Capítulo quinze

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A vontade que Anne tinha era de ir até Daniel e faze-lo comer as rosas que segurava. Estava um pouco distante do casal e não podia ouvir a conversa, mas era nítido que ele se desculpava e dava alguma explicação meia boca. Após alguns minutos ouvindo o namorado, Zoe sorriu triste para ele e o abraçou, aceitando as rosas e a desculpa esfarrapada.

  - Dar rosas deveria significar algo bonito, mas se tornou uma forma de babacas tentarem amenizar seus erros. - Ao seu lado, Jason murmurou, ele parecia tão irritado quanto sua irmã.

  Em silêncio e confusa por sua irritação, Anne o avaliou, seu corpo estava tenso e os músculos rígidos o deixava ainda mais bonito. Aquela era uma das raras vezes na qual virá o garoto zangado, o mundo para ele sempre fora diversão.

  - Você gosta dela, não gosta? - perguntou baixinho, juntando os pontos. Lembrando de como seu irmão olhava para Zoe e de como estava olhando para ela abraçada em outro rapaz. - Você cuida dela desde que éramos crianças... Você adora irrita-la e ainda assim vive dando um jeito de faze-la sorrir e nós dois sabemos que ela não sorri muito. Está sempre espantando os caras que tentam sair com ela e vive dizendo que faz tudo isso porque a vê como uma irmã. Mas a forma que você a olha... Jason... Você olha para ela com amor, e não é o mesmo jeito que você olha para mim, sua irmã.

  - Você precisa parar de ver filmes clichês. - Respondeu frio, após alguns segundos em silêncio nos quais Anne pensou que ele fosse admitir. Ela até pensou ver algo diferente passar por suas íris, mas em um piscar de olhos, já não estava mais lá. Quando ele saiu dali mais irritado do que o necessário, foi o que bastou para ela ter certeza de que estava certa. Jason era apaixonado por Zoe. Por isso não levava nenhuma outra garota a sério.

  - Fala sério! - Anne revirou seus olhos ao ver sua melhor amiga subindo na moto de seu namorado mal caráter.

  Devido aquele pequeno desentendimento dela e de seu irmão, não iria de carro com ele nem que a vaca tossisse. Jason quase nunca ficava mau humorado, mas quando ocorria, o recomendável era ficar o mais longe possível dele e de sua falta de humor.  Então sem pensar muito a respeito, decidiu que faria o caminho de volta para sua casa a pé, precisava mesmo espairecer um pouco.

  Andar por aquelas ruas lhe trouxe certo medo, pois ela lembrou-se do dia que fora assaltada ali nas mesmas. Mas ela não se deixou abater por aquilo, ergueu sua cabeça e continuou seguindo adiante com sua melhor atitude confiante. Não era o tipo de garota que recuava ou se deixava mudar por traumas. 

   As paranoias não entenderam sua vontade de evita-las e logo suas mãos suavam e o calafrio percorria por sua espinha. Sua mente traumatizada lhe fazia pensar que novamente estava sendo seguida. Ela se concentrou em seguir seu caminho e não dar ouvidos para a vozinha em sua cabeça que lhe mandava olhar para trás, mesmo se esforçando o máximo que pode, não se conteve e em um ato desesperado, sua cabeça se virou.

  Mais uma vez entre todas as outras, estava certa. Havia um rapaz atrás dela, se fosse qualquer rapaz ela diria que poderia ser só alguém seguindo o mesmo percurso. Mas não aquele, ela já virá aquele rosto antes e fora de uma forma bem bizarra. Charles. Ela correu como um cordeirinho fugindo de um lobo faminto. O medo que estava sentindo naquele momento já era familiar, pois estiverá sentindo ele a dias por conta das coisas surreais que estavam acontecendo.

  Realmente Anne não sabia o porquê, mas em fuga não fora o rumo de sua casa a qual tomou e sim outro, seus pés agiam com vida própria lhe levando por um caminho que ela não conhecia mas seu corpo parecia saber exatamente para aonde estava lhe levando, como se Anne Smith não estivesse mais no controle de si mesma.

  Desse mesmo modo automático seu corpo parou em frente a uma casa nada familiar. De uma forma extremamente estranha se sentiu acolhida em frente aquela residência como se ela fosse uma proteção para o mal que estava querendo lhe pegar.

   O acontecimento era estranho mas como estava entre a cruz e a espada, adentrou dentro da moradia com velocidade. Afinal, a última vez que tiverá uma intuição, ela estava certa. De qualquer forma acontecesse o que fosse, podia pedir ajuda para os moradores da casa. 

  Sem sequer pensar em bater abriu a porta como se o lar fosse seu. Estava quase chorando de nervoso. Uma vez que estava dentro do ambiente, fechou a porta com rapidez e encarou a mesma por alguns segundos, tentando controlar sua respiração acelerada.

  Nem em mil vidas Anne Smith imaginou que entraria justo na casa dos misteriosos alunos novos. Mas quando se virou fora exatamente eles dois que encontrou parada as suas costas, com os braços cruzados. Além deles, Cassandra, a aluna nova, estava presente. Diferente dos demais, a menina tinha suas mãos caídas e juntamente com os seus companheiros ela parecia surpresa a fitar a menina, a mesma também estava ao vê-los.

  - Desculpem... Tinha alguém me seguindo... - não conseguia controlar a velocidade com a qual as palavras pulavam para fora de sua boca e ela era muito rápida. Além disso, seus gestos e sua respiração estavam agitados. - Foi a primeira casa que eu vi e...

  - Peguem um copo d'água com açúcar para ela. - Cassie disserá sem precisar de mais nada para acolher a garota.

  Em meio ao seu desespero, Anne sentia que o ar não lhe entrava mais no pulmão. Estava um tanto desnorteada e quando percebeu Cassandra e Austin já haviam guiando-a até uma pequena sala de estar aonde a sentaram em um sofá confortável.

  - Aqui, beba. - Sebastian a entregou um copo, ela arriscou olhar rapidamente para ele e percebeu que em sua face havia uma expressão preocupada. Talvez não devesse criar teorias românticas em sua cabeça, a situação realmente era preocupante. Qualquer um se preocuparia.

  - Obrigada. - após ter engolido o líquido ela suspirou, segurando o copo com mãos trêmulas. Ainda estava nervosa mas sentiu que seu corpo havia relaxado consideravelmente na presença daqueles três jovens.

  - Agora que você está mais calma, quer nos contar o que aconteceu? - perguntou Cassie, seu rosto era suave tentando lhe passar a mesma tranquilidade.

  - Eu... - Anne murmurou com os olhos baixos, estava envergonhada pelo estado no qual aqueles estranhos haviam lhe visto. Menos que não conhecesse Sebastian, ficou sem jeito por estar tão vulnerável na frente dele.

  - Me deixem sozinha com ela. - Como se pudesse ler seus pensamentos, Cassandra pode ver com nitidez o quanto ela estava desconfortável.

Austin entendeu a situação facilmente e saiu assim que fora pedido. Mas Sebastian pareceu hesitar um pouco, olhando com pesar para Anne, mas a mais um olhar de repreensão que Cassandra lhe lançou, ele coçou sua nuca sem jeito e finalmente saiu, não antes de olhar novamente na direção da ruiva.

  - Eles já foram. Pode me contar agora. - Cassie disse e a outra se sentiu como uma criança sobre o olhar atencioso de um adulto.

   - Foi como eu disse... - Anne pensou que não conseguiria falar sobre as coisas estranhas que estavam acontecendo com ninguém, principalmente com uma estranha. Mas quando olhou nos olhos daquela garota, se sentiu mais próxima dela do que de qualquer um que cruzará seu caminho. - Tinha um garoto me seguindo e não é a primeira vez que eu o vejo. Acho que talvez eu esteja sendo perseguida.

  - Isso é bem estranho. - A outra achará que Cassie demonstraria uma reação mais surpresa ou quem sabe olharia para ela como se a mesma estivesse louca. Mas não, a loura parecia muito neutra e até lhe passou confiança. - Você pretende ir a polícia?

  - Não. Eu não posso. - Ela sabia que era o que deveria fazer e o que qualquer um faria em uma situação como aquela. Mas Anne sabia que aquilo de certa forma ia muito mais além do que um simples stalker perseguidor. Estava realmente atônita e surpresa com seus próprios pensamentos. Parecia que eles nem lhe pertenciam. Como se houvesse em sua mente a resposta para tudo aquilo, mas estivesse bloqueada.

  - E o que pretende fazer? - Natural como se falasse de algo casual, Cassandra questionou.

  - Eu só quero esquecer tudo isso. Podemos fazer isso? - A voz dela era baixa e dolorida, Anne estava realmente com medo de tudo. Quando olhou para a loura sentiu como se elas tivessem algum tipo de laço. - Talvez eu esteja enganada e ele não seja a mesma pessoa.

  - Fique tranquila, nada vai lhe acontecer. - a voz de Cassie era tão firme que por um momento Anne pensou que ela sabia do que estava falando. Mas a sua parte racional dizia que a jovem havia só tentado acalma-la.

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoWhere stories live. Discover now