23• Side effects

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Você não pode ser tão cuidadoso
Quando tudo isso está esperando por você
Não irá se aproximar ainda mais
Você vai ter que alcançar um pouco mais
Mais, mais, mais, mais

[...]

A verdade nunca me libertou
Então eu mesma farei isso”

(Careful — Paramore)

•••♣•••

Michael sempre gostou de histórias. Desde de pequeno, sempre achava interessante como palavras tinham poder, como letras e mais letras e frases e mais frases e parágrafos e mais parágrafos poderiam ser tão poderosos e tão transformadores. Ele também gostava muito de ouvir histórias. Seu pai, desde o dia em que Michael se mudou para viver com a madrasta e ele, sempre gostou de narrar coisas, ocorridos que Michael não conhecia muito, mas imaginava e se encantava de poder ouvir. Talvez foi aí que ele tenha descoberto como ele era autodidata, já que ele podia notar apenas por uma respiração diferente, quando seu pai estava mentindo (havia lido um livro sobre linguagem corporal naquela mesma manhã e nunca mais encarou o mundo da mesma forma).

Mas a questão é que, as melhores histórias para ele eram as de suspense. Mistérios sempre o instigava, a ideia de raciocinar a respeito de um caso, atrás de um culpado, isso era um tesouro para Michael Clifford. Ashton às vezes o achava precioso, pois muitas vezes precisava de sua intuição para escolher os homens com quem trabalharia. Nunca ninguém na máfia soube disso, mas Michael com toda certeza era o analista de seu irmão. Ele poderia notar com um arquear de sobrancelha quando alguém o estava enganando e isso era valioso, seu irmão sempre soube disso. Michael não era o cara que guiava uma história, mas ele era quem a analisava. Michael era quem descobria coisas.

E naquele instante, encarando Jonathan em frente ao seu portão, com um olhar frio e totalmente raivoso, Michael sabia que teria de lidar com mais um jogo mental digno de um livro de suspense.

Não que já não tivesse passado na cabeça dele que Luke houvesse machucado o irmão de propósito — Estaria mentindo se negasse —, mas ele também convivia com Luke, então, mesmo não o conhecendo suficiente para dizer sobre a relação dele com irmão, mas convivendo com o efeito colateral do acidente de Jack, Michael não conseguia enxergar o policial como alguém que ferisse o irmão por livre e espontânea vontade e por pura maldade. Ele havia visto como Luke olhava os irmãos, sabia que mesmo fugindo deles, Luke os amava, isso Jonathan também sabia, mas talvez, não tenha notado como Michael.

— Posso entrar? — Jonathan Montez, ex noivo de Luke, pergunta.

Michael olhava para o rosto do advogado e procurava algo que lhe desse sinal de algum jogo — Michael assistiu séries o suficiente e já foi jurado de julgamento duas vezes para saber como funcionava a dinâmica de um advogado — mas não encontrou nada além de rancor. Aquele em sua frente era um homem amargo e ele não poderia fazer nada além de se sentir culpado. Ele havia sido parte do motivo de seu rancor.

Não era porque ele acreditava que o ex de Luke fosse capaz de o ferir, mas sim porque não confiava nele, que Michael hesitou em o deixar entrar. A loja, onde geralmente ele se viam, era um lugar onde pessoas passavam e era basicamente neutro. Jonathan não poderia se exceder e nem ele. Mas aquele portão da garagem dava acesso às escadas de sua casa e de seu irmão. Aquele não era um terreno neutro, aquele era o território dele, Michael. Se eles estivessem em um jogo de xadrez, Michael estaria em alerta, qualquer jogada equivocada, causaria a perda do jogo. Por isso mesmo que ele precisava pensar em algo que deixasse Jonathan o mais longe possível de sua casa.

Monster • MukeWhere stories live. Discover now