesperada.

— Amor...

— Rebeca, por favor, não me encha de perguntas. Estou nervoso, ansioso, com medo... Não sei... Só... Eu...

— Tudo bem. — concorda, me abraçando. Fui pego de surpresa.

— Eu quase perdi o meu filho. — disse com a voz embargada, chorando. Jonatas também se aproxima, dando um abraço coletivo. — Ele tentou se matar.

Rebeca desfaz o abraço, se afasta e me olha, procurando inúmeras respostas. Jônatas não fez diferente.

— Assim que a gente saiu de casa... Não íamos dar um passeio. Ele me pediu para levá-lo até a ponte de Moriá. Assim que chegamos, pediu para que eu não saísse do carro, mas eu ouvi a voz de Deus... — gemi, prendendo o soluço. — Ele me dizia "Filho, saia do carro!" Foi quando notei que Joabe, mesmo não querendo se jogar de vez, as rodas pegaram embalo numa pequena falha da quina da ponte. Deus permitiu que minha mão alcançasse a blusa dele. E... Choramos, ele pediu para morrer, nos declaramos e suas últimas palavras foram “Eu te amo, pai, mas o senhor precisa me levar para o hospital”.

Jônatas relaxou os ombros após ouvir aquilo e retirou a mão da boca. Ele estava querendo gritar.

— Oh... — Rebeca volta a me abraçar. — Vai ficar tudo bem.

— Vou ligar para Natalie. Também não sei se é uma boa ideia, porque amanhã ela trabalha.

— Não, filho! — Rebeca vira-se. — Ela precisa saber. Talvez consiga uma folga se comentar com seu chefe, mas se ficarmos tanto tempo sem avisá-la pode se chatear. Ela também faz parte da família.

  Jônatas concorda, se afastando.

— Acho que Deus está trabalhando naquilo que tanto orei. — segura meu rosto. Eu entendi perfeitamente o que ela quis dizer.

— Eu também acho. — murmurei, sorrindo. — Não entendo como pude me tornar um ser tão egoísta ao ponto de colocar minha profissão acima dos sonhos dos meus filhos. Merda de tradição!

Pais de Joabe? — ouvimos uma voz mansa e logo viramos para certificar.

— Somos nós. — eu disse.

— Bom, o filho de vocês está bem, mas a pressão dele subiu muito, então, será encaminhado para UTI. Também não sabemos quando irá acordar. Ele se encontrava com muita falta de ar, com dificuldades respiratórias, então os aparelhos estão o ajudando nesse caso. Visitas, por hoje, não. Apenas amanhã, a partir das nove horas, encerrando às dezessete. Uma pessoa por vez. Os senhores precisam fazer a ficha dele logo ali, na recepção e aproveitem para dar os nomes de quem poderá visitá-lo. Alguma dúvida?

— Não, senhor.

— Ok, tenham uma ótima noite. — sorri e se retira. 

Fizemos a ficha na recepção. Jônatas avisou a Natalie que ela não precisava mais vir, pois as visitas iniciariam as nove. A mesma ficou extremamente abalada quando soube da tentativa de suicídio.

💕

Natalie

  Chorei a noite toda ao passar as nossas fotos com o dedo. Todas que tiramos juntos em todos os lugares antes da minha conversão e do acidente.
Por que Joabe tentou tirar sua própria vida? Ele não pensou em nós. Estávamos tão bem. Marcou comigo a data do casamento e de repente... Estou muito magoada. Muito mesmo!

  Eu havia mandado uma mensagem para Maurício, justificando minha falta e ele concordou.
  Respirei fundo, limpei as lágrimas, peguei minha bolsa e desci. O meu cunhado já estava a minha espera.

— Bom dia. — ele sorri, fraco.

— Bom dia. — retribui, colocando o cinto.

O percurso foi silencioso. Era bem melhor assim. Minha mente estava confusa meu coração muito machucado. Ontem mesmo, mandei uma mensagem para os meus pais avisando sobre o incidente. Eles me disseram que no final de semana pegarão o ônibus para Filip's, imediatamente.
Nem sei o que dizer para ele quando abrir os olhos. A verdade é que estou cansada e... Preciso de um tempo... Sozinha.

Chegamos, meia hora depois. Encontrei meu sogro conversando com o doutro, enquanto dona Rebeca veio ao meu encontro, me abraçando.

— Eu sinto muito. — murmurei.

— Ele vai ficar bem, querida. Foi só um meio doloroso que Deus achou para unir pai e filho. Eles, finalmente se entenderam! Deus ouviu minhas preces.

— Fico feliz por vocês. — desfiz o abraço.

— Já pode entrar, se quiser. Ele ainda não acordou e os médicos não sabem quando. Está respirando por aparelhos... Ele precisa das nossas orações.

  Sempre achei hospital um pesado. Um quarto então... Aquele bip é tão genérico. Suspirei fundo e me aproximei da maca, passeando minha mão pelo tecido esticado. A expressão dele era tão tranquila e parecia acordar a qualquer momento.

— De novo? — murmurei. — Não sei o que está acontecendo comigo. Parece que há uma luta interna, me fazendo querer respirar um pouco, porque me sinto sufocada! — sussurrei a última palavra. — Eu te amo muito, mas não posso viver o tempo todo dentro de uma bolha. Você me faz bem... Quando quer. Você me machuca e cura ao mesmo tempo. Não sei o que será de nós quando acordar. Mas prometo sempre te apoiar.


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“Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.”

1 Pedro 5:7


Ai amores, eu tenho até pena de fazer isso com vocês, mas é necessário. Eu, literalmente, odeio quando um casal se desentende, porque tenho aquele conceito comigo de que casal cristão não deve brigar! Acho que em pelo menos isso devíamos ser diferente.

O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieWhere stories live. Discover now