Twins day

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09.10.2019 - 06:15
Los Angeles, California

Any Gabrielly

Acordo ofegante, com a boca seca e o corpo suado. Sento-me rapidamente na cama e, após passar as mãos pelo rosto, abraço minhas pernas, nervosa. Lágrimas discretas me escapam enquanto uma sensação horrível domina meu peito. Sinto tristeza, remorso, dor.

— Calma, Any, foi só um pesadelo. Apenas mais um maldito pesadelo. — sussurro para mim mesma na tentativa de me acalmar.

O problema é que sei não se tratar de um simples pesadelo. São lembranças vívidas dos últimos momentos de vida da minha mãe. Elas têm me atormentado em sonhos nos últimos dias e não sei o que fazer para que desapareçam. Infelizmente não é algo que eu possa controlar. Parece meu inconsciente insistindo em me punir, o que é uma droga. Ainda que a culpa persista, eu jurava que estava começando a superar. Jurava que estava, aos poucos, retomando minha vida, como Shiv costuma dizer.

Essa crença se deu logo depois de Josh cruzar meu caminho. Quando ele apareceu, semanas atrás, senti algo mudar. Eu, que passei boa parte do verão trancada em casa, sem falar até mesmo com os meus amigos, quis conhecer um pouco mais daquele garoto tão intrigante e não me arrependo. De certa forma, ele foi um ponto de paz em meio a tormenta. Josh trouxe cor ao meu mundo preto e branco. Eu, que sempre amei azul, encontrei em seus olhos meu tom preferido. Sua presença constante em meu dia-a-dia parecia neutralizar meus demônios.

O problema é que eu caí na besteira de me apaixonar e — ao que parece — para ele deveríamos ser apenas amigos. Meu coração teimoso não curtiu a ideia e simplesmente me levou a beijá-lo. Depois disso as coisas desandaram totalmente entre nós, tanto que encerrei nossa última conversa pedindo que Josh se afastasse e, bem... ele tem respeitado meu espaço.

Não nos falamos há cinco dias. Nem uma mensagem sequer. Curiosamente, foi nesse meio tempo que os pesadelos apossaram-se das minhas noites de sono. Agora sinto que estou regredindo. Pode parecer loucura, mas esse fato só reforça a minha teoria de que nossos caminhos não se cruzaram por acaso.

Um pouco mais calma, volto a me deitar e pego meu celular na mesa de cabeceira. Solto um grunhido em frustração ao ver que ainda são 06:15 da manhã. Acordei quarenta e cinco minutos mais cedo. Pesadelo dos infernos! Aproveito que ainda tenho pouco mais de meia hora antes de começar a me arrumar para a escola e dou uma olhada rápida em minhas redes sociais.

Estou distraída rolando o feed do Instagram quando ouço o leve ranger da porta. Apoio-me nos cotovelos e observo Gaya entrar discretamente no quarto, trazendo um envelope preso a coleira. Volto a me sentar e abro um sorriso ao fazer sinal para que ela suba na cama. A lindinha o faz, obediente como sempre.

Seu comportamento se dá por ter sido adestrada em seu antigo "lar". Antes de entrar para a família, Gaya era da polícia, assim como o meu pai. Na verdade, ela quase foi. Acontece que minha bebê não levava jeito para a coisa, então acabou sendo dispensada por ser muito dócil. Meu pai, que já era apaixonado por ela, acabou adotando e trazendo para casa.

— Oi, menina! — acaricio seu pelo macio. — Isso é para mim? Obrigada! — pego o invólucro e observo atentamente.

Trata-se de um envelope de carta na cor azul royal. Não há nada escrito, o que só atiça minha curiosidade. Retiro o selo dourado, bastante comum, e abro com cuidado. O que encontro me surpreende. Há um bilhete que diz:

Touching Paradise • BeauanyWhere stories live. Discover now