Capítulo trinta e nove

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  - Nossa... - Anne murmurou encarando seu reflexo no espelho, enquanto deslizava a mão por sua face em um ato de descobrimento. Seus cabelos ruivos estavam louros, seus olhos verdes, azuis, sua pele um pouco mais branca e seus lábios maiores.

- Vamos? - ouviu o barulho da porta sendo levemente aberta e através do espelho pode ver o rosto de Austin nela.

- Não finja que eu tenho escolha. - ela cruzou os braços com força sobre o peito e fez bico, o que só serviu para lhe deixar parecendo uma criança mimada.

- Você está realmente igual a ela... - o louro murmurou, ele prestava totalmente atenção nela. O que fez Anne perceber que aquela deveria ser a forma que Cassie ficava quando estava zangada com algo, o pensamento lhe deu vontade de rir, mas se conteve.

- Você gosta dela. - Observou, percebendo como a expressão dele mudava diante da beleza de Cassandra.

- Hã... - ele mexeu nos cabelos, desconfortável. Era óbvia a reposta, mesmo que Austin não a tivesse dado. - Temos que ir. Você está pronta?

- Vamos acabar logo com isso. - com aquela pergunta ele a fizera se lembrar do que de fato estava acontecendo ali, um sequestro, por um momento sentiu como se estivesse na presença de um amigo.

- Ótimo. Vamos. - ele concordou fitando o chão, parecia tão magoado e Anne se questionava se algo no plano deles estava saindo de controle.

A estação ali, era diferente das outras, era inverno e como nos filmes natalinos, nevava. Tudo era muito bonito e surreal, como se estivesse dentro de um mundo paralelo aonde árvores comandavam seus galhos, existia criaturas fantásticas e tudo era mágico.

- Eu sei. É lindo. - Austin murmurou percebendo que ela estava boquiaberta e encantada, abrirá a boca para falar mas palavra alguma saia.

- E frio... - comentou, ainda examinando o mundo de fantasia que lhe cercava.

- Nem sempre foi assim. Antes da maldição esse lugar costumava ser um eterno verão... - ele não se  conteve em sorrir quando mais uma vez encarou os seres encantados daquele lugar mágico, mesmo em um inverno terrível, mesmo com o tempo congelado, aquele lugar era a representação de felicidade e alegria, uma cidade de plástico aonde tudo era perfeito e a vida era bela.

- Maldição... - repetiu as palavras como se finalmente ligasse os pontos, lembrou-se do sonho mais estranho que tivera alguns meses atrás, o primeiro sinal de seu passado. Fechou seus olhos com força quando a lembrança venho, imagens de um cenário frio, deprimente e congelado... Aquele lugar, podia perceber claramente que era o Reino Encantado. As pessoas congeladas, o arco nas costas da estátua com expressão de desespero... Era Cassandra. O guerreiro... Austin. Finalmente tudo fazia sentido. Mas quem era a bela dama que lá lhe disse coisas estranhas?

- Ei. Você está bem? - Austin lhe analisava com cuidado e atenção, segurando-a delicadamente quando percebeu que suas pernas haviam fraquejado.

- Eu... Eu preciso de água. - respondeu pausadamente por conta da tontura.

- Certo. Fique tranquila. Me espere aqui. - a preocupação nos olhos dele era sincera e Anne quase se sentiu mal pelo o que estava prestes a fazer. Quase.

Mesmo que não soubesse o caminho e tivesse mais dúvidas do que antes, fez o que prometeu a Charles que faria, fugiu e procurou pelos portões, precisava abrir-lhes a passagem, pois ele prometeu que eles iriam lhe resgatar.

Correu o mais rápido que suas pernas permitiam, olhando para os lados em busca de qualquer coisa que lhe indicasse o caminho a seguir. Mas estava por conta própria pela primeira vez em muito tempo.

As pessoas ao seu redor, ou melhor, as criaturas, seguiam suas rotinas sem ao menos imaginar que entre eles, disfarçada, estava sua rainha. E essa mesma, tinha um chilique interno sem saber como proceder.

Engoliu em seco e parou de correr, se dando conta de que não fazia ideia de para aonde estava indo. Precisava de um rumo.

Estava descontrolada, passou as mãos nos cabelos e suspirou, exasperada. Estava perdida, mas logo sua magia lhe deu apoio e uma luz branca surgiu em sua frente. Ela tentou segurar aquela pequena fagulha, mas a mesma saltitou para longe de seus dedos e saiu voando com o vento, rapidamente Anne se pôs a correr de novo, seguindo-a.

Por mais que seus pulmões gritassem por uma pausa, aqueles com quem esbarrava e as vezes derrubava suas coisas, protestassem, ela só parou quando assim a pequena luz também o fez.

Engoliu em seco, mais uma vez havia feito magia, e mais uma vez a magia havia salvo sua vida. Pois estava diante de um portão enorme, com estampas do universo, brilhante e provavelmente muito bem trancado.

Demorou alguns segundos para perceber que ao se aproximar dos portões, magicamente desenhos digitais de mãos apareceram em sua parede e todos eles continham nomes. Rainha Candice. Princesa Mia. Rei Dominic. Muitos outros nomes acompanhado por conselheiros e por último, Guardião Austin.

Mesmo que não tivesse chegado a uma conclusão concreta do que deveria fazer, Anne seguiu sua intuição e colocou sua palma sobre  a mão nomeada por seu antigo nome, o nome que alguns ainda insistiam em dizer que era seu.

Ao reconhecer suas digitais, o portão se abriu com naturalidade para a surpresa e agradecimento da garota, estava com medo extremo de ter que enfrentar mais um dilema, não aguentaria.

- E agora? - perguntou para si mesma, parada sem entender o que tinha que fazer a partir dali. Tudo o que Charles falara era que ela devia abrir os portões, eles deveriam estar ali esperando, mas não estavam...

Depois de raciocinar por algum tempo, percebeu que de fato não havia muito o que pudesse ser feito, a não ser voltar para aonde estava anteriormente, afinal, era lá que seu irmão iria lhe buscar.

Voltou a correr, tentando repensar o caminho que fizera para chegar até ali. Precisava reencontrar Austin e voltar para seus sequestradores. Era a única saída que tinha até que fosse resgatada.

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoWhere stories live. Discover now