Good night, Any!

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25.09.2019 - 00:35
Los Angeles, California

Joshua

Enquanto o sono não chega, viro-me de um lado para o outro na cama. As palavras ditas por Any mais cedo, quando estávamos conversando, não saem da minha cabeça.

"Acho que enquanto estiver comigo, Josh, sim, eu ficarei bem." — ela disse.

Embora tenha se desculpado e ficado totalmente constrangida logo em seguida, sei que aquilo foi exatamente o que a garota quis dizer, não por ter lido sua mente, — eu não o fiz naquele momento. — mas pela espontaneidade com que cada palavra foi pronunciada.

Any se sente bem ao meu lado. Ela me quer por perto.

Sento-me na cama sem saber como me portar de agora em diante. Não posso me afastar dela outra vez. Isso atrapalharia o segmento da missão. Mas se não o fizer, quando eu for embora, pode ser que ela sofra ainda mais. Nesse caso, a missão terá sido uma grande perda de tempo.

Fico de pé e começo a andar pelo quarto, sentindo-me inquieto. Meus pensamentos se direcionam novamente a minha protegida. Pergunto-me se ela dorme em paz ou se está acordada, também pensando sobre os últimos acontecimentos. Bem, é claro que ela não está pensando sobre isso. Não faz a menor ideia da situação em que se encontra.

De repente, sinto a necessidade de vê-la, só para me certificar de que tudo está bem. Incapaz de conter esse instinto, decido fazer uma visita. Fecho os olhos, mentalizo o quarto de Any e estalo os dedos. Quando abro, vejo a garota na cama, dormindo serena. Me aproximo a passos lentos, tomando cuidado para não fazer barulho. Ela tem sono leve e não posso arriscar ser visto.

Ajoelho-me no chão, perto da cabeceira e a observo da mesma forma que fiz tantas outras vezes. A diferença é que antes, não podia tocá-la, nem ser visto por ela. Nunca estive aqui de corpo presente, era uma espécie de projeção astral. Sempre que a via sofrendo, sentia uma angústia enorme. Eu sentia sua dor, como hoje, quando estávamos juntos, só que de forma sutil. A experiência que tive mais cedo foi muito mais forte, tanto que agora é como se estivéssemos ainda mais interligados.

Quando vi suas lágrimas rolarem, finalmente pude ampará-la como sempre desejei. Pude confortá-la, mostrar que estava ali por ela. Naquele momento, tudo o que eu queria era vê-la sorrir, que ela se sentisse segura, que ficasse bem. Infelizmente, as coisas não são tão simples. Sentimentos não podem ser controlados.

Any sentia dor, vazio, abandono e, por mais que desejasse, eu não podia transformar tudo aquilo em emoções positivas. Somente ela tem esse poder. Ao pedir que se abrisse e contasse sobre sua mãe, minha intenção não era causar mais tristeza, embora soubesse que aconteceria. O que fiz foi iniciar sua jornada pelo caminho da cura.

Quando sofrem, humanos tendem a reprimir essas emoções, sem saber que na realidade, estão apenas alimentando seus demônios, tornando-os mais fortes. Para ser superada, a dor precisa ser sentida. Any só será capaz de voltar a ser o que era quando encarar de frente o que houve e finalmente entender que não teve culpa alguma pela morte da mãe.

Respiro aliviado ao constatar que, no momento, a garota encontra-se em paz, descansando em um sono profundo, ainda que sem sonhos. É melhor do que estar perdida em pesadelos. Contudo, decido presentea-la com algo que a fará sorrir ao despertar. Sim, Any terá bons sonhos essa noite. É o mínimo que posso fazer depois do que houve na escola. Satisfeito, deixo um beijo suave em sua testa e volto a me afastar, pronto para retornar ao meu quarto.

Touching Paradise • BeauanyWhere stories live. Discover now