Beautiful smiles

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18.09.2019 - 18:03
Los Angeles, Califórnia

Joshua

Estou na Terra há pouco mais de dez horas e me encontro maravilhado com tudo o que vi. Esse planeta é, sem dúvida, uma das obras mais belas do Criador. Usei minhas duas primeiras horas aqui para rodar o mundo. Visitei países como Tailândia, Grécia, Noruega, Índia, Brasil... Fiquei encantado pelas paisagens, a fauna, a flora. É uma pena que boa parte dos habitantes não faça questão alguma de cuidar do próprio lar. Pobres humanos... Tenho certeza de que mudariam seus hábitos se soubessem o que os aguarda caso continuem poluindo o meio ambiente.

Depois do meu tour pelo lugar onde residirei pelos próximos três meses, segui para a casa que o Arcanjo Gabriel providenciou para mim e os anjos que me acompanham nesta missão. Normalmente não precisaríamos de uma, mas agora que assumimos nossa forma humana, ainda que temporariamente, temos necessidades, assim como eles.

Joalin, Sabina e Noah não perderam tempo. Assim que demos uma volta por toda a casa e dividimos os quartos, todos partiram em busca de "conhecer" seus protegidos. Eu também teria partido se a pessoa que guardo não fosse tão diferente dos demais. Apesar de ser jovem e estar de férias, Any Gabrielly não gosta muito de sair de casa, o que dificultaria consideravelmente minha missão. Mas eu ainda precisava encontrá-la e não desistiria facilmente, por isso decidi recorrer a um dos meus poderes.

Antes de nos enviar a Terra, Gabriel avisou que, apesar de ainda podermos transitar por diferentes dimensões, enquanto humanos, teríamos acesso limitado a nossos poderes. Poderíamos ir de um lugar para outro num estalar de dedos (o que me permitiu conhecer boa parte do planeta em tão pouco tempo), ler a mente das pessoas, continuar aconselhando mentalmente nossos protegidos caso necessário, e usar nossa habilidade de cura em certas situações. Por outro lado, nesta condição, podemos sentir tudo o que os humanos sentem: fome, dor, ainda que não possamos nos machucar ou sangrar, frio, sono, cansaço. Isso também vale para os sentimentos, algo que eu estava ansioso por experienciar.

Para fazer com que Any saísse de casa, fiz uso da minha influência sobre ela. Enviei tantas mensagens mentais sugerindo que ela levasse Gaya para visitar o lago que a garota certamente acabaria cedendo. Graças aos céus foi justamente o que aconteceu. Any me ouviu, o que a levou diretamente para o passeio.

Esperei tempo suficiente até que ela chegasse ao seu destino. Quando soube bem como encontrá-la, também saí de casa. Apenas estalei os dedos e cheguei ao lago. Logo avistei a garota na água, brincando com sua cadela. Ela sorria como há muito não fazia. Isso me fez sorrir também. Senti algo estranho no peito, seguido de um frio na barriga. Era meu primeiro sentimento humano. Sorri ainda mais ao constatar que o nome daquilo só podia ser alegria. Era bom vê-la assim, descontraída, totalmente o oposto do que me motivou a deixar o céu para cuidar dela pessoalmente.

Me atrapalhei um pouco quando fui me apresentar a ela. Eu não tinha a intenção de assustá-la, nem deixar que Any caísse daquela bicicleta, mas não posso negar que o acontecimento me ajudou consideravelmente. Foi a desculpa perfeita para convencê-la a me deixar lhe fazer companhia até a casa onde reside desde o nascimento.

Agora que me despedi dela, sigo caminhando pelas ruas do bairro. Eu poderia simplesmente estalar os dedos e aparecer em minha nova casa, mas preciso ser humano pelos próximos meses, é melhor agir exatamente como um agiria. Não seria nada bom levantar suspeitas acerca da minha... humanidade.

Sorrio animadamente ao me lembrar da minha protegida e dos lindos sorrisos que me deu enquanto conversávamos. Sinto que ela simpatizou comigo, o que faz com que meu dia tenha sido bastante produtivo. Espero que os outros anjos tenham feito tantos progressos quanto eu, principalmente Joalin. Não quero nem pensar nas consequências que ela sofrerá caso falhe nesta missão. Ser expulso do céu é a punição máxima a que um anjo está sujeito e nenhum de nós deseja passar por isso.

Tiro as chaves do bolso assim que chego em frente a casa azul. É diferente das casas que temos em Caelum, o céu dos anjos, mas é aconchegante e adorável. Gabriel se encarregou de colocar nela tudo o que os humanos fazem uso no dia a dia para que não tivéssemos que nos preocupar em trabalhar para conseguir dinheiro. Isso tomaria muito de nosso tempo e, consequentemente, comprometeria nossa missão. Observando os eletrodomésticos e objetos de decoração, me recordo de algo que ouvi Any dizer. Preciso de um celular com urgência. Como foi que Gabriel se esqueceu de nos dar um desses?

— Já está em casa? — Noah pergunta assim que subo as escadas que levam ao segundo andar, onde ficam os quartos. Nos encontramos no corredor. — Pensei que levaria um pouco mais de tempo para retornar. Você saiu depois de todos nós e sei como sua protegida reage mal a tentativas de comunicação.

— Pois saiba que ela reagiu bem dessa vez. — sorri pra ele. — Nós conversamos um pouco. Any foi muito simpática. Precisei fazer uso dos meus poderes a princípio, mas depois foi tudo por conta dela. Acho que tenho boas chances de me tornar seu amigo.

— Que bom! Fico feliz em saber que está progredindo. — ele também sorri um pouco. — É uma pena eu não ter tido a mesma sorte que você. Acho que terei dificuldades em me aproximar do Krystian. — lamenta.

— Não se desespere, meu amigo. — coloco a mão em um de seus ombros. — Foi apenas o primeiro dia. Sei que três meses passam num piscar de olhos, mas é tempo suficiente para cumprirmos nossas respectivas missões.

— Deus te ouça. Não quero que meu protegido continue seguindo por maus caminhos. — ele suspira. — Joalin e Sabina ainda não voltaram. Você poderia me ajudar a preparar nosso jantar? Sentir fome é bem incômodo. Meu estômago fica fazendo barulhos esquisitos, como trovoadas. Parece que tem algo errado com o meu organismo.

— Sim, eu posso te ajudar. — dou risada. — Mas antes preciso de um banho. Ficar suado também é muito incômodo. Estou perdendo meu aroma de flores e meu cheiro está ficando ruim. É a primeira vez que isso acontece.

— Realmente, é muito estranho. Ser humano é meio nojento. — ele concorda. — Você já viu o que acontece quando sua barriga dói? — neguei com a cabeça. — Então nem queira ver, ou melhor, nem queira sentir. É como se liberássemos bombas de fedor. — Noah fez uma careta. Franzi o cenho, o observando. —  Pelo menos temos um grande estoque de sabonetes, desodorantes e perfumes. Estão no armário do banheiro. Acabei de usar. Quer sentir o meu cheiro?

— Não, Noah, eu não... — mas meu amigo é mais rápido e segura meu rosto, levando-o até seu pescoço. — Caramba, isso é bom!

— Eu sabia que iria gostar. — ele me solta, sorrindo animado. — Não é o máximo? Estou cheirando exatamente como um bebê.

— Eu adorei. Vou me apressar no banho, está bem? Assim poderemos preparar o jantar. — digo e ele assente. — Enquanto isso, pode procurar alguma receita para prepararmos? Acho que será necessário, já que não sabemos cozinhar.

— Nunca precisamos comer antes. — ele dá de ombros. — Vou procurar alguma coisa na biblioteca. Deve ter algum livro de receitas.

— Tudo bem. Eu não demoro. — começo a caminhar em direção ao banheiro, mas me detenho por um instante. — Ah, Noah!

— Sim? — ele me olha.

— Pode contatar Gabriel através do portal dos anjos? Ele esqueceu de nos dar coisas indispensáveis para a sobrevivência nesse mundo.

— Que coisas? — meu amigo parece confuso.

— Celulares!

Touching Paradise • BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora