20• I don't know

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“Algo está errado, eu sinto como uma presa, eu quero rezar
Algo está errado, eu sinto como uma presa, eu sinto que preciso rezar”

(Prey — The Neighbourhood )

•••♣•••

Michael sabia que as coisas estavam ficando piores no momento em que recebeu aquela ligação. Ele sabia que haviam sido seguidos quando chegaram naquele pub, desde o momento em que estacionaram, mas achou que trocar o terno de Luke pela sua jaqueta, o fazer ficar a maior parte do tempo virado de costas de onde poderiam ver seu rosto e ficar o mais junto de pessoas possível pudesse fazer com que perdessem ele de vista. Ele só não imaginaria que não era a máfia que os estavam perseguindo e sim o imitador.

Ele roía as unhas enquanto pensava no que iria fazer. A loja ainda estava fechada, já que Ashton havia sumido e pela mensagem que havia mandado, tinha levantado e já havia saído pelo mundo para fazer cobranças. Não que Michael se importasse, mas às vezes, ele queria que Ashton não fosse tão literal ao sentido do seu trabalho. Às vezes, ele queria que Ashton não tivesse entrado em toda essa confusão de máfia, mas ele também não poderia ser aquele quem o julgaria. Michael nunca o julgaria por suas escolhas. Mesmo que as odiasse, Michael nunca faria o seu irmão se sentir ressentido por ter tentado algo que os ajudasse e que pudesse cuidar de Alana, mesmo que ela não quisesse ser cuidada.

Talvez seja essa a questão de Ashton ainda não ter tido posição tão drástica a respeito de Michael estar andando por aí com um policial — ele odeia policiais em geral —,  dormindo com este mesmo dito cujo e correndo riscos. Ele sabia que os dois estavam cuidando do caso de alguém que a havia matado, matado Alana e tudo o que ela significava para ele. O seu irmão não gostava de falar dela e muito menos explicar o que passava na sua cabeça depois que ela morreu, mas Michael sabia. Michael sabia que ele estava uma bagunça, estava de luto mesmo que eles já não fossem nada um para o outro há tempos. Mesmo que Ashton estivesse seguindo em frente, conhecendo alguém novo, a dor de perder alguém ainda é algo tangente, algo que bate no seu interior. Ashton só era forte o suficiente para não deixar que o vissem assim, para que o temessem e não temessem por ele.

Michael imaginava que Luke e Ashton trabalhavam de formas parecidas às vezes. Não é a toa que seu irmão e ele se odiavam. Eles eram parecidos demais para darem cabeçadas um no outro. Michael não se importava com isso. Ele não se importava em ter de cuidar de Luke porque ele também cuidava de Ashton. Ele temia por Luke como temia por Ashton. Mas de maneiras completamente diferentes.

Ashton, seu irmão, vivia um trabalho onde não há um desistir, você trabalha até quando puder e quando não pode mais, pontas soltas não eram uma opção. Ashton seria apagado. Michael, seu pai, a mãe dele e os irmãos dos dois lembrariam, mas o mundo não ia saber quem ele foi. O que não mudava o peso dessa verdade. O que não mudava o peso da mentira que ele e Ashton estavam mantendo para seus familiares pra que não sofressem por Ashton.

Luke, o policial irritante, mentia para sobreviver. Fingia que nada acontecia por debaixo da sua casca porque era mais fácil ser o melhor policial, mais fácil ser o pior irmão e pior noivo, mais fácil ser aquele que as pessoas não se aproximam do que lidar com a sua mente confusa. Michael também sentia estar mantendo uma mentira com Luke. Uma mentira onde ele sabe o que acontece, mas finge que não sabe, assim como Luke finge que não sabe que ele sabe, esperando o pior acontecer. Ele não quer ver o pior acontecer, mas ele sabe que é inevitável. Luke é inevitável, Luke é fácil de ler, mas complicado de interpretar. Ele lhe entrega pedaços, fragmentos, citações de seu eu e espera que Michael os descubra. Da mesma forma que Jonathan já sabia que Michael conhecia Luke, Hemmings sabia que Michael o interpretaria. Ele só não sabe se isso é algo intencional, ou ele nem notava isso.

Monster • MukeWhere stories live. Discover now