22• I want to talk about Luke

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E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”

(Autopsicografia — Fernando Pessoa)

•••♣•••

A cabeça de Luke latejava assim que acordou. Assim como também sentia uma dor insuportável no ombro, o fazendo lembrar da manhã difícil que havia tido. As luzes estavam apagadas no seu quarto, então tudo ali estava envolto em escuridão. A sensação pesava em seu peito assim como a ideia de claustrofobia ao notar a janela e porta fechadas. Não havia nenhum ponto luminoso ali, nem mesmo uma luz no corredor, o que ele geralmente deixava por não gostar de ficar completamente no escuro. Sua cabeça doía tanto que provavelmente teria de arranjar uma forma de se levantar e buscar algum remédio para dor contra a sua vontade.

A tela do seu celular acendeu assim que começou a vibrar. Calum estava ligando e Luke tinha certeza que era por que ele queria vir com mais conversas cansativas sobre Michael ou sobre como ele era irresponsável. Honestamente, Luke não tinha mais paciência para essas conversas, não quando tudo o que Calum faz é apontar o dedo na sua cara, o fazendo se sentir estúpido e ignorante. Luke amava o melhor amigo, mas odiava se sentir assim porque Calum não gostava de suas escolhas.

Ele pegou o celular e aceitou a chamada, vendo que estava perto das seis da manhã, notando que havia dormido demais. Olhando para a sua volta, e como tudo estava escuro, com toda certeza, o dia estava nublado e chuvoso.

— Me diga que tem algo bom para me dizer, Calum. — Foi a primeira coisa que disse desde que acordou e sentia a voz áspera.

Tirar uma folga definitivamente não ajuda em nada no seu humor. — Calum disse sorrindo, mas Luke sabia que ele não estava feliz de verdade. — Está melhor?

— Eu sei que algo está errado, é melhor me falar o que é. — Não respondeu a pergunta, Hood sabia muito bem que mudar de assunto não ajudaria.

Ele pôde ouvir um suspiro e então um choramingar. Isso era novo.

Niall analisou algumas coisas das vítimas e obviamente não achou nada que as ligassem, mas a forma como elas aparentam e são jogadas, têm um padrão. — Ele respondeu baixo. Pela forma como não havia nenhum telefone tocando e nenhuma conversa, Luke sabia que ele ainda estava em casa. Pelo tom de voz, não havia dormido também. — Acho que as cartas eram a distração, algo para brincar com a sua mente, um jogo mental, quando as pistas estavam nos corpos.

Luke sabia disso. Luke sabia de tudo isso. O que não deixava nada mais fácil. Por mais que sempre acordasse com a cabeça imersa no trabalho, hoje, Luke não queria pensar a respeito. Ele queria poder acordar, ver sua mãe e passar um tempo na sua presença. Queria ter certeza que Elizabeth Hemmings estava bem, que estava intacta e ouvir como era difícil lidar com o clima da cidade e manter uma horta. Pela primeira vez, ele não estava se importando com a presença de Ben, porque ele também estava preocupado com o irmão. Luke pela primeira vez, queria se afastar do pensamento do trabalho. O que era tremendamente assustador.

— Em quê temos um padrão? — Usou sua voz analítica, já que não queria mostrar como isso o desanimou.  — Quero dizer, elas teriam de ter, mas acho que tudo o que ele faz é um conjunto. Ele está compondo uma história, uma cena. Os corpos são os atores, onde representam papéis de pessoas que provavelmente são importantes para mim; as cartas o roteiro.

Monster • MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora