Capítulo um

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Em alta velocidade, era assim que o carro de um casal se locomovia por uma estrada deserta e cercada por árvores. A noiva gritava de dor no banco do passageiro, prestes a dar a luz.

- Vamos Harry. - ela que costumava ser tão doce e amorosa, estava transformada em uma fera por conta dos hormônios da gravidez. - Sua filha está prestes a nascer!

- Não me deixe nervoso, Elisa. - Harry revisava seus olhos entre ela e a estrada, diferente de sua futura esposa, ele tentava se manter calmo e no controle, só que o controle da situação escapava por entre seus dedos.

Elisa respirava fundo várias e várias vezes, apertando com força o estofado do banco, soltando gemidos e se contorcendo, sua barriga estava imensa e ela mantinha as pernas um tanto abertas. A chuva antes era leve, mas para aumentar o desespero do casal, ela engrossou. Piorando o momento cem por cento, o veiculo apagou, "morrendo" e os deixando sem combustível no meio da estrada.

- Droga! - Harry era um homem calmo, mas naquele momento, foi impossível manter sua calmaria. Não após ele perceber o que estava acontecendo ali.

- Eu não acredito que você esqueceu de colocar gasolina! - Elisa exibiu toda sua raiva em um rosnado. Ela estava alterada, o que era compreensível dado ao fato de que havia um bebê prestes a sair de dentro de seu corpo. Seu noivo deu um sorriso sem graça para ela, encolhendo os ombros em uma tentativa de pedido de desculpas. Ele era o típico adulto que não deixará de ser uma criança, sendo muito brincalhão e atrapalhado.

Sabendo que precisava reagir de alguma forma e levar a grávida zangada até o hospital local, Harry colocou seu capuz e pulou para fora do carro, sendo recebido pela chuva que não havia parado de cair. A rua estava deserta mas ainda assim ele parou no meio dela e começou a sacudir seus braços em busca de conseguir alguma ajuda. Obviamente havia checado seu celular antes e não conseguirá sinal, não poderia entrar em contato com ninguém que pudesse resolver a situação.

Por breves minutos que pareceram horas enquanto ele ouvia urros da mulher, nenhum veículo surgiu. Mas após isso, finalmente, a salvação chegou. Um carro vermelho foi parando lentamente após identificar um homem pulando no meio da estrada. Harry se aproximou sem cautela alguma e enfiou sua cabeça para dentro do vidro que lentamente foi se abaixando e revelando um homem no banco do motorista e dois jovens no banco do carona.

- Por favor, senhores, eu preciso de ajuda. - Seu corpo todo estava agitado, molhado, e o desespero estava mais do que nítido em sua expressão facial. - Minha noiva está prestes a dar a luz, acabamos ficando sem gasolina...

O motorista embora desconhecesse aquele homem, ordenou de imediato que os dois adolescentes ajudassem a levar a mulher para dentro do carro e mais do que imediatamente foi obedecido, talvez os garotos não estivessem fazendo aquilo pela autoridade dele mas sim porque assim como o mesmo, eram solidários e não deixariam uma mãe dar a luz sem os cuidados necessários.

Não demorou muito e eles surgiram carregando a grávida, que estava no colo de ambos os dois, gritando enquanto praticamente os enforcava com os braços por cima de seus ombros, sua expressão variava entre dor e força e ela parecia querer esganar o marido vivo, ele continuava se atrapalhando em cada obstáculo que surgia naquela noite.

Graças aos céus, depois de tudo, não demorou muito para que eles chegassem ao hospital, aonde logo foram recebidos e atendidos com urgência, pois aparentemente, o bebê não esperaria mais meia hora para nascer. Harry assistiu todo o parto, assim como os três estranhos, pois não havia o menor tempo para formalidades. Assim que a criança abandonou o ventre da manhã e soltou o seu primeiro sinal de vida, através de um choro, o pai caiu desmaiado no chão.

Um dos rapazes, que ajudou aquele casal a chegar até o hospital, não conseguia tirar os olhos da menina, suas pupilas estavam dilatadas e brilhosas, ele parecia emocionado.

- Você quer segura-la? - a mãe do bebê perguntou, ao perceber a forma doce com a qual aquele desconhecido encarava sua filha. Em seguida, ela disse para a médica, ainda com a voz fraca: - Pode alcança-la para ele.

- Ela é linda... - o garoto murmurou, encantado ao pegar o ser tão pequeno e inocente em suas mãos, sabia muito bem que segurava algo para todos naquela sala, valioso. - Como se chama?

- Anne.- Elisa murmurou, dando um sorriso radiante.

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora