7.3 ♿

675 99 3
                                    

Amanheceu. Bufei. Tive uma noite mal dormida, querendo tanto ouvir a voz daquele Homem. Será que me abandonou como todos os outros?

A rotina seguiu normalmente como todos os dias. Quando cheguei na clínica, - após meu pai ter ido me buscar no trabalho - a equipe que me cuidava estavam parados, em fila lateral, olhando seriamente para mim.

- Eu juro que não fiz nada. - estendi as mãos em forma de rendição. Esperei eles dizerem que era uma brincadeira, mas se manteve sérios. - Tá... O que aconteceu? - crispei os olhos.

Natalie se aproxima e se ajoelha perante a mim.
- J, precisamos conversar. O senhor pode acompanhar a gente, também? - se refere ao meu pai que presumo ter concordado, atrás de mim.

Seguimos para o consultório e toda equipe veio atrás. Eu estava com medo e ansioso. Se tudo isso passar de uma brincadeira, ficarei tremendamente irritado! Mais do que já estou.

Natalie se assenta em sua mesa e aquele loiro fica em pé, ao seu lado. Mas que po...

- J, precisamos que seja sincero com toda sua equipe. É necessário que comunique caso sinta algo diferente em você, pois, ontem mesmo, o FES conseguiu fazer esse raio-x... - vira a folha de cabeça para baixo e coloca sobre a mesa e com a caneta ela vai ditando. - Está sentindo alguma coisa diferente em seus pés?

Droga!

Eu não podia contar. Não agora. Seria uma surpresa que organizarei com um tempo para poder revelar.

- Não. - menti. - Se eu tivesse sentindo, lhe contaria. Você sabe meu sonho, Natalie. Sabe que se eu sentisse uma mísera coisa, ligaria rapidamente. - disse, ríspido. Isso, porque aquele loiro estava se sentindo prepotente ao lado dela. Como um lobo atrás de sua presa.

- Eu sei disso. Foi o que pensei enquanto estudava seu caso, mas o FES...

- Já entendi. Não tô sentindo nada e vamos logo com minha sessão de hoje. - rolei os olhos, manobrando a cadeira e deixando todos sem reação. Fui diretamente para o vestuário. Com certeza, faria alguns exercícios.

Arnaldo adentrou em dizer absolutamente nada. Deve ter percebido minha tremenda irritação. Me ajudou a trocar de roupa e empurrou minha cadeira até um espaço da clínica, onde eu faria os exercícios.

Eu não poderia demonstrar a sensibilidade em meus pés. Teria que ser sigiloso em relação a isso, qualquer vacilo eu seria descoberto. Não culpo Natalie, pois ela sabia que eu contaria a ela, mas aquele doutorzinho me tira do sério.

Monique chegou logo depois, junto com Emanuel. Tentaram descontrair, mas é impossível me fazer voltar ao normal.

Avistei Maurício conversando com Natalie de forma descontraída. Ela ria, enquanto anotava algo em sua prancheta e não podia perceber o olhar dele queimando de admiração e vontade de tê-la.

Ela deveria estar aqui, me observando e dizendo o que sua equipe deveria fazer e não de conversinha com esse poste!

- Seu ódio por ele está exalando. - Monique ri, sapeca.

- O que ela tanto conversa com ele? Não deveria estar aqui olhando meu progresso? Esse homem só pode estar me provocando. Mas eu te juro que no dia em que eu voltar a andar, quebro a cara desse poste. - desviei o olhar da cena ridícula.

- Calma, Natalie já deu a entender que não quer nada com ele e que ama você. Mas parece que o mesmo não gosta de levar um fora. Homem irritante!

- Monique, Maurício vai acabar lhe demitindo por ser tão bocuda. - Emanuel diz, entediado.

- Me erra! Está bem na cara que você também não gosta do seu patrãozinho, porque ele te faz de gato e sapato. - ela atiça.

Acho que chegou a minha vez.
- Vocês formam um belo par.

Eles param de fazer sua atividade e me encaram. Prendi o riso escandaloso em minha garganta.

- Eu? Com essa? - aponta para Monique com desdém. - Nunca!

- Nunca diga nunca, meu chapa. Eu alegava isso para os meus amigos quando conheci Natalie e olha para nós, hoje estamos noivos e em breve casados, cheio de filhos correndo pelas casa. - pisquei.

- Não inventa, Jay. Emanuel é um idiota, arrogante... - ela dá os ombros, empinando o nariz.

Olhei para Arnaldo desconfiado e ele riu.

- Você não fica por baixo. Fofoqueira e ignorante.

- Eu e Natalie começamos nosso relacionamento assim. - atiçei e os mesmos pararam na hora. Monique me deu um tapa forte no braço.

- Me arrependo do dia em que dei liberdade a você, Jay. - coloca a língua pra fora.

- Seu tapa dói. - acariciei a região agredida, gargalhando.

- Bom saber, querido. E para quem estava exalando ódio pelo nariz, me parece bem melhor. - disse.

- Vocês são divertidos, exceto Arnaldo que não teve a oportunidade de se abrir ainda, mas tenho certeza que é tão brincalhão quanto Emanuel. - falei.

- Arnaldo é cínico! - Monique exaltou. - Ele é pior que Emanuel, mas é que perto de você ele fica tímido.

- Ainda não tenho intimidade. - ele se defende.

- Cuidado, Jay. Ele é uma naja, amiga da sucuri. - assegurou e eu caí na gargalhada. Tão alta que chamou a atenção de algumas outras pessoas presentes.

Eu estava adorando aquele momento que me fez esquecer a tensão e o ciúme que sentia.

- Vejo que estão se divertindo. - Natalie se aproxima.

- Muito. - murmurei.

Maurício estava atrás dela.

- Fico feliz, J. Podemos passar lá na casa nova depois daqui?

- Por que não? E em breve faremos um culto de ação de graças; desejo muito que meus novos amigos estejam lá. - disse olhando para a equipe.

- Uau! Que arma vocês usaram para conquista-lo?

🌺

Natalie me levou até a nossa nova casa. Era grande, linda e confortável. A mesma observava as paredes com admiração; para cada canto ela tinha uma reação diferente.

- Já vim aqui várias vezes, mas todas as vezes parecem ser a primeira. - murmura.

- Eu gostei daqui. É bem a nossa cara.

Ela não me olhava, apenas encarava os cantos e detalhes.

- Verdade. Quando não estou me sentindo muito bem, venho para cá. Gosto de olhar para minhas conquistas quando penso que, talvez, o meu futuro não seja como sempre sonhei. - disse, com a voz embargada.

Inferno! Sou o culpado de tudo isso.

- Naty...

- Vamos olhar os quartos? - muda de assunto, seguindo para um corredor. Vou atrás dela. - Esse é o de hóspedes. - abre uma porta aleatória. - Esse é um quarto vago... - suspira e depois sorri. - Acho que é o da nossa filha. - E esse é o nosso.

É bem maior que os outros dois e tem uma suíte. Reparei que na parede onde fica a cama tem um quadro enorme com a foto do nosso noivado.

- Eu pensei em pagar a alguém para desenhar essa foto na parede inteira.

- Ficaria perfeito. - concordei. - Naty... Podemos marcar a data do nosso casamento?

Ela me olha com brilho nos olhos.

- Sim! Claro! - disse, animada. - É o que eu mais quero.

- Eu também.



"O impossível é pra
quem não tem um sonho..."

🌺

O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora