Capítulo trinta e seis

39 10 4
                                    

   Cassandra havia posto uma boa música para tocar, a melhor de sua playlist, roupas velhas e confortáveis, uma borrachinha prendia seus cachos em um coque um tanto desajeitado.

Dizem que um quarto segue a personalidade de seu dono, é o que torna a casa em um lar para cada pessoa. Mas desde que chegara ali, Cassie nunca tivera a sensação de que estava em casa, o seu lar sempre fora em Magic city, mas finalmente estava aceitando que aquela casa, havia lhe acolhido e que agora, em sua nova vida, aquele era o seu lar.

Apesar das complicações que tiveram na batalha, ela estava tentando relaxar e se distrair, por isso ficou animada quando teve a ideia de finalmente decorar seu quarto e transformar aquela casa em seu lar.

Mesmo sem ter a menor experiência com pintura, estava disposta a tentar, afinal, qualquer resultado daria para o lugar um pouco de cor, era tudo do que precisava e afinal de contas, já pintará seu quarto anterior. Não ficara perfeito, mas bonito o suficiente para deixa-la feliz com o resultado.

Dançando e cantado ela molhou o rolo na tinta, levando-o até a parede logo em seguida, pingando algumas gotas no processo. Por sorte, havia distribuído panos pelo quarto para o caso, claro, de possíveis acidentes.

A música que tocou a seguir, tocou o coração de Cassandra pois a fez recordar-se de um momento alegre ao lado de suas duas melhores amigas. Aonde vestidas de líderes de torcidas, ela e Mia tentavam ensinar alguns passos de danças para uma Helena muito desajeitada.

- Au. - murmurou Elena quando na tentativa de acompanhar as amigas em um giro, tombou de bunda no chão. Ela ficou séria por segundos e as amiga também mas foi só a garota soltar um risinho que as duas lhe acompanharam e logo a risada se tornou gargalhadas exageradas. Ela era realmente muito ruim naquilo.

A lembrança feliz e nostálgica fizera Cassie rir e ainda assim derrubar uma lágrima, jamais aceitaria a morte da doce Elena. Elas eram e sempre seriam um trio.

- Está chorando de tristeza ou felicidade? - a voz rouca fez com que ela se apressasse em secar o cantinho dos olhos antes de se voltar para a porta.

- De saudades... - murmurou enquanto descia seus olhos pelo corpo másculo e rígido de guerreiro que o guardião possuía. Ele assim como ela, usava roupas casuais.

- A saudade é boa, significa que você teve momentos bons. - ele deu um meio sorriso e pareceu recordar-se de seus próprios momentos, mesmo que brevemente.

- É realmente uma pena que os meus momentos mais felizes estejam no passado, queria ser capaz de construir novas e boas memórias.

Olhando para ela com a expressão de um cachorrinho sem dono, Austin sentiu raiva de todos os momentos que levaram aquela garota tão forte a parecer tão pequena, vulnerável e indefesa. Ela estava machucada e pensar naquilo o machucou também, precisava faze-la sorrir. Então se aproximou com expressão neutra para não entregar suas intenções, molhou o pincel na tinta enquanto ela ainda estava distraída fitando o chão com tristeza, em seguida espirrou o líquido colorido na roupa dela.

- O que você está fazendo? - ela ergueu seus olhos da roupa manchada para fitar um sorriso raro nos lábios do guardião sempre tão mau humorado.

- Criando novas e boas memórias.

- Isso não vai ficar assim! Não vai mesmo... - ela gargalhou e revidou a provocação, jogando tinta na roupa impecável dele, interpretando perfeitamente o que estava acontecendo ali, estava lhe fazendo rir, estava transformando sua tristeza em felicidade.

Em questão de segundos, eles estavam em uma guerrinha que havia resultado em muitos respingos de tinta em suas roupas, corpos e no quarto por inteiro. Eles riam e gargalhavam com alegria.

No meio da brincadeira Austin a puxou, e enrolou-a em seus braços, fazendo cócegas em seu corpo enquanto ela se debatia como uma criança.

- Para... Para... - nos breves espaços que tinha entre uma risada e outra, fugiu e ficou recuando com os braços pedindo distância. Jogava a cabeça e gargalhavam ainda mais, enquanto em silêncio ele ficou estacado admirando o som gostoso de sua risada.

- Linda... - murmurou encarando-a com carinha de bobo, ela sem perceber a forma fofa que era encarada, ria livremente enquanto colocava uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

- Você é um idiota. - brincalhona ela deu um soquinho no ombro dele, com um sorriso lindo iluminando seu rosto de traços perfeitos. Ele ficou admirando ela sorrir por um tempo e antes que se desse conta, puxou-a pela nuca e colou seus lábios em um beijo calmo e apaixonado.

- Nossa... - murmurou ela quando se afastaram, seus lábios estavam vermelhos por conta do beijo e levemente entreabertos, os olhos fechados.

- Droga, me desculpe... - ele parecia aturdido com suas próprias atitudes, pela primeira vez em sua vida agira com o coração e se dera conta de que era tarde demais para fingir não sentir nada por aquela humana. - Eu...

- Cale a boca. - pediu, percebendo que ele estava recuando e erguendo barreiras como sempre fazia. - E me beija. -Olhando-a diretamente nos olhos, Austin demonstrou confusão por seus olhos. E continuou estático, imaginado se era uma mera brincadeira da garota que raramente levava algo a sério ou ela estava sendo sincera no pedido. - Tão inteligente para algumas coisas e tão lerdo para outras. - Cassie revirou os olhos e riu de forma zombateira. Literalmente correndo até ele e grudando seus lábios sem sequer dar lhe tempo de falar.

Com um movimento rápido e sem desgrudar seus corpos, Austin trocou suas posições e a pressionou contra a parede, assumindo as redes da situação enquanto colocava os braços dela para cima e a beijava com todo o desejo do mundo.

Enquanto isso, no quarto ao lado a tristeza transbordava dentro de Sebastian, ele se encontrava encolhido com as costas escoradas em sua cama, enquanto todo o resto de seu quarto estava destruído por um ataque de fúria. Se sentia perdido como nunca antes e tudo porque havia pedido o amor da sua vida. A única mulher que ele amara.

- Por favor... - espremendo suas mãos, com o rosto banhado por lágrimas sinceras, ele implorava para alguém que sequer ouvia seu apelo. A cena era digna de um Oscar de drama. - Por favor, princesa... Volta pra mim.

Ainda se lembrava dos momentos que tivera ao lado dela, ainda se lembrava de sua doçura, de sua risada, do seu brilho e de seu coração genuíno. Se lembrava enquanto chorava e sua mente trazendo cada detalhe de Mia Stone, o torturava e o fazia chorar feito criança, e ainda tinha gente que se atrevia a dizer que homem não chorava. Isso porque jamais havia conhecido uma mulher extraordinária, estas, fazia o mais durão dos homens chorar feito bebê.

cachos ruivos, olhos verdes e o sorriso mais amável e sapeca que já virá em toda sua existência. Era por aquele anjo que sofria.

Em terras distantes dali, deitada sobre uma cama, alguém sentiu a mesma dor tamanha. Como se compartilhasse do mesmo coração,   sem saber o porquê, uma garota sofria, espremendo um travesseiro contra o rosto enquanto as lágrimas escorriam. Mia não sabia, mas também sentia.

Quartos diferentes, posições diferentes, mas como em uma tela de televisão dividida ao meio, duas cenas de sofrimento era passada, duas pessoas que estavam ligados pelo amor, compartilhando dos mesmos motivos para por amor chorar. 

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora