(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoado

Capítulo onze

Seis minutos depois, Austin já havia encostado em sua casa, ou melhor, na casa que Colin havia emprestado para ele e Sebastian em sua jornada na terra. Tal como seu carro. Quando entrou na sala, seu ex inimigo estava sentado desleixadamente no sofá, bebendo de forma desesperada de uma garrafa, seu estado denunciava que aquela, não era a primeira. O guardião parou no batente da porta, com os braços cruzados e o olhar crítico.

  - Qual é o seu problema?

  - Fora o fato de que minha namorada não lembra de quem eu sou? Tem também o fato de que ela morreu e voltou a vida. - ele retirou rapidamente a garrafa da boca, sem nem olhar para ele, falou e voltou a beber, não antes de soltar uma risada sem humor algum.

  - Você deveria estar lá cuidando dela, você sabe que Charles está por perto.  - Austin se sentiu um tanto mal pela forma amargurada do outro, nunca pensou que fosse doer nele vendo o seu antigo rival tão vulnerável. Não era como se agora eles fossem amigos, mas estiveram dezessete anos do mesmo lado e mesmo que negasse, não considerava mais Sebastian uma ameaça ou o inimigo. Ele havia se acostumado a tê-lo por perto, não que fosse admitir isso em voz alta.

  - Mas você estava lá. Você sempre está lá. - Sebastian deu mais um longo gole, dando de ombros, era nítido que havia algo de oculto em suas palavras. Ele estava com raiva...

  - Sobre o que é isso? - Perguntou Austin, não era burro e sabia que além de tudo, havia algo a mais, era como se o bruxo estivesse lhe alfinetando.

  - Da maldita missão que tirou a vida de Mia! - Finalmente ele fixou seus olhos no guardião, neles, sua raiva era intensa. Sua voz também havia se alterado um bocado. - Vocês deveriam ter me contado, se o tivessem feito, nada disso estaria acontecendo. Mas não, agiram pelas minhas costas e você não fez absolutamente nada para impedi-la, guardião. Era o seu dever manter Mia segura!

  - Mia é a rainha, é ela quem decide. - Austin suspirou, ele estava tentando manter a calma, afinal, era evidente que o outro estava bêbado.

  - Que se dane a droga da decisão dela! Se eu estivesse lá, ela não teria morrido. Nunca. - Ele jogou a garrafa no chão, a mesma se quebrou imediatamente, em seguida o jovem abaixou sua cabeça e quando a ergueu novamente, havia lágrimas em seus olhos, suas feições estavam abatidas, ele parecia cansado, como se tivesse perdido uma batalha. - Eu nem tive a chance de dizer adeus... - murmurou baixo. Era óbvio que doía. - Eu deveria estar lá com ela.

  Ele caiu de joelhos, e começou a juntar os cacos da garrafa de forma frenética, como se aquilo o fizesse melhorar. Em pé ao lado dele, Austin mordeu seu lábio com força, sem saber o que fazer. Seu maior inimigo estava ali. Ajoelhado diante dele. Sofrendo. Por algo que ele também sofria, a dor do outro não lhe era nada satisfatória. Uma certa lembrança voltou para sua mente.

  Cassandra estava caída ao chão, chorando completamente sem forças, Austin havia soltado um grito de dor, que ecoou por tudo, agudo, mas incapaz de aliviar o que sentia. Doía tanto que ele pensou que fosse morrer. Ela estava morta. Sua princesa estava morta. Sua melhor amiga.

  - Guardião.... - a rainha do reino congelado o puxava pelos braços e pela camiseta, tentando tira-lo de cima do cadáver. Havia retirado o corpo dela das águas do rio, e espremia o corpo sem vida contra seu próprio, chorando como uma criança.

  No meio da dor que atingia os amigos da garota morta direto no coração, uma ventania começou, algo sobrevoou o céu e ganhou forma quando pousou no chão. Um azarão negro, com crinas compridas, penteadas e brilhantes. Ele era sombrio e muito bonito. Sobre ele um bruxo, não qualquer bruxo, o príncipe deles.

  Ao ver o corpo de sua amada caída ao chão, Sebastian não agiu diferente de seu grupo, ele correu em câmera lenta, empurrando tudo o que entrasse em seu caminho. Pela primeira vez a dor dominava sua face, as lágrimas caiam com tanta velocidade, que pareciam chuva. O sofrimento era muito, e mútuo, todos sofriam. Aquela menina, era a luz de suas vidas, quando ela partiu, só sobrou escuridão.