The lake

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18.09.2019 - 14:45
Los Angeles, Califórnia

Any Gabrielly

Às vezes, pensar pode ser perigoso. Claro que tudo depende do contexto, mas o que quero dizer é que muitas vezes, nossos pensamentos podem se tornar nossos piores inimigos. Pelo menos é assim comigo. Sempre que estou sozinha, meu inconsciente faz questão de trazer a tona todo o sofrimento, toda dor, toda culpa... Sim, porque a culpa foi minha. Ela não estaria lá, naquela noite, se não fosse por mim.

Ainda que considere justa toda essa tortura, faço o possível para fugir dela. Para isso, busco focar em outras coisas como livros, filmes, músicas e seriados. De vez em quando também tento me distrair assando biscoitos, exatamente como minha mãe fazia. Me traz boas lembranças, ajuda a relaxar e, bem, o meu pai adora.

Sair com os meus amigos não é uma opção. Ainda não me sinto preparada para isso. Tenho medo de que algo parecido com a noite do acidente volte a acontecer e não sei o que eu faria se perdesse mais alguém. Minha irmã, Shivani, diz que é tudo uma besteira, que eu não devo me privar de viver por receio, mas acontece que a situação foge ao meu controle. Apenas não consigo relaxar e viver o momento. Então prefiro ficar em casa, com a Gaya, minha Golden Retriever de um ano e meio. Ela tem sido minha melhor companhia.

Saímos juntas para espairecer algumas vezes, o que é totalmente diferente de sair com os meus amigos. Com eles seriam baladas e aventuras malucas, provavelmente em horários em que o papai precisaria me buscar, o que eu não aceitaria em hipótese alguma. Com a Gaya, posso ir onde tiver vontade, pois além de não me encher de questionamentos sobre como me sinto, ela consegue me distrair e ainda podemos voltar pra casa sozinhas. É exatamente o que faremos hoje.

Por incrível que pareça, acordei disposta a aproveitar um pouco do verão. Ele está no fim e, na próxima semana as aulas na escola serão retomadas, então me parece uma boa ideia aproveitar o tempo que ainda resta. Desde que mamãe faleceu, há exatos quarenta e seis dias, não quis mais sair de casa, mas por incrível que pareça sinto uma vontade incontrolável de levar Gaya para um passeio hoje. Não sei explicar o que motivou essa vontade repentina. Apenas sinto que devemos ir, como se forças superiores estivessem me guiando.

Decido que iremos até o lago que fica no fim bosque, há alguns quilômetros da minha casa, então salto da cama e vou ao banheiro arrumar os cabelos, que acabo prendendo em um rabo de cavalo bem simples. De volta ao meu quarto, separo roupas leves e confortáveis para suportar o calor. Coloco um biquíni sob o short jeans e a camiseta branca e, já em frente a varanda de casa, coloco uma toalha de banho na cestinha da minha bicicleta apenas por precaução. Gaya costuma correr para a água sempre que visitamos o local, depois fica pulando em mim e não pretendo voltar toda molhada pra casa.

Volto ao meu quarto apenas para enviar uma mensagem à Shiv, avisando que sairia. Ela levaria um susto se voltasse da casa da Hina, sua melhor amiga, e não me encontrasse por aqui. Seria capaz de chamar a polícia, no caso papai, com medo de eu ter feito alguma besteira mediante a sua ausência.

Deixo meu celular sobre a cama, coloco a coleira em Gaya, pego sua bola de borracha, uma sacola para recolher sua sujeira caso seja necessário e, então, saímos de casa. Quando monto em minha bicicleta e saio pedalando, a cadela me acompanha pelas ruas, claramente animada por estarmos fazendo algo além de ficar no quarto depois de tanto tempo. Devido ao meu recolhimento, Shivani foi a única a levá-la para passear nas últimas semanas, mas por ser mais próxima de mim, eu sabia que para Gaya não era a mesma coisa.

Touching Paradise • BeauanyWhere stories live. Discover now